sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Hypismo, Por Victor Leandro

Coluna Segunda Via

Hypismo
Por Victor Leandro

Os sorrisos, os gritos, o tom eufórico. Os elogios gastos retirados de alguma rede social. A pirotecnia verbal a circular de forma indiscriminada. A necessidade de provar que o que se vê é a coisa mais inusitada e grandiosa do mundo. A empolgação programada e convertida num gestual exagerado e fulgurante. 

Impossível a qualquer sujeito com o mínimo de bom senso não nausear com essa atmosfera delirante e inautêntica. Claro que, por vezes, é inevitável não se sentir atraído pelas luzes do espetáculo. Mas essa sensação, nos menos ingênuos, não dura mais do que um segundo, deixando apenas uma perplexidade que pode muito bem ser definida na frase avassaladora de Mano Brown: não gosto desse clima de festa.

O hypismo é o pior dos narcóticos lisérgicos, a droga última, a Ilha de Calipso da cultura pós-moderna.

Marx disse certa vez que era preciso superar a ilusão de felicidade para atingir a felicidade verdadeira. Vençamos o hypismo, e então poderemos ver as coisas do modo correto. O caos do mundo não se resolve com as cores de uma névoa. Contudo, e parece que ainda por muito tempo, a infelicidade permanente e real ainda está por ser de fato combatida. Assim, seguem os lúcidos em suas rotas obscuras, entremeados pela multidão que não cansa de lançar-lhes os seus cantos histéricos.

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