O juízo final, de Hieronymus Bosch |
A nova alvorada brasileira.
Uma tentativa de formalizar o inferno bolsonarista.
Por Julio Lamparelli
Na superfície as coisas transcorrem mais ou menos assim: o governo é constituído por duas bandas, uma miliciana e outra militar, com divergências e oposições que são propagadas dia-a-dia pela imprensa. O capitão desvairado é imprudente, o general sóbrio lhe poda as asas no dia seguinte e toca-se o barco – mesmo que a imprudência anunciada se torne, como que por magnetismo, logo inevitável e, já decantada na consciência comum, possa finalmente consumar-se (a primeira vez que se anunciou a demissão do Médico Liberal parecia o fim dos tempos; a sua realização, alguns dias depois, foi suave como tomar um copo d´água). Provocações à parte, vale dizer ainda que, além da oposição curiosa entre milícia e militares, núcleo duro do governo bifronte, há também a oposição do “centrão”, meio pé fora, meio pé dentro do governo: institucionalistas e constitucionalistas, bastiões da velha política de coalizão, viúvos repentinos do pacto democrático que, em sua versão mais bem-intencionada, parecem armar verdadeiras trincheiras contra a nova barbárie da ingovernabilidade bolsonarista. A consciência progressista, que costuma pintar assim o quadro, como os grandes jornais impressos ou a Rede Civilizatória de Televisão, naturalmente vê o racha imanente do governo como fato absoluto através do qual projeta, com bons olhos, sua esperança: esgarçar o bolsonarismo desvairado e aliar-se aos militares, esses verdadeiros pais responsáveis da república, que não hão de recusar essa antiga amante democrática, cada vez mais entregue, quase-vulgar.
Além do mal gosto da fábula, achamos que tal oposição cerrada contra a barbaridade bolsonarista leva um alto grau de alucinação – não sei até que ponto por ingenuidade histórica ou por estratégia de varejo. Contando, claro, com a boa-fé dos leitores, pergunto: por que, afinal, insistimos em sublinhar a oposição entre Militares e Milicianos, que existe e é por certo autoevidente, e não dedicamos um pouco mais de energia aos nossos queridos neurônios políticos para compreender, no fim das contas, por que A se juntou com B? Caso contrário, analisaremos o novo casal, incrédulos, como velhas fuxiqueiras que dizem entre si: “mas como pode, fulano com fulana?!”; e sabemos que o fuxico tem sempre um pouco de inveja e autopromoção, como assim transborda nos jornais republicanos. Ora, o disparate do casal que hoje rege o país é tudo, sobretudo real. O presidente da república é um miliciano e está aliado às Forças Armadas. Se corre um frio na espinha, começamos a entrar no caminho certo.
Evidentemente, o cenário não é fechado e nem está traçado de antemão: e talvez isso seja o mais pavoroso. O segredo de nosso novo tempo político não deverá ser decifrado pelos olhos viciados da antiga governabilidade, que foi pactuada e serena até onde seus olhos podiam ver: a bem da verdade, se tem alguma coisa provisória nessa história toda, deve ser antes de mais nada a democracia de coalizão, ela mesma uma figuração particular da eterna lei da “metamorfose ambulante” (DA SILVA, Luís Inácio Lula et. al., 2007; apud. MANDETTA, Luiz Henrique, 2020)[1] variante popular do velho “esqueçam tudo o que escrevi”, (cf. CARDOSO, Fernando Henrique, 1993)[2]; lei que tem sido, essa sim, nossa fatal predestinação, senão desde 1500, pelo menos desde 1964; provando, em avesso, que nada mudou[3]. Se deixarmos de lado a lente estreita da recente governabilidade democrática, veremos assim que a nova normalidade política parece se figurar mais como uma instabilidade permanente do que uma simples fase de transição para um novo “regime”: de um lado, o chefe da república sempre atirando pedra nos santos; de outro, a antiga amante democrática receosa entre puxar o tapete e se atrapalhar toda e; no fundo, segura e serena, as Forças Armadas flertando com elegância, simultaneamente, sua velha conhecida desesperada e sua nova amante desvairada.
Posto esse cenário provisório, vê-se já que o galã de cinco estrelas no peito e óculos rayban sairá ganhando; mesmo assim temos motivos para crer que, apesar das promessas irresistíveis da jovem democracia que parece topar tudo para recuperar o trono, nosso senhor militar já se decidiu por sua recente lua-de-mel. E se, eventualmente, largá-la, certamente não será para rebobinar a fita. Bom, é verdade que sua troca de matrimônio não foi uma ação exatamente apaixonada: todos sabem que os militares deploram do fundo do coração o soldadinho insubordinado que agora deita-se no leito republicano. Contudo, apesar dos clamores saudosistas dos antigos governantes ao coração amolecido dos generais, o novo casamento funda-se noutro registro: é frio e materialista. Para tentar compreender a gélida aritmética militar será preciso, no entanto, trocar o foco.
De fato, a desgastada metáfora do triângulo amoroso, clichê jornalístico de primeira hora, acaba-se logo quando adentramos as tenebrosas placas tectônicas do solo brasileiro, que solavancam no escuro, rasgando o véu da noiva e desnudando uma sublime visão do inferno, que acredito ter sido bem percebida pela consciência armada do Estado e, fora isso, também por alguns teóricos mais aventureiros que tentarei referenciar na medida do possível[4]. Ora, puxando na memória recente, lembramos que desde 2013 uma fenda profunda se abriu no chão social, de modo que todos viram como, entusiasmada, a velha classe política não demorou para também se queimar no fogo. Enquanto a situação governista encarcerava e emudecia o tímido e difuso espectro vermelho da revolta, mostrava-se já completamente inapta e sem ferramentas para governar o novo monstrinho que, logo, já derrubava também a velha oposição, nitidamente desajeitada no lombo da besta. Ao fundo, era o próprio cenário do pacto democrático que queimava, cujas leis e axiomas republicanos, já faz tempo, não passavam de palavras ao vento para a maioria dos pobres brasileiros, afogada em dívidas e governada pelas armas, fardadas ou não.
Mas antes de se alastrar pela roupa dos deuses, o fogo já estava queimando há algum tempo no dia-a-dia popular: a chave para compreender esse cenário infernal foi dada por Gabriel Feltran, em um famoso artigo de 2014 intitulado O valor dos pobres, no qual mostrou que o dinheiro era realmente o último elo objetivo da sociabilidade brasileira[5]. Grosso modo, Feltran percebeu como a reunião entre polícia, lei do crime, religião e trabalho precário estava delicadamente pacificada pela troca de mercadorias e calculadamente administrada pelo fluxo direcionado de dinheiro aos pobres, que caía todo mês nas contas cadastrais do governo mediante crédito fácil e programas sociais de toda sorte. Vale dizer que a miríade de fluxos monetários que ligava, em última instância, os miseráveis às cadeias de capital financeiro globais, mediadas pelo cofre da união – uma verdadeira solução-propaganda do novo modo de rentabilizar os pobres – já era naturalmente um remédio prescrito para uma sociedade em estado de putrefação; portanto, uma gambiarra financeira que já avançava as fronteiras da sobrevida nacional. Decompostos em matizes diversos de identidade social, vulnerabilidade e renda, os diversos setores da pobreza foram assim farejados pelo dinheiro, que oferecia a cada um o preço que lhes cabia no bolso: dinheiros mais ou menos onerosos, mais ou menos mediados pelo custeio do Estado. As dívidas infindáveis foram pouco a pouco sendo colhidas conforme o bolso de cada um, o que, afinal, era esperado, pois apesar do socorro aos pobres, o novo método de governo não havia trocado uma peça sequer do motor interno da máquina nacional de expropriar riqueza que, no mais, continuava girando. As dívidas variavam, caso a caso, conforme o dinheiro que cada um podia jogar na roleta do parcelamento infinito das mercadorias que, por sua vez, estavam sendo entregues; muito próximo daquilo que o governo costumava chamar de “cidadania”, e que praticamente objetivou de modo lapidar a democracia racionada[6] de outrora, incluídos no pacote de compras cidadãs o ensino superior, a moradia e tantas outras regalias da civilização ocidental. Quer dizer, o Brasil enfim cumpria o velho paradigma de sua formação, isto é, modernizava-se... na medida do possível, mesmo que a realização da Ideia nacional fosse feita às custas da boa aparência fisiológica prevista na cartilha do darwinismo progressista: mais do que um mamífero com bico de pato, tratava-se antes de uma ficção científica propriamente dita, o nosso Frankenstein social com ponte de safena, resgatado às pressas da cova do defunto na qual parecia, finalmente, descansar em paz desde 1980[7]; ou seja, já era suficientemente sinistra a madrugada em que foram desenterrar o morto.
Mas o zumbi assim reergueu-se por um breve período, reanimado pelo dinheiro nacional, seja pelo velho sistema militar do FGTS, seja por gastos astronômicos nunca antes vistos do OGU. Como, contudo, a corda financeira que mantinha o cadáver de pé era, por assim dizer, usurária de natureza, estando no limite enredada com o sistema das finanças mundiais, não tardou muito para ela estourar por si mesma; o estalido da economia mundial em 2008 foi finalmente transmitido pelos cabos de sustentação do grande sistema, passadas do núcleo orgânico ao paraíso das commodities e, assim, foi rapidamente transmitido à vida pacificada pelo dinheiro das periferias urbanas. Descendo das nuvens cobrando seu preço à Deus e ao mundo, o dinheiro volatizado no mundo das finanças foi, assim, bater na porta daquelas ressequidas moléculas do subemprego que haviam, há pouco, despertado no tecido do morto. Foi àquelas moléculas reanimadas com o dinheiro mais caro – justamente aquelas que, ou foram reunidas na faixa cadastral entre 3 a 6 salários mínimos, ou nem sequer foram cadastradas, porque mesmo pobres, não eram pobres o suficiente – foi a elas que o dinheiro chegou queimando, sem mediação e em primeiro lugar[8]. Logo as contas passaram a fechar no vermelho: universidade, saúde, moradia etc. O mote do transporte público foi, de fato, somente o cabo fragilizado a romper primeiro – já amplamente corroído pela prática criminosa da espoliação bruta – e sua supressão momentânea levou consigo todo o Olimpo “democrático” que nos regia desde 1986, justamente aquela agremiação política que tanto penou para encontrar seu sólido escoramento no método liberal-assistencialista de governar; este que caía. Injetar dinheiro barato no inferno foi, portanto, o lema propagado pelo Olimpo democrático, que fez dele sua América para o mundo, e mediante o qual acabou por jogar a si mesmo no lamaçal da violência financiada.
Com a queda dos deuses soou, finalmente, o segundo dobrar do sino: era a hora dos deuses ctônicos saírem do alçapão – todo aquele sistema de violência mercantilizada, com tráfico, milícia e polícia, finalmente despontou no firmamento da vida nacional. Após décadas de acúmulo ininterrupto de experiência em extorsão, enquanto reinava no céu a constelação da pax mercantil – de cuja natureza rentista os deuses infernais da expropriação armada eram somente uma fac-símile embrutecida –, estando já todos eles bem aclimatados ao solo democrático e aos seus mecanismos políticos e policiais mais profundos... ora, pensando bem, seu destino de glória estava escrito nas estrelas! E foi assim que, no tecido do morto, até agora irrigado com o dinheiro do Olimpo, as hifas da milícia puderem crescer e amadurecer; se hoje florescem às vistas de todos, elas o fazem quase naturalmente, como um grande mofo que se levanta no osso da Nova República.
A essa hora da noite, as Forças Armadas estavam recém-egressas do Haiti, onde tinham acabado de testar sua nova tecnologia do caos social e da qual já faziam dos morros cariocas cobaias frescas quando, em um súbito relance, viram o chão brasileiro assim se abrir. Viram o cadáver social que, solto como um lunático na beira do Vesúvio, clamava em plena telinha televisiva à baderna e à violência[9], à vingança e à desordem, tudo isso enquanto, do outro lado, assistiam o Olimpo democrático que escorregava quase que por si só para o ocaso; imediatamente, os militares correram em peso para a boca do inferno, onde já haviam instalado suas UPPS, e decidiram prontamente realizar uma intervenção militar no Rio de Janeiro, às vésperas do fim do mandato mais impopular da história do país. Após anos de experiência equatorial em desagregação humana, talvez receosos de que uma espécie de Jean-Bertrand Aristid brasileiro despontasse das urnas em 2018, os militares – que a essa altura já ocupavam com armas o portão do tártaro carioca – decidiram por sua conta e risco que estava na hora de abraçar o capeta; aquele que saía da fenda profunda. Logo após anunciar sua candidatura, Jair Bolsonaro, deputado federal para o qual o coração da milícia carioca, o conhecido bairro de Rio das Pedras, não passa de um quintal familiar, lança então seu time oficial: o general Hamilton Mourão como vice-presidente e – cheirando ainda à tinta meio fresca da barbaridade cometida em nome da pax armada de Porto Príncipe – o general Augusto Heleno, então candidato à chefia do Gabinete da Segurança Institucional da República.
É sabido que faz parte da intelligentsia militar sempre esperar o pior cenário e, convenhamos, não era preciso muita inteligência pessimista para ter sentido a bruma de gás-lacrimogêneo, bomba de efeito moral e bala de borracha que se espalhava pela América e pelo mundo. 2013 e 2014 foram nossas visões antecipadas do novo firmamento mundial, seguidas depois pelos secundaristas, pelas ocupações das fábricas de cultura e por uma retumbante greve de abastecimento deflagrada pelos caminhoneiros; cenário que, somado com a pressão avassaladora e suicida do sistema financeiro que pede de modo cada vez mais voraz a cabeça dos pobres; somando tudo isso ainda, na ponta do lápis, com a debilidade política dos deuses locais que só sabem puxar o tapete alheio e que com isso caem em bloco para debaixo da terra – de fato, a memória das ilhas centrais era uma precisa antevisão do que viria a ser o Chile, ou um Equador; uma Bolívia, uma Colômbia, uma Venezuela; uma Síria, um Iraque, uma Líbia... uma França! Um Brasil. Medidas preventivas: o Haiti é aqui. Primeiro passo: somar armas. É tido como certo, contudo, que as Forças Armadas não sustentariam poucas horas sequer de munição contra a polícia militar dos Estados – e isso só para contar com a ponta oficial do iceberg policial: quer dizer, “somar armas” para evitar um cenário de guerra-civil talvez não consista em simplesmente mobilizar o indefeso exército, mas também, e sobretudo, mobilizar aquela estranha corporação cheia de vasos comunicantes com o mundo do crime, a qual costumamos chamar de Polícia Militar[10] . Uma união entre Forças Armadas e o submundo das polícias, contando com os elos subterrâneos das ramificações ilegais que se tornaram o novo sustentáculo social depois do fim do dinheiro, parece ser aqui um pressuposto militar quase autoevidente para garantir a lei e a ordem em um país que caminha sonambulamente para o caos. E, infelizmente, os vasos comunicantes dessa verdadeira comunidade das armas realmente funcionam e estão operando, como vimos há poucos meses no Ceará. Forças militares e para-militares, exército e porão, palácio do planalto e escritório do crime: era chegada a hora dos militares retomarem sua velha máquina da violência nacional, nunca desmontada e nunca inteiramente desaquecida e que, agora, pelo contrário, mostrava-se ainda mais extensa e complexa, cheia de ramificações e saliências, plena de chefias locais. Retomar aquele antigo sistema da violência que uniu, por 21 anos, generais, políticos e empresários ao submundo do esquadrão da morte exigia, agora, um pacto de sangue com os monstrinhos que ali fizeram morada durante 36 anos de vigência democrática[11]. A garantia da lei e da ordem contará, por isso, com muita barbárie e confusão, afinal, os príncipes dos porões não seguem a lógica cartesiana nem falam a língua polida dos deuses do Olimpo; são extremamente violentos, fisiológicos e visam o lucro privado e a autopromoção com a distância curta de um palmo do nariz; afinal, foi assim que fizeram sua glória nas entranhas do jovem Frankenstein, e não haveriam de fazer diferente agora que ganharam a superfície. São estas bestas-feras que hoje reinam, sem focinheira, junto aos militares, apavorando os jornais e destruindo fantasias. Há pouco tempo, aliás, andam mais armados do que nunca, após terem finalmente revogado as portarias de rastreamento das armas, possibilitando as provisões necessárias para o primeiro destacamento[12]. Com efeito, a terrível aliança militar e política entre Exército e Milícias – a vitória histórica do anti-Geisel[13] – é por si mesma a declaração oficial de que o novo Brasil não será governado, no velho sentido administrativo do pacto de coalizão, mas sim coagido de modo terrorista, do chão ao céu, universalizando subitamente a lei do favelão, ou o grande Haiti que sempre foi aqui, garantindo que, na pacificação armada de qualquer coisa que se chama “nação” porque tão somente possui fronteiras, esteja sobretudo garantido o lucro e o patrimônio privado dos que se aventurarem no grande pântano... Ah, a economia!
Aqui entramos talvez no momento mais lunático de todo esse tour de force beligerante. Até onde nosso raciocínio aguenta, o assalto à mão armada da máquina política não foi dado para instaurar uma nova era liberal-guedeana, como sonham alguns ingênuos repórteres da imprensa privada. Não: ao que parece, para a surpresa de todos, a tendência dessa grande roda de extrair riqueza que agora está mais armada do que nunca é, justamente, seguir o curso e o velho método do que – pasmemos – já estava aí; o lema de retomar a economia tem aqui um sentindo mais forte do que se poderia imaginar[14]. Assumindo a caneta da mão dos economistas, que já perderam até os sapatos em plena crise viral, os milicos anunciaram o novo plano econômico do general Braga Neto, da Casa Civil, que, não por acaso, mal saíra do forno já vinha ao mundo da imprensa oficial com o apelido de “Dilma 3” e, também, de “novo PAC”; todas elas alcunhas difamatórias cunhadas pela ala inocente do governo que, cuidadosamente armazenada no ministério da economia, entendeu com muito mau humor do que se tratava o novo pacto Pró-Brasil; também reclamaram amiúde alguns espíritos lavajatistas, flatus vocis. Convenhamos, os militares de fato estragaram um pouco a festa: ora, tudo isso, todo derretimento institucional, toda reorganização política e todo o champanhe da véspera para, ao fim e ao cabo, manter as coisas como estavam? – aliás, desde 1964, pois vale lembrar que o PAC não fora nenhuma invenção esquerdista tirada da cartola e que, na verdade, voltava agora ao dono, mesmo que em versão editada. Reerguer, portanto, o morto pela segunda vez; reatá-lo aos mesmos cabos da economia que já rebentaram, num cenário mundial no qual o capitalismo parece ainda mais suicida do que antes: parece mesmo uma grande loucura. Bom, essa loucura tem nome e chama-se violência, o próprio capitalismo em seu momento de confissão, velha conhecida nossa. A dolorida fricção osso-com-osso sentida em nosso defunto é, assim, o sinal de que o dinheiro, aquele último colágeno social descoberto por Feltran, perdeu finalmente suas qualidades fisiológicas de amortecer o tranco[15]. Os pinos que entram agora nos membros lesionados são os pinos da violência, aquela que dormitava, translúcida, por detrás da “crisálida áurea” do dinheiro. A gestão armada do social que está por vir, uma vez instaurada e assentada, poderá finalmente manipular o corpo morto e reconectar os pobres aos cabos desgastados do capital – e os novos 600 reais estão aí para quem queira achar o contrário. Como eventualmente alguns cabos hão de faltar nessa segunda empreitada, pois o remendo está sendo feito em cima de outro, amputam-se as partes redundantes na base da bala: sem pactos de classes, promessas de nação, pactos civilizatórios ou progressismos de última hora; não, nada da antiga parafernália esclarecida: a nova ideologia é, imediatamente, o ranger das engrenagens do sistema da babilônia, e só pode ser espetacular na medida em que assumir, para si, o ar da convocação fúnebre que realiza[16] – let it burn[17]!
Recolocando, agora, a imagem inicial do matrimônio sobre o chão que arde em chamas, é preciso admitir que o recente casamento tem demonstrado sucesso: um líder relativamente popular, pois fala a língua das massas como ninguém, cujos impropérios são facilmente perdoados pela capacidade de coagir o grande pântano, tudo garantido pelo braço armado do exército, fora e dentro, escorregando aqui e ali reformas liberais acachapantes que, não sendo o centro do problema, serão mais facilmente injetadas do que poderiam ser por um apresentador de TV liberal com luvas de pelica. A “irracionalidade” de nosso capitão é a nova razão do pântano, o grande Faroeste nacional, que exibe novamente aos abutres o seu cadáver social – a nossa finada sociedade brasileira, mobilizada militarmente, e que ainda rende um cadinho. Goste quem gostar, são essas as condições para se manter, em solo nacional, o dilaceramento humano perpetuado pela moagem capitalista – como se estivéssemos diante da forma final da “contrarrevolução permanente” que, no dizer do velho Florestan Fernandes, sacrifica os pobres à dupla colheita da mais-valia, nacional e internacional, que no entanto só faz minguar. Portanto, um arranjo econômico que não só surpreendeu a todos ao adiar sua morte para além de 1980, com o advento do novo método liberal-progressista de extrair riqueza, como também não parece ter se esgotado por completo, agora, que o mofo e a podridão já se tornaram aparentes na face. Se a primeira resposta do dinheiro barato aos pobres foi improvisada, mas eficaz para sustentar o defunto nos marcos legais da civilização ocidental, a segunda gambiarra para garantir o moinho nacional será amplamente armada e violenta: se deverá ter tintas fascistas e logotipos partidários coroados pelo semblante metálico do calibre 38, não nos enganemos: isso tem mais a ver com o motor próprio de nossa burguesia nacional, sempre cercada de seus capitães-do-mato, do que, como quer Ricardo Antunes[18], com um desvio de rota fascista a ser, eventualmente, reparado. O raciocínio é na verdade inverso: é o fascismo que se parece com a gente, e não o contrário. Devemos nos poupar – pelo menos isso! – do vexame de clamar aos velhos algozes o socorro “fascista”, justamente aqueles que há pouco perdiam as unhas e todo pudor na derradeira raspa do tacho. Até porque, mesmo se quisessem voltar ao marco legal de sua história nacional, já não têm mais o mapa da mina: compete agora à engenharia militar o método para extrair, por assim dizer, o último suco do milho.
Isto posto, a anomalia social dirigida para o lucro exige estômago forte, doses de loucura e muito chumbo grosso. Os que se enjoam com carne podre terão de se acostumar com o frescor moribundo da nova forma de governar que, apresentando o cadáver mobilizado a ser esfolado, abriu um verdadeiro deus-nos-acuda intercapitalista. A deflagração da burguesia nacional pelo cadáver sacrificial é, ao que parece, o verdadeiro motor secreto da oposição política de superfície, entre alas empresariais diversas e coalizões de força de toda espécie, e alguns já começaram a perceber que terão de tirar as luvas se quiserem desposar o capitão ou, por que não? se associar a ele, com fraques verdes amarelos, de preferência. A oscilação entre um futuro de continuidade democrática e estado de exceção, neste cenário, é uma mera formalidade que depende do preço a ser dado pelo “centrão” para aderir à festa. Se hoje os crápulas armados ameaçam “limpar o cano do revólver para defender a democracia”, como fez por sinal nossa outra metamorfose ambulante chamada Roberto Jefferson, certamente não é para lhe tirar a ferrugem, mas sim a pólvora acumulada[19]. Ademais, pelo trupé do cavaleiro macabro, que anda ainda mais veloz durante a pandemia, pode-se já pressentir que as negociatas estão realmente em aberto: a última queda do ministro da Justiça, que para a fantasia democrática deveria soar como o último toque do gongo de nosso capitão, pelo visto não passou de uma moeda-de-troca para arrebanhar mais alguns dos velhos deuses ao novo governo infernal; afinal, e apesar de tudo, o “centrão” lembra que ainda é tão fisiológico quanto o miliciano que reina armado; sempre advertido, claro, que se cobrar muito alto, pode ver trancada a porta do congresso. Se isso eventualmente não ocorrer, então as instituições seguem funcionando normalmente – Funai, INPe, PF... STF –, apesar da bravata autonomista do Sr. Presidente que, também ele, lembra que um pouco de fisiologismo não faz mal a ninguém, sobretudo quando o fisiologismo anda junto com a coerção armada, um pouco parecido, diga-se de passagem, com a prática do submundo que já lhe é habitual. Quanto aos atuais antígonas do presidente, que visam 2022 com olhos gordos, dificilmente serão mais aptos do que ele para mobilizar com tanta perfeição o ódio dessa massa desagregada a ser explorada ou eliminada e que hoje trabalha, literalmente, até morrer; e, como nada é certo, se por algum motivo algum deles conseguir de fato desposá-lo, não sei se seria exatamente um bom-sinal. Esse pega-pra-capar, a face da nova política, tem assim como crivo final a tecnocracia social dos militares, que o administra, como em um grande leilão, enquanto se associa com os demônios mais rasteiros alçados ao poder. De resto, os ingênuos ficarão pelo caminho, mesmo se forem ricos e poderosos: é o custo a se pagar pela história, caso se decidam por não falar a língua dos novos anjos de fogo que se aproximam. Disso está certo o oráculo da Virgínia, que entre seu charlatanismo de quinta categoria deixa, ainda, passar um resto de filosofia escatológica da velha direita reacionária: no último natal, em inspiração deliberadamente apocalíptica, recomendou a todos passar 2020 com muito laissez faire e diligência rumo ao fim do mundo[20].
Bom, nesse abismo em ascendente, militarmente administrado, onde não há sequer lugar para burgueses minimamente pudicos ou, decerto, que não colham na cabeça seu pequeno par de chifres, o que se dirá, então, da esquerda? Se não quisermos cair do plano inclinado, mal-amados, com a Constituição de 88 às mãos, talvez seja o caso de se lembrar daquele difuso espectro vermelho de 2013/14, largado hoje ao abandono de algumas cadeias nacionais, ou dos estudantes pobres revoltosos, alguns desaparecidos do mapa, e tantos outros mais, sacrificados nas mãos da ordem democrática que agora afunda no breu. Um sopro de vento diz, contudo, que é impossível construir a luta, que o hálito dos mortos é hoje, meio sem fôlego, meio infecto, e corre perigo de vida – se, na melhor das hipóteses, já não agitam a bandeira do inimigo. O frio que foi acumulado madrugada adentro, sublime madrugada que já dura pelo menos 56 anos, parece agora congelar os nervos e impedir um só gesto de blasfêmia contra o enorme festim sacrificial que, por sua vez, prossegue. Entramos, neste exato momento, em um estranho compasso de espera, nos segundos mais gelados e derradeiros da noite, enquanto as figurações noturnas e difusas, semi-demoníacas, aproveitam para reerguer o cadáver nacional pela segunda vez, aos olhos do mundo, enquanto ainda não despontou o primeiro raio do Sol. O que será de nós quando a máquina voltar a funcionar? Ganhar coragem para ver o Cafarnaum mostrar-se, finalmente, à luz do dia? Respirar fundo e assistir o juízo final se abater sobre a Terra? Esperamos, estáticos, o destino fatal, o lago de fogo que virá com a segunda morte do defunto nacional[21]. Esquecemos, porventura, que alguns trabalhadores, bastante deles até, na verdade ainda seguem a postos, morrendo na ativa, alimentando os espectadores petrificados do último espetáculo crepuscular, do Mamon que reina: rolam, por trás dos panos, as velhas engrenagens da nova alvorada brasileira; da máquina do mundo, que gira silenciosa. Novamente, o relógio brasileiro tem o fuso-horário adiantado, e alguns raios de luz ganham a planície embrumada; apertamos os olhos e vemos, de relance; ora, mas apesar de tudo, o autômato demoníaco que traz a nova manhã ainda é movido pelos homens, esses que são recrutados às fileiras da morte? Ao trabalho! – é o capitão que grita, armado à frente dos generais, pois já é hora de cantar o galo.
1 de Maio de 2020
Notas
1 PARIZ, Tiago. “Lula: 'Prefiro ser considerado uma metamorfose ambulante”. G1. Brasília, 5 dez. 2007. <http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL205291-9356,00.html>. Acesso em 30 de abril, 2020. (cf. MENEGAT, Marildo. “Feitiço de Fundo de quintal – o PT, a crise, e a economia política da barbárie”. METAXY: Revista Brasileira de Cultura e Políticas em Direitos . v. 1, n. 1, 2017. p.10). Já quanto à Mandetta, ver o seu discurso de saída do ministério, no qual, após uma bravata tardo-iluminista, diz que prefere ser “uma metamorfose ambulante” (OHANA, Victor. “Madetta se despede do Ministério da saúde: ‘A ciência é a luz’. Carta capital. 30 de abril de 2020.<https://www.cartacapital.com.br/politica/mandetta-se-despede-do-ministerio-da-saude-a-ciencia-e-a-luz/> Acesso em 30 de abril, 2020).
2 FOLHA DE SÃO PAULO, “’Esqueçam tudo que escrevi’ é polêmica até hoje”. São Paulo, 13 out. 1996. < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/10/13/mais!/7.html>. Acesso em 30 de abril, 2020.
3 Não demorou para o velho título também cair sobre as costas do capitão: RANGEL, Ricardo. “Bolsonaro: a metamorfose ambulante”. Veja. 6 de abril de 2020. < https://veja.abril.com.br/blog/ricardo-rangel/bolsonaro-a-metamorfose-ambulante/>. Acesso em 30 de abril, 2020.
4 Grande parte das conclusões aqui tiradas se deve ao acompanhamento um pouco distante dos seminários das quartas, que acontecem na USP mensalmente, e que em função da absorção esponjosa dos argumentos e exposições ali debatidos receio, aqui, não poder fazer jus às devidas autorias. Espero também não distorcer muito as ideias originais. Algumas referências ficariam melhor encontradas nas citações diretas do professor Paulo Arantes, que podemos eventualmente fazer aqui quando reconhecermos a fonte. Sobre 2013, UPPS e desagregação social ver: ARANTES, Paulo Eduardo. “Depois de junho a paz será total”. In. O novo tempo do mundo. São Paulo: editora Boitempo, 2014. (p.353 – 460).
5 FELTRAN, Gabriel. “O valor dos pobres: a aposta no dinheiro como mediação para o conflito social contemporâneo”. Caderno CRH. Vol. 27, num. 72, set-dez. de 2014. p. 495 – 512. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
6 Até onde sei, o termo é de Carlos Marighella (cif. SECCO, Lincon. “A democracia racionada”. G1. 16 dez. 2013. <https://www.viomundo.com.br/politica/lincoln-secco-e-o-risco-da-democracia-racionada.html>. Acesso em 30 de abril de 2020).
7 Para uma visão anacrônica do problema, ver: DEAK, Csaba. “Acumulação entravada no Brasil e a crise dos anos 80”. Espaço e debates. Vol. 32. São Paulo, 1990; que, apesar das cartas entregues aos gritos de mais capitalismo, já havia, contudo, percebido como a máquina brasileira da pilhagem social começava a soluçar. Muito se disse à época dos anos 1990 sobre a “bonapartização” da burguesia nacional, da “crapulização” da elite etc. tendo em vista a ascensão de Fernando Collor à presidência. Ou seja: já tínhamos dado início ao thriller-night brasileiro.
8 Até onde pôde rastrear Paulo Arantes ainda à queima-roupa, eram sobretudo esses “peixes fora da rede” os sujeitos do milagre que ameaçou acontecer em Junho (ARANTES, Paulo Eduardo. Op. cit. p.455-6), conforme percebera no relato de Regina Magalhães de Souza, em um suposto capítulo de um livro inédito, e que tinha por nome “Trabalhadores vão à faculdade: notas para uma investigação sobre sujeitos que voltam a estudar”. Alerta, ainda, ao final do ensaio, que “se não soubermos ou não pudermos contar com eles para a tarefa política da geração que vem, nada feito” (Idem. p. 456).
9 Como não lembrar da enquete televisionada no dia 13 de junho de 2013 pelo programa Brasil Urgente, no qual Datena foi surpreendido de calças curtas pelo “povo” que, momentaneamente, passou a falar outra língua? (Aos interessados, acessar: https://www.youtube.com/watch?v=7cxOK7SOI2k).
10 É velho o problema da GLO em torno da articulação entre Exército e Polícia, por razões óbvias de monopólio da violência (cf. MEDEIROS, Afonso Mateus. “A desmilitarização das polícias e a legislação ordinária”. Brasiília, a.42, n.165, jan./mar. 2005). Por isso a unificação entre Forças Armadas e Polícia Militar é um problema espinhoso que também articula as entidades federativas (Federal e Estadual), sobretudo no Brasil: nosso capitão tem se esforçado, e com sucesso, para conquistar da mão dos governadores os soldados das guerras estaduais, o que já era meio caminho andado por questões de afinidade eletiva antes de assumir a chefia civil da República, e que agora anda com pernas próprias, posto que nem uma retroescavadeira deve deter o romance. O problema pode ser visto com maiores detalhes em: BARROCAL, André. “Violenta, Polícia Militar desponta como braço armado de Bolsonaro”. Carta Capital. 7 de mar., 2020. < https://www.cartacapital.com.br/politica/violenta-policia-militar-desponta-como-braco-armado-de-bolsonaro/>. Acesso em 1 de maio de 2020.
11 Sobre relação entre ditadura militar e milícias ver, por exemplo, a pesquisas do sociólogo fluminense José Cláudio Alves, da UFFRJ. Para apreensão rápida do problema, ver entrevista realizada pelo Deutsche Welle: SOARES, João. “Ditadura idealizou modelo atual das milícias” [entrevista com José Cláudio Alves]. 3 de agost. 2018. “Milícias tiveram seu embrião nos esquadrões da morte apoiados pela ditadura, afirma sociólogo. Em entrevista, ele rejeita a ideia de poder paralelo, apontando que grupos fariam parte da "dimensão ilegal do Estado".
12 AGÊNCIA O GLOBO. “Bolsonaro manda revogar portarias que facilitavam o rastreamento de armas”. Exame. 17 de abril, 2020. < https://exame.abril.com.br/brasil/bolsonaro-manda-revogar-portarias-que-facilitavam-o-rastreamento-de-armas/>. Acesso em 30 de abril de 2020.
13 DE BARROS, Celso Rocha. “Bolsonaro representa facção das Forças Armadas que ganhou poder com a tortura”. Folha de São Paulo. Eleições 2018.
14 Em uma de suas lives mais recentes, Paulo Arantes diz se tratar de uma espécie de “lulismo às avessas” o novo plano de nosso gênio maligno. A live foi realizada pela Adunifesp Seção Sindical no dia 27 de abril de 2020, e está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9u966nE4bVA.
15 Faz cerca de um ano que Marildo Menegat, adentrando a porta em aberto por Feltran, percebia também que adentrávamos uma nova fase da economia política da rapinagem. (cf. MENEGAT, Marildo. “Violência e barbárie: um pequeno estudo sobre as origens remotas do bolsonarismo”. Argum., Vitória, v. 11, n.2, p. 7-16, maio./ago. 2019.)
16 Prova de que, avançado o pacto do sistema da babilônia com o garção de costeletas, as coisas ficaram bem mais feias do que poderia imaginar até mesmo o espírito tropicalista mais extrovertido que, delicadamente, agora sai pela tangente. (cif. SCHWARZ, Roberto. “Prefácio com perguntas”. In: DE OLIVEIRA, Francisco. Crítica à razão dualista; O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2003. p. 11).
17 Trata-se de um comentário da socióloga Silvia Viana, em um dos seminários das quartas (ver nota 4), quando lembrou que a música mais escutada pelos soldados americanos em alguns dos fronts militares dos EUA era o pop “Let it burn”, de 2011, do artista Red. E, não nos iludamos, já não é ao “moinho da Bahia”, propriedade dos senhores, que hoje a música versa “deixar queimar”, tampouco o “fogo no canavial” de que falava Edison Carneiro (cif. CARNEIRO, Edison. Negros bantus, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937 apud DA CRUZ, Alessandra Carvalho. “O samba de roda”, samba e cultura popular em Salvador 1937-54. [Diss. Mestrado]. Salvador: UFBA, 2006. p.62).
18 Pelo menos até onde pude entender na live realizada pelo esquerdadiário disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wyfCQ0YR3Fg. Naturalmente, Antunes não é o único a propor uma repactuação com a burguesia nacional contra o mostro do pântano. Ver, por exemplo, a ala radical do PSOL repetir o velho mantra pela “unidade de ação com setores da burguesia” enquanto o circo pega fogo: MACIEL, Sirlene; PUERRO, Mauro. “1 de maio: qual é o caráter do ato?”. Esquerda online. 28 de abril de 2020. <https://esquerdaonline.com.br/2020/04/28/1o-de-maio-qual-o-carater-do-ato/.>. Acesso em 30 de abril de 2020. Concluem: “Portanto, com este ponto de acordo, somos a favor da unidade com FHC, Maia, Alcolumbre, governadores, enfim todos e todas que se posicionem contra Bolsonaro e seu governo fascista” – de fato, um time e tanto!
19 “E se for tentada de verdade esta violência [o impeachment de Bolsonaro] a gente vai ter que tirar a ferrugem do cano de nossos revólveres e lutar pelo Estado e lutar pela democracia”.(cif. ENEAS, Paulo. “Roberto Jefferson: tirar a ferrugem do cano de nossos revolveres e defender a democracia”. Política Nacional. 20 de abril de 2020. <https://criticanacional.com.br/2020/04/20/roberto-jefferson-tirar-a-ferrugem-do-cano-de-nossos-revolveres-e-defender-democracia/>. Acesso em 30 de abril de 2020.
20 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zb2XFgucFNU.
21 “O lago de fogo é a segunda morte”. Apocalipse 20: 13-15.
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