terça-feira, 2 de março de 2021

O BASE MAO MUDOU DE ENDEREÇO!


BASE MAO: o espectro ainda ronda

Em 29 de julho de 2019, um grupo de desconhecidos resolveu desafiar o traço dominante de sua cidade: o silêncio. Este paira sobre ela desde tempos imemoriais, de modo que não admira os muitos mecanismos que essa cidade desenvolveu para abafar qualquer ruído. O resultado disso foi uma população amortecida, em que as raras iniciativas contra a ordem estabelecida são efêmeras, não encontrando solo fértil para se desenvolverem. No plano político, o seu desdobramento é a condição estática, uma vez que a população se limita a assistir a alternância de oligarquias no poder, as quais não acarretam nenhuma alteração estrutural.

Não obstante, se o contexto local não é favorável, tampouco o era o cenário geral. O mundo ocidental, como um todo, vivia o fim das ilusões socialdemocratas. E o país, àquela altura, já tinha se atirado no abismo em que se encontra, refutando de vez qualquer resquício da natureza cordial apontada por Sérgio Buarque de Hollanda em Raízes do Brasil. Antes, a animosidade vista se assemelha mais à cadela no cio da qual falava Brecht.

Absurda, portanto, foi a empreitada do tal grupo: criar um espaço para falar. Mas falar o quê? Ora, toda palavra que quisesse ser dita, independentemente de que gênero for. O importante era não mais se resignar a mudez. Assim, sem censura, tabu, ou chefe, o Base Mao fez-se. Um trabalho hercúleo, sem dúvida, pois além de falar é preciso procurar diuturnamente quem ouça.

Diante de tantas adversidades, a trajetória do Base Mao foi marcada por hiatos. Em cada um deles, os opositores logo se apressavam em anunciar a morte do blog. Mas o espectro continuava rondando. Nunca desistir, era o seu pensamento.

Agora, quando a antiga sociedade entra em colapso, o Base Mao retorna para movimentar as ideias. Mantendo a linha combativa que sempre teve, embasada na ciência do proletariado desenvolvida por Marx-Engels, se consolida como um espaço livre para o diálogo — teórico ou estético — entre as bases políticas. As mudanças foram poucas, mas significativas. Primeiro, estamos em novo endereço: do basemao.blogspot.com migramos para o medium.com/basemao. Segundo, contamos agora com uma equipe fixa de colaboradores, que manterão as rodas girando a despeito das intempéries, o que não descartará colaborações esporádicas que podem ser feitas através do e-mail basemao2019@gmail.com.

No mais, segue a mesma presunção de outrora, firme na crença do impossível, indo assim na contramão do discurso derrotista que assola as organizações canhotas Brasil afora.

Juntos, seguimos.

Hasta la victoria siempre.

 

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Novo endereço: medium.com/basemao

sábado, 6 de fevereiro de 2021

A velha política no novo Amon, por Elder Monteiro

Amon (PODEMOS), vereador
A velha política no novo Amon
 Por Elder Monteiro
 Professor e Sociólogo
 
Minha experiência como sociólogo e amante das questões relacionadas a sociedade me fazem afirmar que uma das questões mais complexas de entendimento para as pessoas tem a ver com a diferença ou nuances entre os aspectos individuais e os estruturais. Afinal, o que define você, caro leitor, suas escolhas ou as questões relacionadas a sua família, amigos ou demais aspectos sociais? Esse é um problema clássico na sociologia e sua resposta está contida num gradiente que vai dos aspectos mais individuais aos mais coletivos. Apesar disso, sabe-se que a solução desse problema não é estanque. Sob estas condições, não seria possível fazer afirmações extremas, tais como: “tudo que sou é fruto das minhas escolhas” ou “tudo que sou é fruto da minha família ou dos meus amigos”. Ao contrário disso, a experiência na compreensão das ações sociais faz perceber que cada caso possui sua própria teia intrincada de fatores.

Certamente, cada um dos que estão lendo esse texto já teve contato com algum tipo de jogo, tais como: xadrez, baralho, uno (adoro!), futsal, vôlei, handebol, entre outros. Todo jogador precisa de alguns pré-requisitos para entrar num jogo com condições de disputá-lo. Podemos citar algumas básicas: a) conhecer as regras; b) habilidades mínimas que exigem, inclusive, o conhecimento de usar as regras a seu favor ou de seu grupo; c) posso citar algo imponderável: sorte; d) Por último, e se for disputar valendo algo, são necessárias condições materiais. A política possui regras similares. O bom jogador deve possuir os pré-requisitos mínimos. Nicolau Maquiavel foi o primeiro autor moderno a apresentar as regras da política e a maneira como o animal político (zoon politikon) deveria lidar com cada uma delas. Noutras palavras, poderíamos afirmar que muitos autores avaliaram a política como eles gostariam que ela fosse, mas foi Maquiavel o responsável por apresentá-la como ela realmente é. Assim, o florentino nos mostrou as vísceras da política e o que vimos não foi - digamos assim - muito agradável. Estudar O príncipe e tornar-se um player (jogador) da política faz o indivíduo curioso refletir sobre a relação entre as regras e os jogadores ou, sob outro olhar, a relação entre as estruturas e os indivíduos.

E o Amon com isso? Pera, agoniado! Segue comigo! O resultado das eleições municipais de 2020 apresentou algumas “novidades” para a Câmara Municipal de Manaus – CMM. Os meios de comunicação de Manaus alardearam que houve uma renovação de quase 60%. Entretanto, para um observador mais atento, não foi bem assim. É verdade que os rostos são novos, mas continuam fortalecendo os antigos grupos políticos que constroem Manaus e o Amazonas a partir de antigas práticas e ideias. Fazer um panorama desses partidos demandaria outro texto. Apesar disso, é possível afirmar que 74% dos novos rostos da CMM faz parte de partidos ligados ao chamado Centrão, conglomerado de partidos com articulação nacional que tende a apoiar quem estiver no poder em troca de cargos políticos. Então, caros leitores, Amon está filiado ao Podemos, partido que tende a compor esse Centrão. Entretanto, o contexto político onde Amon se meteu apresenta outros elementos igualmente importantes e tendem a influenciar a sua caminhada política.

1) É um rosto novo da política. Sim, não podemos negar. Amon realmente é uma novidade pensando do ponto de vista individual. Isso é um aspecto positivo e também negativo, no caso do Amon. Positivo porque o atual contexto político brasileiro ainda percebe com bons olhos os novos rostos que se apresentam para ocupar os espaços de poder. As críticas intensas as formas de organização político-democráticas fazem com que o “novo” apareça como uma esperança de mudança. Mais recentemente esse aspecto positivo dialogou com uma atuação política ativa do Mandato de Amon frente ao caos que Manaus estava vivendo. Amon poderia seguir os mesmos passos dos novos rostos da política amazonense dentro dos partidos tradicionais que ficam “na sua” e vão assumindo os cargos. Pronto! Resolvido! Mas não! A atuação ativa de Amon preencheu um espaço que a população manauara é órfã, qual seja, a de políticos propositivos de oposição. Sob esta condição, vimos uma enxurrada de elogios nas redes sociais ao neófito e, ao que parece, ele se empolgou. Pior que isso: alguém o deixou se empolgar propositalmente com o objetivo de cumprir objetivos outros. Por outro lado, podemos evidenciar o aspecto negativo de ser um rosto novo na política: no caso do Amon, será manter a expectativa constituída pela sua atuação inicial. Ele não poderá! Ele se empolgou e foi com muita sede ao pote aparentemente sem avaliar os demais aspectos descritos abaixo.

2) Faz parte de um velho grupo. Amon entrou na política institucional a partir de um partido denominado Podemos, ex-PTN. Então, atualmente é o partido de Amazonino Mendes, adversário de David Almeida (Avante) no Segundo Turno das eleições de 2020. Essa conjuntura também contribuiu para a possível ousadia de Amon ao criticar o atual prefeito, pois, em tese, ele ainda é oposição. Vale ressaltar que o Podemos apoiou David Almeida para o governo nas eleições de 2018. Tudo isso é confuso? É mesmo! Não é fácil avaliar a política amazonense, pois os partidos tradicionais e os políticos mudam conforme o vento do poder. Como dizem, a política amazonense não é para principiante. Assim, colegas, Amon está contido dentro de um grupo político que possui uma história e, com isso, um modus operandi a ser seguido. A estrutura (política) cobra uma postura do indivíduo (Amon). A permanência de Amon nesse grupo político faz com que ele siga o “padrão Amazonino” de política no mandato dele e o seu gabinete, certamente, já deve estar cheio de assessores da base aliada desse político citado. A sua ação política, inclusive a seleção para o gabinete dele, tem que servir para dar condições políticas a Amazonino e a seu grupo. Ao fim e ao cabo, apoiar Amon é servir como base às articulações de Amazonino e, com isso, dar condições da existência de políticos como Omar Aziz, Eduardo Braga, Alfredo Nascimento e similares.

3) Por fim, citarei o ponto mais forte e o mais fraco de Amon: a sua família. Para o grupo político com o qual se meteu, tem que ter condições materiais e políticas de barganha. A família de Amon tem uma relação estreita com o alto escalão do poder judiciário amazonense. Esse dado habilita política e materialmente um jogador para iniciar o jogo. Amon teve um grande empurrão nesse aspecto. O conhecimento das regras e as habilidades necessárias pode ter a ajuda de assessores mais experientes. Com relação ao aspecto “sorte”, não depende de regras, obviamente. Na campanha eleitoral de 2020, Amon foi um dos candidatos que mais recebeu doações. Mais de 300 mil reais. Seu avô doou mais de 40 mil e as doações familiares seguem. Me permitam uma pequena divagação para informar que, a título de comparação, a Bancada Coletiva (PSOL) recebeu quase 5 vezes a menos e obteve mais votos que o Amon. O fenômeno Bancada Coletiva merece uma análise específica. Sigamos. Por outro lado, o fato de sua família ter determinada inserção em espaços de poder, faz com que essa mesma família seja muito vigiada e será cobrada pelos possíveis equívocos realizados no passado, no presente e no futuro. Noutras palavras, Amon terá que fazer os cálculos quando for atuar contra um ou outro grupo de poder, pois a entrada dele no cenário político expõe os seus familiares e players do judiciários que costumam trabalhar nos bastidores do poder amazonense. Não sei se Amon percebeu isso, mas é prática comum por parte das antigas dinastias políticas amazonenses o ataque direto aos familiares “não-políticos” dos seus adversários. Um exemplo disso foi o que ocorreu quando eu ainda escrevia esse texto, qual seja, os grupos políticos foram vasculhar os contratos sob a responsabilidade da instituição comandada por um familiar de Amon para colocar esse último em xeque. Serviu como recado para o recém-vereador: se você tretar conosco, nós vamos tretar com você e a sua família. 

Portanto, levando em consideração o que foi apresentado, é possível afirmar que o político Amon possui aspectos inovadores com data de validade muito próxima do fim, pois o seu mandato não pode destoar das práticas estabelecidas pelo grupo no qual se vinculou. A continuidade das suas ações como se fosse um Marcelo Freixo (PSOL/RJ) de Manaus certamente o levaria a uma quebra com sua própria organização política e isso certamente traria problemas para a sua própria família por conta das inserções desta nos espaços de poder amazonense. Noutras palavras, Amon é o indivíduo dentro da estrutura da política amazonense e, infelizmente, a sua tendência é ficar “pianinho” para os desmandos do seu próprio grupo. A regra é clara, diria ironicamente e arnaldamente Maquiavel. É, caro leitor, infelizmente Amon é o mais novo representante de uma velha estrutura que o ajudou na eleição. Gostaria de dizer coisa diferente, mas a fatura está chegando e o jovem Amon tenderá a seguir os mesmos passos dos outros novos rostinho que cometeram o equívoco de realizar trocas políticas com os velhos grupos que dominam a política local.

domingo, 31 de janeiro de 2021

Sidney Leite declara voto ao candidato do Bolsonaro na Câmara dos Deputados Federais, por Jonas Araújo

 

Croqui do Congresso Nacional, de Oscar Niemeyer

Sidney Leite declara voto ao candidato do Bolsonaro na Câmara dos Deputados Federais
por Jonas Araújo

O Deputado Federal Sidney Leite, do Amazonas, resolveu declarar voto no Arthur Lira para a Presidência da Câmara dos Deputados.

Para quem não está acompanhando essas eleições aí vai uma análise rápida. 

1. A câmara dos deputados faz parte do poder legislativo que tem por função fiscalizar e aprovar leis no Brasil. 

2. Cabe a câmara dos Deputados Federais investigar ações do Executivo que estejam em desacordo com a legislação brasileira. Como por exemplo o envolvimento da família do presidente no assassinato da vereadora Marielle Franco. Ou o fato do presidente ter preferido gastar milhões em leite condensado em vez de comprar oxigênio para Manaus. Entre vários outros abusos de poder.

3. Hoje na câmara dos deputados existem mais de 50 pedidos de Impechment do Bolsonaro por todos os absurdos feitos pelo atual presidente.

4.Esta eleição ocorrerá em dois turnos.

5. Arthur Lira(PP-AL) é o candidato de Bolsonaro. Se ele for eleito a câmara dos deputados federais vai virar um anexo da presidência da república. Bolsonaro quer apoio da câmara para mudar a forma de eleição no Brasil e se manter no poder.

6 Baleia Rossi (MDB- SP) é o candidato de Rodrigo Maia (atual presidente da Câmara). Defensor da política econômica da PEC de gastos públicos, reforma tributária e etc. Rodrigo Maia afirma que  Rossi vai manter a ordem democrática.

7. Luiza Erundina (PSOL-SP) é a candidata socialista que defende o impechment do Bolsonaro e a revogação das medidas absurdas dos governos Temer e Bolsonaro.

8.  A direita tem mais dois candidatos: Fábio Ramalho (MDB-MG) e Alexandre Frota (PSDB).

9. A Extrema direita tem mais três candidatos:  André Janones (Avante-MG), General Peternelli (PSL-SP) e Marcel Van (Novo- RS).

Essas eleições são tão importantes quanto as eleições municipais que ocorreram ano passado. Faço a avaliação que o PSOL acertou em manter a candidatura da Luiza Erundina e apresentar o programa do partido no primeiro turno  e no segundo votar no anti-bolsonarismo.



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Jonas Araújo é Professor da Rede Municipal de Ensino em Manaus; Membro da Oposição Sindical  dos professores; e Presidente do PSOL - Manaus.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Nunca mais vote usando o fígado!, por Elder Monteiro

 


Nunca mais vote usando o fígado!

Por Elder Monteiro
Professor e Sociólogo

A metáfora do título é atribuída a Ulisses Guimaraes e, apesar das minhas diferenças com o político citado, tenho acordo com a afirmação em questão. Desde muito cedo aprendemos que não é bom buscar resolver problemas de “cabeça quente”. A combinação descontrolada entre raiva, ódio, amor e a resolução de problemas pode não ser recomendável e, ainda, pode causar consequências bastante indesejadas. Noutras palavras, e esse é o foco da discussão proposta, a relação entre paixões e política pode trazer graves problemas.

Quando mais jovem, eu me fazia presente na maioria dos rolês de futsal dos meus amigos do bairro Matinha, em Manaus (AM). Eram momentos divertidos, mas que também traziam consigo situações conflituosas. Era comum a divergência na hora de uma suposta falta/infração, na saída da bola das quatro linhas e, infelizmente, encontro entre inimigos. Quem já praticou algum esporte coletivo deve saber que no momento da definição de um conflito, não existe certo ou errado. O que interessa é quem ganhará a vantagem a qualquer custo. Naqueles momentos até as regras éticas de comportamento se tornam estranhas. O resultado da insistência na contradição em relação a posição das partes em conflito é, em geral, às vias de fato ou o seu quase acontecimento e, com isso, o fim da atividade. Não poucas vezes isso ocorreu e o dono da bola pula logo para resgatá-la e, assim, dar fim ao tormento que a mesma se encontra. Isso me irritava tanto! Perdi a conta das vezes que ajudei a separar brigas por causa de coisa bobas e que dariam fim aquele momento prazeroso. Para além dessas questões e de outras coisa que giravam em torno de uma briga, gostaria de chamar a atenção para uma questão: a tentativa de resolução través das paixões. Nunca deu muito certo e o resultado era o fim do jogo. A maioria saia prejudicado. Talvez os únicos contentes eram os diretamente envolvidos no conflito, pois isso satisfazia os seus egos.

Essa pequena lição pode servir para pensar as nossas ações políticas. Mas isso não é uma novidade. Desde a filosofia clássica, há o alerta para o perigo de misturar razão e paixões. Numa leitura socrática, poderíamos até afirmar que a confusão entre um e outro seria o grande “pecado” da humanidade. Ao ler o clássico O príncipe, percebemos uma alta dosagem de calculismo nas sugestões propostas por Maquiavel para quem deseja enveredar pela política. Sob estas condições, não seria um exagero compreender que entre as lições da filosofia clássica e do pai da ciência política moderna está o cuidado em lidar com as paixões na hora das decisões políticas e na vida, como um todo. Digo cuidado porque outros clássicos modernos como Max Weber reconhecem e reconectam os aspectos não-racionais as ações sociais e, portanto, também as ações puramente políticas. (Recomendo a leitura de Política como vocação).

Diante do exposto e entendendo que a relação entre razão e paixões não seja algo simples e estanque, podemos pelo menos sinalizar uma tendência no que se refere a política: use suas paixões com moderação. O contrário disso, pode se tornar uma tragédia e temos exemplos para citar.

A leitura das eleições de 2018 pode ser feita sob várias perspectivas e uma delas tem a ver com a rejeição (eu diria ódio, raiva) a um partido específico, o Partido dos Trabalhadores – PT e a tudo o que tivesse vinculado a ele. As pesquisas demonstravam que cerca de 25% do eleitorado brasileiro votaria em Bolsonaro por conta da rejeição ao PT. Isso sem considerar o eleitorado que votou em branco, nulo ou se absteve por conta desse mesmo motivo. Esses grupos somados contribuíram para a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018. Não é crime ser oposição a um grupo político, mas é um equívoco primário se mover politicamente tendo como uma das principais bases as paixões. Multiplique por dois nos casos em que não há um devido equilíbrios dessas mesmas paixões. Nessa esteira também foi eleito para o Governo do Estado do Amazonas, em 2018, um jornalista que atuava num programa com tendências sensacionalistas, Wilson Lima (PSC). Mais tarde, nas eleições de 2020, foi eleito para a Prefeitura de Manaus o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado Amazonas e base política de um governador cassado por corrupção e atualmente preso, José Melo. Falando especificamente das eleições de 2020 para a prefeitura de Manaus, tínhamos a candidatura de José Ricardo e Marklize (PT/PSOL/REDE/UP), terceira colocada no primeiro turno. Os dados divulgados pelos institutos de pesquisa sobre a rejeição ao PT, em Manaus, diminuíam as chances de vitória nessa capital. Eu arriscaria dizer que era um dos principais entraves de Zé Ricardo e Marklize numa possível disputa do Segundo Turno.

O resultado da confusão ou da má canalização das paixões na política se expressa no desastroso processo político e na má gestão pública que vivemos atualmente. A incompetência, o negacionismo, a omissão, a falta de tato político na esfera federal (Governo Bolsonaro – ex-PSL e agora sem partido) e na estadual (Governo Wilson Lima - PSC) são um total desrespeito aos parentes e familiares dos falecidos por conta de pandemia. Com relação a prefeitura de Manaus, o recém-governo David Almeida (Avante) já aparenta uma péssima relação com a coisa pública através dos indícios de permissão para que os filhos dos ricos de Manaus sejam vacinados antes mesmo dos demais profissionais que estavam na linha de frente do combate ao Covid 19. Todos esses governos foram eleitos democraticamente, mas esse é um outro debate. Sob outro olhar, é possível afirmar que a pandemia só trouxe à tona a maneira irresponsável com que o Estado brasileiro vem sendo gerido historicamente.

Por fim, é importante ressaltar que o voto é livre, mas o resultado advindo dele não o é. O voto é eminentemente individual, mas o resultado dele é eminentemente coletivo. O voto é claramente uma manifestação política e como manifestação política não pode ter como base principal as paixões, principalmente quando essa é mal utilizada. É, assim, que a má relação entre política e paixões podem trazer sérios danos à saúde e, pelo que estamos vivendo, à saúde pública. Por isso, evite usar o fígado em política e quando usar use-a, pelo menos, para o bem coletivo.