Domingueiras
Domingo - dias das trevas
O domingo cavalgou sobre os bêbados
À velocidade de um caracol enfermo.
Não havia aberto os olhos, e o bafo matinal cortava a casa como um terremoto chileno.Tudo silêncio, quedo em si mesmo. Da varanda mal pintada, olhou a rua, horizonte infinito. Achou-a assim mais por saber-se finito do que eternal. Pois o intemporal encontra-se entre a pedra e seus estilhaços, entre o martelo e a batida. Todo domingo é lento, uníssono, tem gosto de câncer. Até o livro amarga a boca em cada palavra lida. O tempo silencia, mas grita a todo peito a gota perturbante da pia. A noite, carrasco implacável, prima da morte, como diria Shakespeare, fecha a tampa da urna dominical, espero estar vivo e morrer no sábado.
Autor: Breno Lacerda
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