Coluna Segunda Via
Teoria/praxis
Por Victor Leandro
Como podemos pensar de uma forma e agir de outra completamente inversa? Essa é uma pergunta que nos soa bastante embaraçosa, haja vista nossa inclinação para o pensamento. Como somos racionais, consideramos haver uma conexão imediata entre as ideias e a ação, e constrange-nos que a realidade não se dê assim. É um paroxismo que nos causa estranhamento em resolver.
Claro, existem os desonestos e os hipócritas, mas estes não oferecem nenhum problema sério. Sabe-se bem quais as suas motivações. O que causa perplexidade são os indivíduos sérios que promovem essa cisão, a qual nos faz muitas vezes descrer das potências do pensar.
Verdade é que a realização das ideias não é um movimento natural, tampouco imediato. Quando se pensa, já se tem uma atividade, porém esta é uma ação do pensamento. Para que se efetive como praxis no mundo empírico, é necessário um trabalho profundo de exame das situações apresentadas no real, o qual, muitas vezes, não estamos dispostos a fazer continuamente. Com isso, recorremos com frequência a soluções já configuradas no senso comum, as quais são bastante funcionais, porém têm pouca ou nenhuma relação com nossas incursões críticas.
O ritmo das práticas cotidianas e a divisão do trabalho também não colaboram. Juntos, eles promovem cisões que lançam nossas produções lógicas a uma esfera de simples elucubração, sem estarem conectadas com o que encontramos no plano sensível.
Mas é preciso insistir e não capitular. A solução talvez seja, para cada situação apresentada, colocar-se a pergunta “que ideias já depuradas por mim podem auxiliar-me a agir nesse caso?”. Por óbvio, é um procedimento que demandaria um forte refluxo na ordem aceleracionista em curso. Mas a proposta é exatamente essa. Com menos velocidade e mais reflexão, nossas proposições podem assentar um momento sobre o que fazemos, ou no mínimo, realizar a tentativa, o que já é de grande valia para a construção de uma praxis transformadora.
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