domingo, 31 de janeiro de 2021

Sidney Leite declara voto ao candidato do Bolsonaro na Câmara dos Deputados Federais, por Jonas Araújo

 

Croqui do Congresso Nacional, de Oscar Niemeyer

Sidney Leite declara voto ao candidato do Bolsonaro na Câmara dos Deputados Federais
por Jonas Araújo

O Deputado Federal Sidney Leite, do Amazonas, resolveu declarar voto no Arthur Lira para a Presidência da Câmara dos Deputados.

Para quem não está acompanhando essas eleições aí vai uma análise rápida. 

1. A câmara dos deputados faz parte do poder legislativo que tem por função fiscalizar e aprovar leis no Brasil. 

2. Cabe a câmara dos Deputados Federais investigar ações do Executivo que estejam em desacordo com a legislação brasileira. Como por exemplo o envolvimento da família do presidente no assassinato da vereadora Marielle Franco. Ou o fato do presidente ter preferido gastar milhões em leite condensado em vez de comprar oxigênio para Manaus. Entre vários outros abusos de poder.

3. Hoje na câmara dos deputados existem mais de 50 pedidos de Impechment do Bolsonaro por todos os absurdos feitos pelo atual presidente.

4.Esta eleição ocorrerá em dois turnos.

5. Arthur Lira(PP-AL) é o candidato de Bolsonaro. Se ele for eleito a câmara dos deputados federais vai virar um anexo da presidência da república. Bolsonaro quer apoio da câmara para mudar a forma de eleição no Brasil e se manter no poder.

6 Baleia Rossi (MDB- SP) é o candidato de Rodrigo Maia (atual presidente da Câmara). Defensor da política econômica da PEC de gastos públicos, reforma tributária e etc. Rodrigo Maia afirma que  Rossi vai manter a ordem democrática.

7. Luiza Erundina (PSOL-SP) é a candidata socialista que defende o impechment do Bolsonaro e a revogação das medidas absurdas dos governos Temer e Bolsonaro.

8.  A direita tem mais dois candidatos: Fábio Ramalho (MDB-MG) e Alexandre Frota (PSDB).

9. A Extrema direita tem mais três candidatos:  André Janones (Avante-MG), General Peternelli (PSL-SP) e Marcel Van (Novo- RS).

Essas eleições são tão importantes quanto as eleições municipais que ocorreram ano passado. Faço a avaliação que o PSOL acertou em manter a candidatura da Luiza Erundina e apresentar o programa do partido no primeiro turno  e no segundo votar no anti-bolsonarismo.



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Jonas Araújo é Professor da Rede Municipal de Ensino em Manaus; Membro da Oposição Sindical  dos professores; e Presidente do PSOL - Manaus.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Nunca mais vote usando o fígado!, por Elder Monteiro

 


Nunca mais vote usando o fígado!

Por Elder Monteiro
Professor e Sociólogo

A metáfora do título é atribuída a Ulisses Guimaraes e, apesar das minhas diferenças com o político citado, tenho acordo com a afirmação em questão. Desde muito cedo aprendemos que não é bom buscar resolver problemas de “cabeça quente”. A combinação descontrolada entre raiva, ódio, amor e a resolução de problemas pode não ser recomendável e, ainda, pode causar consequências bastante indesejadas. Noutras palavras, e esse é o foco da discussão proposta, a relação entre paixões e política pode trazer graves problemas.

Quando mais jovem, eu me fazia presente na maioria dos rolês de futsal dos meus amigos do bairro Matinha, em Manaus (AM). Eram momentos divertidos, mas que também traziam consigo situações conflituosas. Era comum a divergência na hora de uma suposta falta/infração, na saída da bola das quatro linhas e, infelizmente, encontro entre inimigos. Quem já praticou algum esporte coletivo deve saber que no momento da definição de um conflito, não existe certo ou errado. O que interessa é quem ganhará a vantagem a qualquer custo. Naqueles momentos até as regras éticas de comportamento se tornam estranhas. O resultado da insistência na contradição em relação a posição das partes em conflito é, em geral, às vias de fato ou o seu quase acontecimento e, com isso, o fim da atividade. Não poucas vezes isso ocorreu e o dono da bola pula logo para resgatá-la e, assim, dar fim ao tormento que a mesma se encontra. Isso me irritava tanto! Perdi a conta das vezes que ajudei a separar brigas por causa de coisa bobas e que dariam fim aquele momento prazeroso. Para além dessas questões e de outras coisa que giravam em torno de uma briga, gostaria de chamar a atenção para uma questão: a tentativa de resolução través das paixões. Nunca deu muito certo e o resultado era o fim do jogo. A maioria saia prejudicado. Talvez os únicos contentes eram os diretamente envolvidos no conflito, pois isso satisfazia os seus egos.

Essa pequena lição pode servir para pensar as nossas ações políticas. Mas isso não é uma novidade. Desde a filosofia clássica, há o alerta para o perigo de misturar razão e paixões. Numa leitura socrática, poderíamos até afirmar que a confusão entre um e outro seria o grande “pecado” da humanidade. Ao ler o clássico O príncipe, percebemos uma alta dosagem de calculismo nas sugestões propostas por Maquiavel para quem deseja enveredar pela política. Sob estas condições, não seria um exagero compreender que entre as lições da filosofia clássica e do pai da ciência política moderna está o cuidado em lidar com as paixões na hora das decisões políticas e na vida, como um todo. Digo cuidado porque outros clássicos modernos como Max Weber reconhecem e reconectam os aspectos não-racionais as ações sociais e, portanto, também as ações puramente políticas. (Recomendo a leitura de Política como vocação).

Diante do exposto e entendendo que a relação entre razão e paixões não seja algo simples e estanque, podemos pelo menos sinalizar uma tendência no que se refere a política: use suas paixões com moderação. O contrário disso, pode se tornar uma tragédia e temos exemplos para citar.

A leitura das eleições de 2018 pode ser feita sob várias perspectivas e uma delas tem a ver com a rejeição (eu diria ódio, raiva) a um partido específico, o Partido dos Trabalhadores – PT e a tudo o que tivesse vinculado a ele. As pesquisas demonstravam que cerca de 25% do eleitorado brasileiro votaria em Bolsonaro por conta da rejeição ao PT. Isso sem considerar o eleitorado que votou em branco, nulo ou se absteve por conta desse mesmo motivo. Esses grupos somados contribuíram para a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018. Não é crime ser oposição a um grupo político, mas é um equívoco primário se mover politicamente tendo como uma das principais bases as paixões. Multiplique por dois nos casos em que não há um devido equilíbrios dessas mesmas paixões. Nessa esteira também foi eleito para o Governo do Estado do Amazonas, em 2018, um jornalista que atuava num programa com tendências sensacionalistas, Wilson Lima (PSC). Mais tarde, nas eleições de 2020, foi eleito para a Prefeitura de Manaus o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado Amazonas e base política de um governador cassado por corrupção e atualmente preso, José Melo. Falando especificamente das eleições de 2020 para a prefeitura de Manaus, tínhamos a candidatura de José Ricardo e Marklize (PT/PSOL/REDE/UP), terceira colocada no primeiro turno. Os dados divulgados pelos institutos de pesquisa sobre a rejeição ao PT, em Manaus, diminuíam as chances de vitória nessa capital. Eu arriscaria dizer que era um dos principais entraves de Zé Ricardo e Marklize numa possível disputa do Segundo Turno.

O resultado da confusão ou da má canalização das paixões na política se expressa no desastroso processo político e na má gestão pública que vivemos atualmente. A incompetência, o negacionismo, a omissão, a falta de tato político na esfera federal (Governo Bolsonaro – ex-PSL e agora sem partido) e na estadual (Governo Wilson Lima - PSC) são um total desrespeito aos parentes e familiares dos falecidos por conta de pandemia. Com relação a prefeitura de Manaus, o recém-governo David Almeida (Avante) já aparenta uma péssima relação com a coisa pública através dos indícios de permissão para que os filhos dos ricos de Manaus sejam vacinados antes mesmo dos demais profissionais que estavam na linha de frente do combate ao Covid 19. Todos esses governos foram eleitos democraticamente, mas esse é um outro debate. Sob outro olhar, é possível afirmar que a pandemia só trouxe à tona a maneira irresponsável com que o Estado brasileiro vem sendo gerido historicamente.

Por fim, é importante ressaltar que o voto é livre, mas o resultado advindo dele não o é. O voto é eminentemente individual, mas o resultado dele é eminentemente coletivo. O voto é claramente uma manifestação política e como manifestação política não pode ter como base principal as paixões, principalmente quando essa é mal utilizada. É, assim, que a má relação entre política e paixões podem trazer sérios danos à saúde e, pelo que estamos vivendo, à saúde pública. Por isso, evite usar o fígado em política e quando usar use-a, pelo menos, para o bem coletivo.