segunda-feira, 11 de maio de 2020

PIETÀ E O SIMBÓLICO DA MÃE DESAMPARADA, por Diana Brasilis


PIETÀ E O SIMBÓLICO DA MÃE DESAMPARADA
por Diana Brasilis

Com o passar do tempo, a tragédia imposta à Maria em sua intensa dor emocional ao ter no colo seu filho Jesus morto, tornou-se referência no mundo da arte como “Pietà”, que em português significa “Piedade”. Tal referência de Cristo morto amparado nos braços da Santa Maria, Mãe de Deus, ao menos para mim, é o simbólico das mães em tempos sombrios em zonas vermelhas, assolada pelo medo, pela guerra e, consequentemente, o genocídio.

A Pietà de Michelangelo, 1498

Devamos lembrar que na pavorosa história da humanidade, crimes se cometeram em diversos nomes para cobrirem algumas causas iníquas. Foram séculos de barbárie humana em nome de um progresso e expansionismo que ceifou milhões de vidas em diversos lugares do nosso mundo. É conhecido o genocídio nas Américas de povos indígenas proposto por colonizadores europeus; a transladação assassina de diversas etnias do continente africano às Américas para a escravidão humana nos tempos coloniais; o genocídio e mutilações de etnias locais no Congo Belga proposto pelo rei Leopoldo II dos belgas; a limpeza étnica sistemática de hererós e namaquas acometida pelo Império Alemão durante a partilha da África, e que ficou conhecido como “o primeiro genocídio do século XX”; o genocídio armênio cometido pelo Império Turco-Otomano durante a Primeira Guerra Mundial; e a inauguração do genocídio sistemático em escala industrial de judeus, roma e sinti, homossexuais, deficientes mentais, eslavos, opositores políticos e prisioneiros de guerra proposta pelo III Reich durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Sem contar os atuais crimes de guerra cometidos em zonas de conflitos étnicos, miséria e calamidade.

Dentro desses horrores citados é bom salientar que a figura da mãe se tornou digna de uma Pietà. São estas que lutam pela vida de sua prole até o último segundo, que levam na memória os traumas de uma perda trágica ou que não soltam dos braços, nem por um decreto, sua criança à barbárie. 

Na história do Holocausto, muito bem documentada, sobreviventes dos sonderkommando judaicos (comando especial composto por judeus obrigados a conduzir ao matadouro e incinerar o seu próprio povo) relataram que ao abrirem as câmaras de gás, após o assassinato de centenas de pessoas, as cenas eram absurdas, isto é, inconcebíveis para o imaginário humano, pois muitas mães mortas, em meio aos cadáveres, estavam arraigadas ao corpo de seus filhos menores, o que tornava impossível o trabalho de coleta dos cadáveres, tudo isso em meio ao fim de uma luta pela vida que se deu nas câmaras de gás, uns sobre os outros, onde os mais fortes tentavam se sobressaírem sobre os mais fracos como apoio.
Pietà (1450/4) de Giovanni Bellini


Pietà (1889) de Van Gogh

La Pietà (1982) de Salvador Dalí


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