terça-feira, 31 de março de 2020

Dialética do confinamento, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena


Dialética do confinamento
por Victor Leandro

É certo que a quarentena imposta pelos governadores estaduais, contrariando o antigoverno nacional, já começa a render bons efeitos. No mínimo, ela tem traçado um esboço de salvaguarda do tempo necessário para a organização do trabalho de recepção de doentes graves nos hospitais, o que garante alguma qualidade no atendimento e aumenta a probabilidade de reversão dos quadros graves, ampliando assim as chances de cura.

No entanto, tal não significa que as coisas rumem para um caminho tranquilo. Já é patente que não existem exames em quantidade suficiente, e a possibilidade de estarmos vendo somente uma parte limitadíssima do problema se afirma a nós com cada dia maior clareza. A despeito disso, a classe política, e até mesmo parte da científica, já começa a celebrar vitória antes do tempo.

É aí que está a contradição do confinamento, a qual se soma aos dados mal aferidos. Quanto mais este surte efeitos na contenção da pandemia, menos alerta nos sentimos, e mais aptos acreditamos estar para voltarmos às ruas, o que pode torna-lo um esforço inglório. Por outro lado, se dizemos que a quarentena não surte o efeito pretendido, o resultado é ainda mais desastroso, pois gera a noção de que estamos fazendo um sacrifício inútil, levando-nos a recusá-lo de pronto. É nessa via que apostam o suposto presidente e seus cúmplices.
Contra todos esses efeitos, a única alternativa que cabe é manter-nos firmes nos princípios já estabelecidos, e nada retroagir até que tenhamos dados confiáveis e mais fidedignos. A suspeita, tão cara à filosofia, é nosso maior remédio nesse momento. Finquemo-nos nela, e sairemos bem disso daqui a alguns meses. O nosso melhor movimento agora é a espera.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Distopia, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena


Distopia
por Victor Leandro

O decreto é aceito. O povo retorna às ruas.

Nos altos prédios, os moradores celebram, enquanto nas casas estreitas, todos recebem a ordem de levantar cedo.

Pela manhã seguinte, as coisas voltam ao normal. Já à noite, os passeantes se aglomeram e festejam os bares abertos.

Porém, foi só por um dia.

Logo a seguir, a pandemia chegou em ondas.

Hospitais lotados. Gente morrendo nas ruas.

Em pânico, os comércios fecham.

Mães e filhos soluçam.

Quanto ao presidente, este recorre aos seus amigos americanos, e vai se exilar ao lado do astrólogo da Virginia.

Ninguém desperta desse pesadelo insone.

Um novo mundo, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena



Um novo mundo
por Victor Leandro

O novo mundo ainda não aconteceu. A rigor, este segue ainda o mesmo, porque nós  permanecemos os mesmos.

Mesmo diante do desabamento de nosso modo de vida, seguimos relutando dentro de nossas crenças. Achamos que as antigas soluções nos servem, quando já não nos dizem nada. Nas esferas do Estado brasileiro, isso se mostra claramente no modo como se tentam apontar soluções. Voltem ao trabalho. Precisamos salvar a economia. O Estado tem de agir com prudência. Precisamos manter o programa vigente.

Nada disso funciona mais. Ao contrário, apenas aumenta o desespero. E no final o ponto é tão somente esse. Quanto menos exasperados pensamos, mais fácil  é notar que a saída está por um outro caminho, totalmente inesperado e imprevisto, tal como foi para nós o surgimento da pandemia. O que é preciso é enfrenta-lo com coragem.

Porém, como disse Machado de Assis, ideias fixas são difíceis de desfazer. E assim seguimos no velho mundo, enquanto o novo nos espera do lado de fora, com evidente impaciência.

sábado, 28 de março de 2020

Monótono, de Fernando Monteiro

Poesia



Monótono

Cansado estou 
De perguntas interrogativas
Busco agora alento no singelo
Que com prazer assalta
O caos que em mim impera

Do sentir fugaz
Ao prazer em estar vivo
Novamente me faz
Querer viver aquilo
Outrora sentido
Mas não permitido

O monótono em nós
É a conservação da ordem
Que nos nega o novo
Nos fazendo indiferente ao igual
Tornando real em nós
Aquilo tudo antes odiado

Fernando Monteiro

Delírios pandêmicos, de Victor Leandro

Conto


Delírios pandêmicos

Faz dois, talvez três, seguramente quatro dias. Minhas recordações são apenas de claro escuro vindo da janela. Eu abro os olhos e ainda penso, sinto calafrios e trêmulo. Não, é apenas angústia. 36,4 graus celsius no termometro e o real que me diz, não estou doente. Mas há os que estão, e os jornais confessam que já perderam a conta dos números. Sim, é noite. O som vazio dos carros transcorre a intervalos difusos.

O maior dos perigos é estar semiacordado enquanto assisto à TV. As imagens confundem-se e me invadem os sonhos com um factualismo sombrio, o absurdo mórbido da crise incontida, e é então que adormeço penetrante no limbo de todas as memórias que se misturam, e sou aí um soldado combatente, vitorioso e confiante, não preciso dizer o contrário da minha pessoa, a enfrentar os algozes perversos que estranhamente se transmutam, ora são lobos fardados ora formas indistintas, mas que no final identificamos com clareza, eu e meus compatriotas vermelhos, que são eles sem dúvida um conglomerado baboso de vírus e vermes, por cada lado saltitantes e ameaçadores, e frente aos quais investimos com nossas armas e botas. Sim, somos impiedosos contra esses inimigos, e é somente nessa impiedade que nos salvamos a nós e aos outros, até que então sorrimos, celebramos entre nós com afetuosos cumprimentos, ao que de repente estamos sentados em cadeiras tranquilas no descanso de nossos abruptos gestos. A pax gloriosa, a exultação infinda.

Então desperto. E é nessa hora que inicia de fato o pesadelo.

Contudo, resigno-me. A imobilidade é agora a maior das virtudes. Ademais, o que poderia mais pretender com minha tragicidade e meu niilismo? Tudo está como deve nesse confuso instante.

O sol nasce lá fora. Rio. Dou um salve ao Eterno Retorno.

Victor Leandro

sexta-feira, 27 de março de 2020

Os mortos-vivos, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena



Os mortos-vivos
por Victor Leandro

A gestão Bolsonaro acabou já tem muito tempo. Mas só com a pandemia é que se tornou visível.

Porém, restam o fanatismo dos seguidores e os vazios signos institucionais, os quais, mesmo em franco declínio, ainda são capazes de promover um genocídio na população brasileira.

Dessa forma, juntamente com o vírus, o que vemos é o Brasil sendo tomado por um exército de mortos-vivos, que, sem esconder mais suas intenções obtusas, sacrificam o povo em tributo ao deus-dinheiro, promovendo a desinformação e tirando os indivíduos de suas casas, ameaçando-os de fome.

Contra essa peste sócio-política, é que precisamos agir sem mais delongas, e exigir a renúncia das almas penadas que ocupam o Planalto.

Do contrário, além de um roteiro de catástrofe, teremos também um filme de terror.

Ambos são gêneros ruins.

quinta-feira, 26 de março de 2020

As armadilhas da angústia, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena



As armadilhas da angústia
por Victor Leandro

De início, todos acharam que seria um período tranquilo. Não precisariam fazer nada além do que lhes é comum no fim de semana. Os livros, a internet e as séries estavam aí para dar auxílio. Será até divertido, foi o que pensaram, e é provável que nos primeiros dias tenha sido mesmo assim.

Mas logo a angústia se instaurou e, junto com ela, uma inquietação terrificante. É diferente estar confinado quando não se pode sair. Pior ainda com o mundo desabando lá fora. Os limites das paredes da casa perturbam. As vozes dos nossos próximos já não soam tão agradáveis como antes.

Nesse instante, é que começamos a ceder a pensamos difusos e saídas irracionalistas. O vírus não pode ser tão ruim. Talvez valha-nos mais retornamos ao trabalho, basta termos cuidado. A vida não pode parar por conta disso. E a economia? Se o mundo estagnar, como ficarão os que não têm emprego? É mais correto irmos às ruas e nos sacrificarmos todos pelos que necessitam.

Porém, quando essas ideias surgem, é que precisamos nos recobrar um momento de razão. É o Estado que deve dar saídas para os mais afetados, e tem os meios para tanto. Nossa volta às ruas apenas prolongaria o caos. No mais, é necessário ouvir os cientistas. Sim, é difícil pensar dessa maneira agora, mas precisamos ponderar, contudo. Esse desespero é só a nossa ansiedade falando.

Para atravessar esse abismo com grandeza, o único ato heroico é seguir firmes e estáticos como estamos. A imobilidade é a nossa grande demonstração de força. Contra as ameaças nefastas dos perversos e nosso próprio medo, devemos prosseguir nesse ritmo lento. Em breve ficaremos muito melhor do que ora estamos.

quarta-feira, 25 de março de 2020

O Liberalismo está morto, por Matheus Cascaes




O liberalismo está morto

por Matheus Cascaes

A morte do liberalismo

O liberalismo, enquanto ideologia, desde suas origens, sempre apresentou contradições. As mais importantes delas talvez residissem na separação realizada em seu interior entre individual e social – privado e público – e na sua concepção de liberdade frente a essa separação. O que havia de problemático nisso era que ao mesmo tempo em que o liberalismo proclamava uma ideia de liberdade garantida pelo direito individual à propriedade privada, via no Estado um ente superior que regularia os limites dessa liberdade e garantiria, por meio disso, uma coesão social. Havia, portanto, uma tensão entre a liberdade individual, representada pela propriedade privada, e a social, representada pelo Estado, no interior dessa ideologia. O chavão mais que desgastado de que “a minha liberdade termina onde começa a do outro” é bem representativo disso.

Com o desenvolvimento do capitalismo, esse cabo de guerra passou a tender mais para o lado do individual que do social. É o momento do surgimento do neoliberalismo, no interior do liberalismo, e da sua consolidação como ideologia hegemônica. Ao se consolidar, o neoliberalismo, por meio de suas políticas de diminuição do Estado, fez reinar o individualismo. Nesse momento, a visão dominante era a de que o indivíduo era livre para garantir os meios de sua subsistência pensando apenas em si e por meio de seus próprios méritos. A visão da sociedade, a partir de então, foi reduzida a uma coleção de indivíduos que estariam reunidos apenas por uma conveniência ocasional. A liberdade, por sua vez, foi restrita ao direito à propriedade.

Por algum tempo, essa visão sustentou-se como hegemônica. Por algum tempo. A crise atual do capitalismo já havia posto essa visão em xeque. Contudo, um acontecimento atual decretou a morte dessa ideologia: a pandemia do Covid-19.

Quando observamos apenas o aspecto da saúde, é possível perceber que a visão individualista proposta pelo neoliberalismo não mais se sustenta. As experiências ao redor do globo têm mostrado que, para controlar a pandemia, não basta que as pessoas sejam responsáveis apenas pela própria saúde, nem que esta continue a ser vista como uma mercadoria comprada com o esforço individual. Se vista dessa maneira, a pandemia se alastra, não se consegue com esse modelo atendimento para todos e, por consequência, o problema não é solucionado. O controle da pandemia passa por soluções que colocam o coletivo na frente do individual. Ou seja, para que o individual exista, faz-se necessário priorizar o coletivo. Assim, a solução passa por propostas que observem a sociedade como ela é, de fato, na sua realidade material, isto é, como algo muito mais complexo que a visão falsa erigida pelo neoliberalismo de uma coleção de indivíduos.

Para entendermos bem esse acontecimento, o velho Althusser dá alguma ajuda. Como aprendemos com ele, a ideologia manifesta-se por meio da entrega a indivíduos de uma falsa evidência de sentido. Por meio dela, o indivíduo constitui-se como sujeito e passa ler o mundo pelas restrições semiológicas impostas por ela. Mas, como também aprendemos com esse autor, a ideologia não promove apenas uma ilusão da realidade, uma falsa consciência – como Marx e os marxistas mais ortodoxos diriam –, mas também uma alusão à realidade. Afinal, se a ideologia fosse apenas uma falsa consciência que não se baseasse em nada, ela não seria (re)afirmada e (re)produzida. Com efeito, a ideologia, para continuar a existir, precisa dar aos indivíduos “evidências” que eles consigam “comprovar”. A ideologia liberal por muito tempo conseguiu isso. Agora, não mais. A morte do liberalismo provém do fato de que a visão que ele sustenta não pode mais ser comprovada pelos indivíduos em sua experiência diante da realidade.

A ruptura histórica e os novos rumos

Althusser já nos mostrou também que uma ideologia é o que mantém uma determinada formação social. Com a morte da ideologia liberal, morre-se também a formação social proveniente dela. O que significa que a pandemia tem intensificado um processo de ruptura na história que já vivíamos. É certo que, depois desses episódios, o modelo de “democracia” liberal que temos atualmente seja substituído por outra coisa.

Neste momento, portanto, se abre a nós a escolha de que rumos a história vai tomar. Como já vimos com Nietzsche, a progressão da história não é necessariamente a da melhoria do homem, a do progresso da humanidade. Ao mesmo tempo que se abre a possibilidade de se construirmos novas relações baseadas na solução de uma contradição que alimentávamos por conta de uma falsa consciência, existem forças que tentam, a todo custo, manter essa contradição, ainda que o que surja depois não seja mais exatamente o modelo em que se vivia antes. É aí que surge o fascismo.

Nos meus Esboços de delineamento da postura fascista, eu descrevi a postura fascista como uma postura surgida diante da contradição. O fascista é aquele que não consegue lidar com a contradição e, no lugar de se revoltar contra ela em prol de uma ordem mais coerente, escolhe não tratar a contradição como tal e a adota apaixonadamente como se ela fosse a própria coerência. Não à toa, diante desse cenário de morte do neoliberalismo, surgem posturas fascistas que não são exatamente antiliberais, como as fascistas tradicionais, e, neste caso, mais à direita que estas e que buscam manter levando às últimas consequências as ideias individualistas do neoliberalismo. Ultimamente, esses setores da sociedade têm menosprezado os cuidados coletivos para se controlar a pandemia. Para não quebrar a economia capitalista, eles rejeitam esses cuidados, mostrando que não se importam que, com isso, morram algumas pessoas. É preferível, para eles, algumas mortes, a ter que se repensar esse modo organização que se mostra falido. Tem atitude mais fascista que o desprezo pelo extermínio de parte da população? É possível que, diante de um cenário que caminha na contramão da defesa de seus valores, venha de setores como esse uma tentativa de afirmar os valores que não mais se sustentam até à barbárie.

Agora diante de nós há uma escolha: ou nos revoltamos contra esse pensamento hegemônico, ou tentamos nos agarrar a ele mesmo sabendo que ele não nos sustentará. Ou se opta pela revolta, ou pelo fascismo. Mas, mais que isso, ou reinventamos nossa maneira de ver a sociedade e passamos a lutar por uma liberdade individual que passa antes pela liberdade coletiva, ou nos asseguramos na falsa e insustentável ideia de que basta assegurar a liberdade individual para garantir a coletiva e rumaremos para a barbárie.

Assim, o liberalismo está morto. É necessário que impeçamos que ele ressuscite ao terceiro dia como um monstro fascista. Para tanto, faz-se necessário, diante do “a minha liberdade termina onde começa a do outro”, nós contrapormos o “eu me revolto, logo existimos”, de Camus. Para depois, podermos estabelecer no lugar um estado de coisas que está se abrindo diante de nós e que priorize as relações reais, isto é, que proclame, como já proclamava Bakunin, que “a liberdade do outro eleva a minha ao infinito”.

O assassinato em massa e seus cúmplices, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena



O assassinato em massa e seus cúmplices
por Victor Leandro

Não se pode praticar um genocídio sozinho.

Um assassinato, sim. Mas, sem ajuda, é impossível estender o crime a uma massa expressiva de sujeitos.

Desse modo, é preciso que haja cúmplices, ou seja, um conjunto de outros agentes que, de uma forma ou de outra, concorram para a propagação da morte em escala vultosa e exorbitante.

Ontem, as figuras centrais do antigoverno deixaram clara sua intenção de entregar o povo em sacrifício ao deus-dinheiro, num total desprezo não só pela população, mas pela vida ela mesma. Tudo isso por uns dólares a mais, como diz de forma astuta o título de um antigo filme de faroeste.

Porém, para que tal se execute, é necessário haver coparticipantes. E quem são eles?

Na situação em que nos encontramos, os cúmplices são todos aqueles que, encontrando-se em posição de agir de forma efetiva, não o fazem, seja por interesses políticos, econômicos ou ideológicos. Em suma, são toda a classe dirigente do país que cruza os braços ou responde de maneira branda aos acintes de Brasília.

Hoje, não há outro jeito. Ou se é fora Bolsonaro, ou se está do lado do crime contra a saúde humana.

Que cada um de nós assuma seu lado, exigindo dos governantes uma atitude condigna.

Vamos em frente.

terça-feira, 24 de março de 2020

O que nos interessa agora?, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena

O que nos interessa agora?
por Victor Leandro

No momento em que estamos interrompidos no fluxo de nossas ações comuns, convém pensar sobre aquilo com que estamos nos preocupando, ou melhor, sobre a atitude assumida perante o conjunto fundamental de nossos problemas, no que podemos assumir uma percepção sintomática de nosso plano de mudança.

Afinal, a pandemia alterou realmente nossa maneira de olhar para o mundo, ou nossas ideias fixas continuam preponderantes? Seria estranho se passássemos por tudo isso sem aprender alguma coisa. Por outro lado, é ingênuo subestimar o poder de nossos hábitos e tendência à repetição. O movimento transformador não é tão natural quanto se nos aparenta.

Verdade é que, num nível mais profundo, talvez as coisas demorem a metamorfosearem-se por inteiro. Seguimos com os mesmos afetos e as mesmas irritações pequenas, as mesmas raivas e os mesmos ressentimentos. Nossa lista de inimizades desnecessárias segue intacta. Conservamos ainda reações idênticas para os antigos assuntos sem importância.

O mundo acaba, e cá estamos firmes em nossas mesquinhas certezas. E não sabemos o motivo disso.

A solução, porém, é clara. Somente a reflexão racional aguda modifica nossos paradigmas. E o que vem depois dela é o gesto efetivo, lúcido, de sabida automodificação.

Seguimos.

segunda-feira, 23 de março de 2020

As farsantes imbecilidades do bolsonarismo em meio à crise, Por Fernando Monteiro




As farsantes imbecilidades do bolsonarismo em meio à crise
Por Fernando Monteiro

Com a alteração da MP 927 e, posteriormente, a revogação do art. 18 desta, que determinava a suspensão dos salários dos trabalhadores de licença por conta do COVID - 19 em até 4 meses, só posso tirar uma conclusão: para além do extremo despreparo de Bolsonaro e seus lacaios em meio à crise, não podemos, jamais, afirmar que suas ações não seguem uma lógica ou possuem uma razão.

O imbecilóide chamado de Presidente da República usa do seu despreparo, ao tomar como base confortável de ação, a parcela da sociedade que ainda o apoia e acredita, por vias do devaneio, que os colocaram “lá no poder e podem tirá-lo a qualquer momento”. Essa artimanha horrivelmente sagaz, para não chamarmos de burra, é posta em ação para testar suas “reformas” trabalhistas ditas liberais. Isso em meio ao caos que estamos vivendo com o COVID-19, Bolsonaro e seus patifes colocam toda a massa de trabalhadores e demais sujeitados para jogarem o seu joguinho sujo.  

Mas não nos enganemos com a sua imbecil e farsante postura de despreparado (questão essa que nem devíamos nos assustar). Tenhamos cautela e busquemos a racionalidade em nossas ações. O que o bolsonarismo espera é que, a cada frase dita ou ação tomada, um batalhão de falastrões esteja em prontidão para dar ibope às suas artimanhas meramente calculadas. E nesse jogo, o conflito é dado entre nós mesmos, os próprios sujeitados. 

Sob o ar de crise e a sua manifestação concreta, o governo Bolsonaro já tem tido êxito em algumas atitudes, como fora o caso dos cortes de bolsas para as pós-graduações ocorridas por meio da Portaria 34/2020 da CAPES, em que somados os cortes, o números se aproximam de 8000 bolsas perdidas. 

As ações bolsonaristas já apresentam concretude em nossa realidade, o despreparo como forma de ação política já possui efetivas medidas empregadas no funcionalismo social brasileiro. 

E como costumo dizer em meio aos meus amigos, a vitória do bolsonarismo, mesmo que no presente espaço de tempo em que estamos vivendo, fora dada na reunião desses indivíduos com suas indignações óbvias em sociedade, que em seus devaneios sobre um Messias, a política de Bolsonaro daria uma resposta para o seu problema.

A vitória do bolsonarismo está aí, nessas ilusões: como a de acreditar que num simples estalar de dedos Bolsonaro cairá. No entanto, essa vitória é momentânea, com prazo para o seu fim. E para isso ocorrer, precisamos de ações concretas em meio ao caos, como o bolsonarismo já toma. 

É necessário encontrarmos um caminho de ação que não tema o caos instaurado. Seja essa ação por meio da crença nas instituições jurídicas, que algumas alas da esquerda estão a buscar pelo impeachment, ou seja pela convocação das revoltas dos indignados contra o governo em questão. Os revoltados e indignados não possuem espectro político ou linha partidária, seus males são fruto do cotidiano. Cotidiano esse que os massacram lentamente em suas miseráveis vida e que nada sobre isso é feito. 

Afinal, assim como não devemos nos enganar com as ações imbecis do Presidente da República, também não podemos invalidar a força dos miseráveis que foram postos como massa de manobra por acreditarem na ilusão de um Messias redentor de todos os males. 

Estamos em guerra mais do que nunca. Nosso inimigo é real, se manifesta concretamente na realidade às faces de um imbecil chamado Jair Messias Bolsonaro. 

Bolsonaro tem que cair e sua queda é de extrema urgência e importância para nossa sobrevivência!

O fim dos tempos, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena



O fim dos tempos
por Victor Leandro

É preciso ter calma. este ainda não é o fim do mundo. É só o fim do capitalismo.

Não há mais saída para ele. Mesmo na ordem do bem-estar social, as transformações estruturais mostram-se incontíveis. O modelo financeirizado de hoje não pode dar conta das mazelas sanitárias produzidas. Só o que resta é a troca pura e simples, coordenada por agentes organizativos habilitados.

No Brasil de hoje, para variar, o caos chega antes. Vemos o antigoverno paralisado perante o seu fundamentalismo liberal, incapaz de notar que os manuais que utilizam não oferecem respostas para o que estamos vivendo. Junte-se a isso a perversidade do suposto presidente, e o que temos são um conjunto de ordens desorganizadas e estúpidas desde o fundamento. Voltem ao trabalho! não podemos parar por uma gripe! É o que dizem o néscio e os bem guardados patrões, protegidos que estão da pandemia.

Sim, alguns aspectos desse debate ainda não se encontram plenamente esclarecidos. Contudo, não podemos nos dar ao luxo de dirimi-los. Na prática, o povo sofre e precisa de soluções breves. E estas passam por um único ponto, que é a supressão dos mandatários em voga e do sistema que favorece o estatuto da classe dominante. Somente dessa forma poderemos sair da crise e salvarmos a nós mesmos.

Porém, tal não pode ser realizado apenas com palavras, mas com gestos efetivos.

O fim do mundo pode esperar. O que deve se instaurar agora é o momento revolucionário.

domingo, 22 de março de 2020

No fundo da liberdade, a luta coletiva; por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena


No fundo da liberdade, a luta coletiva
por Victor Leandro

Foi Jean-Paul Sartre quem afirmou que, no auge da ocupação nazista na França, ele se sentira mais livre do que nunca. Não tinha mais o que temer nem nada além de si mesmo. A esse argumento, poderíamos acrescentar a frase de um ícone da indústria cultural, Frank Miller, que, ao relatar a queda da personagem Demolidor, considera que um homem sem esperança é um homem sem medo.

Pois agora vivemos um momento que evoca essas assertivas, e muitos de nós assim nos sentimos. Desobrigados de nossos compromissos diários, reduzidos a nossa ações essenciais, percebemos o quão sem importância podem ser os fatos de que nos ocupávamos antes. Libertos deles, olhamos apenas o que realmente importa, e isso nos torna maiores do que fomos, porque tudo que se expande com nossos gestos é o movimento de nossa liberdade desnuda.

Porém, não nos iludimos. Sabemos que não somos livres verdadeiramente, porque a humanidade não o é. Se podemos ficar protegidos em casa, se estamos em condições de limitarmos nossa margem de risco, é porque lá fora há milhões de outras pessoas que não se encontram em igual situação, e que seguem aprisionadas nas amarras das obrigações trazidas por um capitalismo propagador de miséria e impunemente destrutivo.

Assim, o que nossa liberdade nos revela em seu fundamento é a necessidade de reafirmarmos nosso compromisso coletivo. Somente desse modo ela poderá se tornar para nós plena e irrestrita, no que poderemos vivenciá-la com toda sua intensidade. Ser livre é lutar coletivamente. Fora disso, tudo o mais não passa da ilusão de um solipsismo frívolo.

Tenho pensado muito sobre o tempo, de Vinícius Moraes

Conto

Tenho pensado muito sobre o tempo, já estou velho e não me resta muito dele, então era esperado que eu começasse a filosofar sobre essas questões que a arrogância da juventude afastou de mim por algum tempo. Quando eu era criança, uma noite, acordei chorando e gritando por minha mãe que apareceu rapidamente querendo saber a razão de tanto desespero, eu inconsolável perguntei para ela: “Mãe, um dia eu vou morrer? ”, ela riu e com toda a calma me respondeu que sim, mas que eu não devia pensar nisso ainda, era muito novo para me preocupar com essas coisas, me agasalhou, deu um beijo em minha testa e voltou para o seu quarto. 

Lembro que fiquei muito irritado por ela ter rido de mim, ainda continuei chorando baixinho por um tempo até que o sono venceu e no dia seguinte essa questão foi completamente esquecida e minha atenção foi tomada por alguma brincadeira da infância. Agora relembrando esse episódio entendo o riso da minha mãe e a obviedade de minhas indagações, sim um dia eu vou morrer e não adianta chorar por isso 

Hoje eu rio da maneira como essa indagação veio até mim tão de repente em uma noite de sono e da igual maneira foi esquecida, percebo a graça de ser criança, de se espantar com tudo, de ver mágica em trivialidades, mas aceitá-las sem empecilho algum. Percebo isso numa uma garotinha em especial

Ela vem com uma inocência de pássaro e taca tinta guache no meu box caríssimo da trilogia original de Star Wars, com DVD bônus e comentários do diretor, ela faz isso com o sorriso mais brilhante que eu já vi na vida e uma concentração digna de um golfista profissional em final de campeonato. Enquanto saltita alegre pelo meu quarto vai deixando glitter cair por todo o tapete recém lavado, aos poucos se dirige a minha estante de livros e busca a foto biografia do Fernando Pessoa que eu tanto amo, ela joga no chão como se fosse um trapo velho, tira de seu estojo de princesas um giz de cera rosa e o empunha com a mesma gravidade de um cirurgião com seu bisturi, devagar e focada ela desenha em cima da foto do poeta algo que eu suponho ser uma girafa. 

”. Não é uma girafa, é um cachorro!”, ela me corrige zangada, então eu comento zombeteiro “Pois então é um cachorro muito do seu pescoçudo”, ela suspira impaciente e diz “Você não entende nada”, concordo com um sorriso. Vai ver é um daqueles casos de jiboias, elefantes e chapéus que a minha idade não permite mais reconhecer. Para ela questões como tempo, morte e vida são desnecessárias, francamente, quando estou com ela para mim também, os cachorros de algum desenho da TV são bem mais intrigantes. 

Você tem razão querida eu não entendo nada mesmo, mas acho tudo lindo.

Vinícius Moraes

sábado, 21 de março de 2020

A fuga, de Victor Leandro

Conto

A fuga

-Não pense, não pense!

Não, não existe mais fato ou ideia. Somente os pés que escapam ligeiros. Ele é todo só o corpo em movimento. Um autômato a quem foi dada tão somente uma ordem: fugir. Nada mais lhe ocorre que não seja avançar sobre a linha à frente.

Agora, ele nem mesmo se lembra mais de quem o perseguia, nem por que motivo. Terá cometido um crime? Uma injúria, talvez? Não tem importância. O que vale é tão somente distanciar-se do perigo. Avante!

As pernas falham. Seus pés começam a tentar desistir. Olha pra trás e não vê ninguém. Mas os carrascos estão invisíveis desde o princípio. Eles próprios não sabem que existem. Apenas perseguem e matam. Tudo é um só instinto.

-Não reflita. Corra!

A cidade já é uma paisagem ao longe. Porém, isso não lhe dá nenhuma segurança. Pensando bem, é muito provável que ele esteja um passo atrasado, que o inimigo encontre-se tranquilo ali adiante, e se diverte com seu desespero. De repente, sentiu-se ridículo.

-É impossível.

Ou talvez não fosse. No entanto, agora é tarde demais para prosseguir. Deveria ter mudado tudo já no princípio. Que lhe resta então além de encarar o destino trágica e pacificamente? É melhor enfrentar a adversidade com grandeza.

Diminui o passo, interrompe-se, Recobra o fôlego. Observa o mundo mais uma vez. Sem barulho, os carrascos chegam. A verdade lhe transpassa como um imenso desígnio.

Victor Leandro

sexta-feira, 20 de março de 2020

Bolsonaradas cotidianas, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena




Bolsonaradas cotidianas
por Victor Leandro

Não, não é somente no voto ou na filiação ideológica que a visão bolsonaro de mundo se enuncia.

Na verdade, ela se encontra em um plano mais profundo, no limite de nossas organizações estruturais, que fazem com que tenhamos condutas similares ou que seguem os mesmos ímpetos. Como hipótese causal, poderíamos dizer que elas aparecem principalmente quando:

1- Estabelecemos nossos afetos instintivos como princípios de ações coletivas;

2-Nossos desejos determinam a forma de nossa interpretação de mundo.

Como resultado, o que produzimos é uma explosão de individualismo e conflito, evidenciados em uma praxis destruidora, que vai desde o mais terrificante ao mínimo gesto - patrões que não dispensam empregados na pandemia, sujeitos esvaziando prateleiras de álcool em gel, indivíduos que passeiam nas ruas sem se preocupar com os outros, ativistas deixando ações coletivas porque não foram realizadas a seu gosto, pessoas que agridem por simplesmente terem sido chamadas à sensatez, e por aí vai.

Claro, raramente percebemos isso em nós. Como bem disse Descartes, todos acreditamos estar providos suficientemente de bom senso. Mais fácil concentrar essas características numa figura como o suposto presidente, quando na verdade ele é apenas um caso exemplar.

O remédio, como sempre, é a autocrítica, que pode ser configurada numa pergunta. Será que é objetivamente razoável agir como estou pensando? Trata-se de uma solução simples.

Difícil, mesmo, é colocá-la em execução.

Mas tentemos.

quinta-feira, 19 de março de 2020

A Cura Política, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena





A cura política
por Victor Leandro

Thoreau, o grande pensador americano, disse certa vez que o melhor governo é o que menos governa. Seguindo essa linha, ele completa afirmando que, para que fosse perfeito, teria que não governar nada.

Olhando para o Brasil, sentimo-nos tentados a discordar, já que estamos num estado de completo abandono e nada melhorou. Mas não nos iludamos. As coisas aqui têm uma problemática diversa da imaginada pelo filósofo.

Porque na verdade não apenas não temos governo, e sim um contragoverno, ou seja, um conjunto de agentes que, além de positivamente nulos, usam a condição de comando para contraproduzir no estado em detrimento de seu povo.

Não são só alheios às causas nacionais, mas seus inimigos. Trabalham para estrangulá-las até a aniquilação.

Assim, é preciso que estejamos esclarecidos para o ponto central de nosso problema. Nossa cura não é médica e sim política. E ela está aí para que todos vejam.

É fora Bolsonaro e seu antigoverno.

Momentâneo momento, de Fernando Monteiro

Poesia



Momentâneo momento

Momentâneo momento
Que assalta a razão
Ofuscando a visão
Do real vivido

Bom mesmo seria
Se os momentos críticos
Logo passassem
Sem rastros e marcas deixassem

Momentâneo momento
De assalto à razão
Tomou minha consciência
Como refém de sua ilusão

Se os momentos críticos
Passaram e suas marcas deixaram
Algo devo ter aprendido
Desse real vivido

 Fernando Monteiro

quarta-feira, 18 de março de 2020

Os Alienados da Terra, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena 




Os alienados da Terra
por Victor Leandro

Não, nem de longe são os pobres os que ignoram o real presente no mundo.

Ao contrário, estes sequer podem se dar ao luxo de escapar a ele. Movimentam-se em suas bordas o tempo todo.

Mas o mesmo não pode ser dito dos especuladores dos mercados.

Cerceados por uma existência inautêntica e malograda, eles não têm mais do que a sua frente números, tabulações que não têm nenhuma parte com a vida.

Fazem cálculos e projeções, estipulam futuros, mas esses não constituem matéria alguma, apenas mera fabulação abstrata.

Isso temperado pela crença obscura no fantasma da mão invisível, que insiste em não aparecer.

A pandemia liquidou o liberalismo. Ele agora não passa de uma lenda antiga. Nossa frágil economia mundial não pode sobreviver sem os braços firmes de trabalhadores e líderes políticos materialistas.

Porém, os obnubilados persistem na comédia dos tantos mil pontos. Quem hoje, em sã consciência, preocupa-se com os números da bolsa?

Os investidores são os verdadeiros alienados da Terra, e, no entanto, herdam seus melhores frutos.

Fiquemos com as coisas do mundo. Que a eles pertençam somente sua própria fantasia e miséria.

terça-feira, 17 de março de 2020

A consolação dos livros, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via



A consolação dos livros
por Victor Leandro

No isolamento de nossos claustros, ainda é possível ler. E, com a leitura, libertarmo-nos de nossa imediaticidade opressiva. Com as palavras transitamos, frequentamos esferas estéticas e de pensamento por outros meios inauditas, o que não é de nenhum modo apenas um escapismo. Quando retornamos ao mundo, estamos muito mais certos e resolutos quanto a nossos mais transformadores caminhos.

Claro, existe a grande rede, e existe o audiovídeo. Porém, a forma de experiência que proporcionam é em muitos casos compulsiva e configurada aos limites da imagem. Já nos livros, mais do que o icônico, o que se tem é o imaginário: um corpo mental livre que cria e recria, produz e reproduz, gera e movimenta nas possibilidades do infinito, com acutíssima elaboração.

Só os livros nos dão a hipótese de engendrar outros mundos.

Em tempos como estes em que vivemos, de paralisia e precaução, os livros não apenas nos salvam, mas nos apresentam a viabilidade do devir, fazendo-nos aptos a avançar na existência, independente de seus empecilhos. Enveredemos por eles, e não estaremos sozinhos. Nada nos pode fortalecer mais para a luta que se nos apresenta.

domingo, 15 de março de 2020

ESTADO DE SÍTIO, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via




Estado de sítio
por Victor Leandro

A verdadeira cidade sitiada é o mundo sob o capital. Por detrás de suas paredes violentas, nós nos oprimimos, matamo-nos e enganamo-nos numa pandemia constante, onde só uma plutocracia preguiçosa - rentista -  dispõe dos meios para manter-se viva, enquanto aos demais restam a fome e a doença, no que os mais pobres perseveram tão somente pela força de seus instintos primitivos de subvivência.

Segue daí que não deveríamos estar surpresos com o surto virótico que nos toma conta. Ao final, realmente não estamos. De uma maneira íntima, dávamos como certo que isso iria acontecer. Somente aos ricos fora dada ingenuidade o bastante para ignorar tal coisa. O abismo nunca deixou de estar no nosso horizonte.

Mas claro, certos hábitos são difíceis de desfazer, e, embora conheçamos o que virá, não significa que tenhamos certeza de como agir. Nossa reação imediata é seguir o fluxo, ou pior, preocuparmo-nos com coisas absolutamente supérfluas e ditadas pela ordem dos opressores. Quanto está o dólar? E a bolsa? O que será da economia? Esses comércios vazios?

Nesse sentido, a peste - camusiana por definição - se nos afigura como uma grande possibilidade de mudança global, pois é apenas por meio de suas interrupções forçadas e da solidariedade que poderemos não só nos salvar fisicamente, mas também refletir e perceber como não é nada difícil tomarmos um outro rumo, que na verdade ele é o mais lógico, o ululante, o qual só não vemos devido a nossas vistas embotadas pela falsidade encantatória dos sistemas. Contudo, no confinamento de nossas casas, na dura solidão dos dias silenciosos, conseguiremos achar o que sejam verdadeiramente a liberdade e o companheirismo, e então, tal como o retirado da caverna platônica, não teremos mais meios de voltar ao que éramos antes.

Devemos superar a calamidade, e superaremos. Porém, se tudo der mesmo certo, as portas que antes utilizávamos já não nos poderão servir. A saída será por um caminho novo, não trilhado, mas que iremos percorrer coletivamente. Acaso falamos de socialismo? Sim, ele é exatamente o que está para além de nossos muros.