segunda-feira, 4 de maio de 2020

Uma reflexão sobre a morte em tempos de COVID-19, Por Bárbara Batista

Crônica



Uma reflexão sobre a morte em tempos de COVID-19
Por Bárbara Batista

“Porque a vida é trem bala, parceiro, e a gente é só 
passageiro prestes a partir...”

Em tempos de pandemia da COVID-19, muitos rostos conhecidos estão partindo, muitos estão indo cedo demais ou “viveu tempo o suficiente”. O nosso futuro ainda incerto, as dúvidas estão no nosso presente e nos causam sofrimento, o medo do que será de nós daqui para frente.

Nesses dias, diante de tantos acontecimentos, me veio a reflexão sobre a vida e a tão temida morte, afinal de contas, não gostamos de pensar que isso tudo um dia terá um fim. Porém, é inevitável não observar a linha tão tênue entre a vida e a morte. É o ciclo que nos recusamos a acreditar, mas, sempre estará aqui e sempre existirá.

Por nos recusarmos, acabamos não aproveitando determinados momentos com aquelas pessoas que amamos, pois sempre acreditamos que seremos agraciados com o amanhã. E se esse amanhã não chegar? O que você fez de bom para o mundo e para as pessoas que você amou? Você conseguiu cumprir com os objetivos que você traçou ao longo da sua vida?

A morte não se resume ao parar de respirar e acabar tudo, ainda deixamos o nosso legado mesmo após a morte, com isso também vem o luto. Ah, esse luto... É um sabor amargo que dá um nó na garganta, tudo dói, é muito duro você ser ciente que nunca mais verá aquela pessoa e com ele vem o sofrimento, a sensação que poderia ter feito mais.

Esses dias vivenciei uma experiência tão profunda, tão dolorosa, além do COVID-19, ainda existem outras tantas doenças que sentenciam diariamente pessoas a morte, como por exemplo, o câncer. Perdi um amigo para o câncer, assim, como pessoas bem próximas a mim também perderam pessoas que amavam tanto e pude acompanhar bem de perto.

Essas doenças a maioria das vezes, como citei, é uma sentença de morte o pior disso tudo: são sentenciados sem ter cometido algum crime. O hospital é o presídio, os corredores exalam a morte e o tempo parece correr para a morte chegar mais rápido.

Vi a morte de perto, é impressionante como ela tem tantas faces e uma delas era de uma pessoa qual não tinha vínculo, porém, tinha vínculo com pessoas que amo. É doído ver como as coisas simplesmente mudam de uma hora pra outra, tudo pode melhorar ou piorar num piscar de olhos, assim foi a chegada do fim da vida para essa pessoa: minutos a fio de sofrimento até a sua respiração parar.

O corpo não reage os comandos, a respiração para e o que ainda resta é apenas a reação espontânea do corpo em liberar seus fluídos. Enfermeiros correm, quem acompanha chora e em oração pede para a pessoa não morrer, tentam ressuscitar, porém, sem sucesso e se constata o tão temido óbito. Mais choro, mais dor e as seguintes perguntas: Por que ela tinha que morrer? Ela estava tão bem! Como isso pôde acontecer de uma hora pra outra? 

Em tempos de COVID-19 o sofrimento é maior, além de não poder ter aglomeração, a burocracia no cemitério aumentou por conta do aumento no número de sepultamentos, tornando o processo demorado. A despedida tornou-se mais curta, pois poucas pessoas podem acompanhar o enterro.

A realidade que nos recusamos a aceitar é que nascemos para morrer, que tudo morre, que nós morreremos e que não há nada até o momento que impedirá isso. E como dói saber que isso tudo terá um fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário