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sábado, 6 de fevereiro de 2021

A velha política no novo Amon, por Elder Monteiro

Amon (PODEMOS), vereador
A velha política no novo Amon
 Por Elder Monteiro
 Professor e Sociólogo
 
Minha experiência como sociólogo e amante das questões relacionadas a sociedade me fazem afirmar que uma das questões mais complexas de entendimento para as pessoas tem a ver com a diferença ou nuances entre os aspectos individuais e os estruturais. Afinal, o que define você, caro leitor, suas escolhas ou as questões relacionadas a sua família, amigos ou demais aspectos sociais? Esse é um problema clássico na sociologia e sua resposta está contida num gradiente que vai dos aspectos mais individuais aos mais coletivos. Apesar disso, sabe-se que a solução desse problema não é estanque. Sob estas condições, não seria possível fazer afirmações extremas, tais como: “tudo que sou é fruto das minhas escolhas” ou “tudo que sou é fruto da minha família ou dos meus amigos”. Ao contrário disso, a experiência na compreensão das ações sociais faz perceber que cada caso possui sua própria teia intrincada de fatores.

Certamente, cada um dos que estão lendo esse texto já teve contato com algum tipo de jogo, tais como: xadrez, baralho, uno (adoro!), futsal, vôlei, handebol, entre outros. Todo jogador precisa de alguns pré-requisitos para entrar num jogo com condições de disputá-lo. Podemos citar algumas básicas: a) conhecer as regras; b) habilidades mínimas que exigem, inclusive, o conhecimento de usar as regras a seu favor ou de seu grupo; c) posso citar algo imponderável: sorte; d) Por último, e se for disputar valendo algo, são necessárias condições materiais. A política possui regras similares. O bom jogador deve possuir os pré-requisitos mínimos. Nicolau Maquiavel foi o primeiro autor moderno a apresentar as regras da política e a maneira como o animal político (zoon politikon) deveria lidar com cada uma delas. Noutras palavras, poderíamos afirmar que muitos autores avaliaram a política como eles gostariam que ela fosse, mas foi Maquiavel o responsável por apresentá-la como ela realmente é. Assim, o florentino nos mostrou as vísceras da política e o que vimos não foi - digamos assim - muito agradável. Estudar O príncipe e tornar-se um player (jogador) da política faz o indivíduo curioso refletir sobre a relação entre as regras e os jogadores ou, sob outro olhar, a relação entre as estruturas e os indivíduos.

E o Amon com isso? Pera, agoniado! Segue comigo! O resultado das eleições municipais de 2020 apresentou algumas “novidades” para a Câmara Municipal de Manaus – CMM. Os meios de comunicação de Manaus alardearam que houve uma renovação de quase 60%. Entretanto, para um observador mais atento, não foi bem assim. É verdade que os rostos são novos, mas continuam fortalecendo os antigos grupos políticos que constroem Manaus e o Amazonas a partir de antigas práticas e ideias. Fazer um panorama desses partidos demandaria outro texto. Apesar disso, é possível afirmar que 74% dos novos rostos da CMM faz parte de partidos ligados ao chamado Centrão, conglomerado de partidos com articulação nacional que tende a apoiar quem estiver no poder em troca de cargos políticos. Então, caros leitores, Amon está filiado ao Podemos, partido que tende a compor esse Centrão. Entretanto, o contexto político onde Amon se meteu apresenta outros elementos igualmente importantes e tendem a influenciar a sua caminhada política.

1) É um rosto novo da política. Sim, não podemos negar. Amon realmente é uma novidade pensando do ponto de vista individual. Isso é um aspecto positivo e também negativo, no caso do Amon. Positivo porque o atual contexto político brasileiro ainda percebe com bons olhos os novos rostos que se apresentam para ocupar os espaços de poder. As críticas intensas as formas de organização político-democráticas fazem com que o “novo” apareça como uma esperança de mudança. Mais recentemente esse aspecto positivo dialogou com uma atuação política ativa do Mandato de Amon frente ao caos que Manaus estava vivendo. Amon poderia seguir os mesmos passos dos novos rostos da política amazonense dentro dos partidos tradicionais que ficam “na sua” e vão assumindo os cargos. Pronto! Resolvido! Mas não! A atuação ativa de Amon preencheu um espaço que a população manauara é órfã, qual seja, a de políticos propositivos de oposição. Sob esta condição, vimos uma enxurrada de elogios nas redes sociais ao neófito e, ao que parece, ele se empolgou. Pior que isso: alguém o deixou se empolgar propositalmente com o objetivo de cumprir objetivos outros. Por outro lado, podemos evidenciar o aspecto negativo de ser um rosto novo na política: no caso do Amon, será manter a expectativa constituída pela sua atuação inicial. Ele não poderá! Ele se empolgou e foi com muita sede ao pote aparentemente sem avaliar os demais aspectos descritos abaixo.

2) Faz parte de um velho grupo. Amon entrou na política institucional a partir de um partido denominado Podemos, ex-PTN. Então, atualmente é o partido de Amazonino Mendes, adversário de David Almeida (Avante) no Segundo Turno das eleições de 2020. Essa conjuntura também contribuiu para a possível ousadia de Amon ao criticar o atual prefeito, pois, em tese, ele ainda é oposição. Vale ressaltar que o Podemos apoiou David Almeida para o governo nas eleições de 2018. Tudo isso é confuso? É mesmo! Não é fácil avaliar a política amazonense, pois os partidos tradicionais e os políticos mudam conforme o vento do poder. Como dizem, a política amazonense não é para principiante. Assim, colegas, Amon está contido dentro de um grupo político que possui uma história e, com isso, um modus operandi a ser seguido. A estrutura (política) cobra uma postura do indivíduo (Amon). A permanência de Amon nesse grupo político faz com que ele siga o “padrão Amazonino” de política no mandato dele e o seu gabinete, certamente, já deve estar cheio de assessores da base aliada desse político citado. A sua ação política, inclusive a seleção para o gabinete dele, tem que servir para dar condições políticas a Amazonino e a seu grupo. Ao fim e ao cabo, apoiar Amon é servir como base às articulações de Amazonino e, com isso, dar condições da existência de políticos como Omar Aziz, Eduardo Braga, Alfredo Nascimento e similares.

3) Por fim, citarei o ponto mais forte e o mais fraco de Amon: a sua família. Para o grupo político com o qual se meteu, tem que ter condições materiais e políticas de barganha. A família de Amon tem uma relação estreita com o alto escalão do poder judiciário amazonense. Esse dado habilita política e materialmente um jogador para iniciar o jogo. Amon teve um grande empurrão nesse aspecto. O conhecimento das regras e as habilidades necessárias pode ter a ajuda de assessores mais experientes. Com relação ao aspecto “sorte”, não depende de regras, obviamente. Na campanha eleitoral de 2020, Amon foi um dos candidatos que mais recebeu doações. Mais de 300 mil reais. Seu avô doou mais de 40 mil e as doações familiares seguem. Me permitam uma pequena divagação para informar que, a título de comparação, a Bancada Coletiva (PSOL) recebeu quase 5 vezes a menos e obteve mais votos que o Amon. O fenômeno Bancada Coletiva merece uma análise específica. Sigamos. Por outro lado, o fato de sua família ter determinada inserção em espaços de poder, faz com que essa mesma família seja muito vigiada e será cobrada pelos possíveis equívocos realizados no passado, no presente e no futuro. Noutras palavras, Amon terá que fazer os cálculos quando for atuar contra um ou outro grupo de poder, pois a entrada dele no cenário político expõe os seus familiares e players do judiciários que costumam trabalhar nos bastidores do poder amazonense. Não sei se Amon percebeu isso, mas é prática comum por parte das antigas dinastias políticas amazonenses o ataque direto aos familiares “não-políticos” dos seus adversários. Um exemplo disso foi o que ocorreu quando eu ainda escrevia esse texto, qual seja, os grupos políticos foram vasculhar os contratos sob a responsabilidade da instituição comandada por um familiar de Amon para colocar esse último em xeque. Serviu como recado para o recém-vereador: se você tretar conosco, nós vamos tretar com você e a sua família. 

Portanto, levando em consideração o que foi apresentado, é possível afirmar que o político Amon possui aspectos inovadores com data de validade muito próxima do fim, pois o seu mandato não pode destoar das práticas estabelecidas pelo grupo no qual se vinculou. A continuidade das suas ações como se fosse um Marcelo Freixo (PSOL/RJ) de Manaus certamente o levaria a uma quebra com sua própria organização política e isso certamente traria problemas para a sua própria família por conta das inserções desta nos espaços de poder amazonense. Noutras palavras, Amon é o indivíduo dentro da estrutura da política amazonense e, infelizmente, a sua tendência é ficar “pianinho” para os desmandos do seu próprio grupo. A regra é clara, diria ironicamente e arnaldamente Maquiavel. É, caro leitor, infelizmente Amon é o mais novo representante de uma velha estrutura que o ajudou na eleição. Gostaria de dizer coisa diferente, mas a fatura está chegando e o jovem Amon tenderá a seguir os mesmos passos dos outros novos rostinho que cometeram o equívoco de realizar trocas políticas com os velhos grupos que dominam a política local.

domingo, 31 de janeiro de 2021

Sidney Leite declara voto ao candidato do Bolsonaro na Câmara dos Deputados Federais, por Jonas Araújo

 

Croqui do Congresso Nacional, de Oscar Niemeyer

Sidney Leite declara voto ao candidato do Bolsonaro na Câmara dos Deputados Federais
por Jonas Araújo

O Deputado Federal Sidney Leite, do Amazonas, resolveu declarar voto no Arthur Lira para a Presidência da Câmara dos Deputados.

Para quem não está acompanhando essas eleições aí vai uma análise rápida. 

1. A câmara dos deputados faz parte do poder legislativo que tem por função fiscalizar e aprovar leis no Brasil. 

2. Cabe a câmara dos Deputados Federais investigar ações do Executivo que estejam em desacordo com a legislação brasileira. Como por exemplo o envolvimento da família do presidente no assassinato da vereadora Marielle Franco. Ou o fato do presidente ter preferido gastar milhões em leite condensado em vez de comprar oxigênio para Manaus. Entre vários outros abusos de poder.

3. Hoje na câmara dos deputados existem mais de 50 pedidos de Impechment do Bolsonaro por todos os absurdos feitos pelo atual presidente.

4.Esta eleição ocorrerá em dois turnos.

5. Arthur Lira(PP-AL) é o candidato de Bolsonaro. Se ele for eleito a câmara dos deputados federais vai virar um anexo da presidência da república. Bolsonaro quer apoio da câmara para mudar a forma de eleição no Brasil e se manter no poder.

6 Baleia Rossi (MDB- SP) é o candidato de Rodrigo Maia (atual presidente da Câmara). Defensor da política econômica da PEC de gastos públicos, reforma tributária e etc. Rodrigo Maia afirma que  Rossi vai manter a ordem democrática.

7. Luiza Erundina (PSOL-SP) é a candidata socialista que defende o impechment do Bolsonaro e a revogação das medidas absurdas dos governos Temer e Bolsonaro.

8.  A direita tem mais dois candidatos: Fábio Ramalho (MDB-MG) e Alexandre Frota (PSDB).

9. A Extrema direita tem mais três candidatos:  André Janones (Avante-MG), General Peternelli (PSL-SP) e Marcel Van (Novo- RS).

Essas eleições são tão importantes quanto as eleições municipais que ocorreram ano passado. Faço a avaliação que o PSOL acertou em manter a candidatura da Luiza Erundina e apresentar o programa do partido no primeiro turno  e no segundo votar no anti-bolsonarismo.



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Jonas Araújo é Professor da Rede Municipal de Ensino em Manaus; Membro da Oposição Sindical  dos professores; e Presidente do PSOL - Manaus.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

PIETÀ E O SIMBÓLICO DA MÃE DESAMPARADA, por Diana Brasilis


PIETÀ E O SIMBÓLICO DA MÃE DESAMPARADA
por Diana Brasilis

Com o passar do tempo, a tragédia imposta à Maria em sua intensa dor emocional ao ter no colo seu filho Jesus morto, tornou-se referência no mundo da arte como “Pietà”, que em português significa “Piedade”. Tal referência de Cristo morto amparado nos braços da Santa Maria, Mãe de Deus, ao menos para mim, é o simbólico das mães em tempos sombrios em zonas vermelhas, assolada pelo medo, pela guerra e, consequentemente, o genocídio.

A Pietà de Michelangelo, 1498

Devamos lembrar que na pavorosa história da humanidade, crimes se cometeram em diversos nomes para cobrirem algumas causas iníquas. Foram séculos de barbárie humana em nome de um progresso e expansionismo que ceifou milhões de vidas em diversos lugares do nosso mundo. É conhecido o genocídio nas Américas de povos indígenas proposto por colonizadores europeus; a transladação assassina de diversas etnias do continente africano às Américas para a escravidão humana nos tempos coloniais; o genocídio e mutilações de etnias locais no Congo Belga proposto pelo rei Leopoldo II dos belgas; a limpeza étnica sistemática de hererós e namaquas acometida pelo Império Alemão durante a partilha da África, e que ficou conhecido como “o primeiro genocídio do século XX”; o genocídio armênio cometido pelo Império Turco-Otomano durante a Primeira Guerra Mundial; e a inauguração do genocídio sistemático em escala industrial de judeus, roma e sinti, homossexuais, deficientes mentais, eslavos, opositores políticos e prisioneiros de guerra proposta pelo III Reich durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Sem contar os atuais crimes de guerra cometidos em zonas de conflitos étnicos, miséria e calamidade.

Dentro desses horrores citados é bom salientar que a figura da mãe se tornou digna de uma Pietà. São estas que lutam pela vida de sua prole até o último segundo, que levam na memória os traumas de uma perda trágica ou que não soltam dos braços, nem por um decreto, sua criança à barbárie. 

Na história do Holocausto, muito bem documentada, sobreviventes dos sonderkommando judaicos (comando especial composto por judeus obrigados a conduzir ao matadouro e incinerar o seu próprio povo) relataram que ao abrirem as câmaras de gás, após o assassinato de centenas de pessoas, as cenas eram absurdas, isto é, inconcebíveis para o imaginário humano, pois muitas mães mortas, em meio aos cadáveres, estavam arraigadas ao corpo de seus filhos menores, o que tornava impossível o trabalho de coleta dos cadáveres, tudo isso em meio ao fim de uma luta pela vida que se deu nas câmaras de gás, uns sobre os outros, onde os mais fortes tentavam se sobressaírem sobre os mais fracos como apoio.
Pietà (1450/4) de Giovanni Bellini


Pietà (1889) de Van Gogh

La Pietà (1982) de Salvador Dalí