terça-feira, 7 de julho de 2020
[Poema] Domingo, de Jalna Gordiano
Domingo
por Jalna Gordiano
Eu gosto da lua no céu borrado
Da noite quase fria de ruas desertas
Do vazio que o domingo traz
Só se pode ser livre sem ninguém
Eu gosto das quatro horas da manhã
Quando as crianças dormem, os cachorros dormem
E os gatunos desmaiam ao lado dos bêbados ao lado das sarjetas
Só se pode ser feliz sozinho
Lembro do meu corpo jovem e magro
Quando eu voava nas asas da
imortalidade
E a coragem era o meu vestido mais bonito
Dias de filme
Só se pode ser livre sozinho
Gosto de lembrar de minha liberdade,
embalada em carteiras de cigarro importado
Sem avisos
Sem condições
Por vezes, tenho a impressão que ainda existe um brilho estelar em meus olhos
E eu tento soprar, para aquecer
Mas são faíscas de um isqueiro velho e sem gás
Eu achei que podia ser feliz, livre e dançando sob um céu borrado de uma noite quase fria há quinze anos atrás..
Eu achei que trazia minha liberdade sob asas tecidas com fios brilhantes saídos dos bumbuns de estrelas tecedoras feito aranhas
Eu me enganei fumando avisos de cravo em brasas importadas, no meu peito magro cheio de teclas de piano coberto em vestido de festa
Eu estou na sarjeta, um bêbado pseudo feliz, feito uma criança gatuna, cansada de fugir, vazia como um cachorro andando no centro deserto aos domingos.
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