sexta-feira, 17 de abril de 2020

Primeira face do céu, de Breno Lacerda

Poesia

Primeira face do céu
Ao Rubem Fonseca (em memória)

A presença, como todo pássaro infinito, como todo rosto ignoto, é uma rosa efêmera a flutuar no nada. Foi apenas um castelinho moldado às mãos de um menino, e devassado pelo mar. Sou esse terno frágil  entre os prédios, pensei. Sou o pôr do sol amazônico, que incendeia a pele do céu, como uma orquestra de lava vulcânica. Fugaz, agressivo, num átimo. Mas que se evapora a desenhar um rosto de velho agonizante, nem alegre nem triste, apenas ausente. Sentei nas minhas calúnias. Enegrecia o céu, ocultei-me de mim.

Breno Lacerda

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