sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

DESEJO DE IMPOSSÍVEL, Por Marcos Ioshua Ribeiro


DESEJO DE IMPOSSÍVEL
Por Marcos Ioshua Ribeiro

Oscar Wilde dizia que escolhia os amigos pela pupila. Acho lícito. Porém, eu escolho meus amigos pelo que Florbela Espanca chamou de "desejo de impossível". Se alguém entre a multidão tem desejo de impossível, estou apto para me entregar. Sorver sua companhia, me alimentar de uma relação saudável. Mas como encontrar entre tantos e tantas alguém que tem desejo de impossível? Basta apenas prestar atenção. 

Verdadeiramente olhar para um sujeito: se ele tem um ar sonhador, gestos teatrais, uma cor no rosto que lembra um sonho da infância, se ele sabe escutar, diz de maneira sincera e pausada, se ele tem a habilidade de conversar sobre todas as coisas, está disposto a aprender e a ensinar, tem delitos que não conta facilmente, é de um espírito cansado e fatigado pela vida, mas ainda acredita na beleza, se é alguém que ainda chora, saber chorar é fundamental, (quem não chora não tem vida interior), se ele reconhece os homens como preciosos... eis um alguém que tem desejo de impossível.

De onde brotam essas almas? Incompreendidas, estourando vivacidade, prontas para consolar, põe em primeiro plano o diálogo e concebem grandes pensamentos no alto da solidão. Gostam de estar sozinhas, quando não devidamente acompanhadas. Tem uma cintilante loucura. Homens e mulheres que destroçar mitos, tabus e acreditam que a vida pode mais, por isso do sentimento romântico, a inclinação aventureira, o riso fácil, a recepção calorosa, a maneira característica de usar as palavras.

São essas pessoas que procuro. Todos precisamos do outro. Eu as procuro porque quero transformar minha solidão em comunhão. 

Quanto mais sinto solidão, mais abro a possibilidade para um comunhão vingadora. Penso nos pássaros que migram, que saudades que eles sentem em simplesmente voar. Saudades da necessidade de longos vôos. E quando chega o momento, depois do tempo caminhar sem pressa, da solidão martelar a alma, chega o momento do vôo, e é uma felicidade assombrosa. Uma felicidade de  reencontrar plenamente os céus. Ver tudo por cima. 

As verdadeiras companhias nos fazem ver tudo por cima.


Um comentário:

  1. Obrigado por esse texto, Marcos! É desse que eu me digo "queria ter escrito esse!"

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