Coluna Segunda Via
As vantagens do fracasso
Por Victor Leandro
Primeiramente, é preciso dizer que somente aos grandes é dada a possibilidade de fracassar. Só quando se mira muito alto, nas linhas do impossível, é que se pode produzir uma magnitude em que o fracasso se converte numa palavra pertinente. Para os demais, há apenas vitórias e derrotas, pequenos eventos celebrados ou entristecidos em letra miúda.
Também não é acessível a quem se encontra no fracasso obter o triunfo. Eis o seu aspecto trágico. Quem se põe nos percursos do imenso está fadado a sucumbir. Desse modo, prontificar-se a ele é encampar uma tarefa necessariamente inglória, que jamais alcançará um termo satisfatório. Os fracassados são os permanentemente marcados pela incompletude de nunca chegar a nenhum lugar permanente.
Isso, porém, não significa que sejam frustrados. A frustração também é dada somente ao pensar mínimo. Para quem aspira ao elevado, é certo que o processo sempre gerará coisas extraordinárias. A grande questão, no entanto, é que elas serão insuficientes. É inevitável que fique algo por fazer. Nisso, o movimento se perpetua, e é nesse devir que se abrem todas as portas para o novo.
Fracassa-se na existência, no amor, na amizade, na política. Porém, resta evidente um espólio inventivo, um rastro de ação disruptiva e modificadora.
Num ano marcado pela mediocridade e pelo obscurantismo, quem fracassou é quem seguiu a via correta. E quem persiste no fracasso, percorrendo novamente o mesmo árduo caminho, é quem segue criando instantes de luminescência. Aproveitemos nosso erro como um alegre desígnio, pois é somente nesse vagar incerto que desviaremos do rumo das trevas. Feito isso, erremos de novo. Erremos melhor. Erremos revolucionariamente.
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