domingo, 24 de maio de 2020

“Para vocês, nos livros de História do Brasil, como será chamado esses tempos que estamos vivendo?” [Carta a Mariany Moura], por Jonas Araújo

A Pátria (1919), de Pedro Bruno

“Para vocês, nos livros de História do Brasil, como será chamado esses tempos que estamos vivendo?”
Por Jonas Araújo Pereira Júnior

Carta a Mariany Moura 

Você fez uma publicação que me deixou bastante intrigado, “Para vocês, nos livros de História do Brasil, como será chamado esses tempos que estamos vivendo?”. Achei muito pertinente o questionamento e comentei apresentando alguns elementos, numa espécie de sumário, em seguida você responde torcendo para que essa etapa passe rápido. Bem, na história todas as mudanças possuem seu próprio tempo e entender essa lógica é fundamental para compreendermos o tempo em que vivemos.

Primeiramente é importante frisar que não é do nosso ofício, professores de história, oferecer previsões, contudo, trabalhamos com a interpretação dos fatos e dos processos históricos. Se pararmos para analisar a linha do tempo das mudanças de cenário político no país é possível identificar que as mudanças são demoradas e deixam marcas profundas. Vou tentar resumir.

Início da República (1889-1930) 41 anos.

Quando a elite colonial se irritou com a realeza portuguesa por estar acabando com a escravidão do povo negro, não de boa vontade mas para atender os interesses do mercado internacional, essa elite colonial se uniu ao exército para fazer o golpe da República, o período que se seguiu foi a república velha, marcado pelo voto de cabresto, perseguição e exploração.

Processo de Democratização: Era Vargas, Estado Novo e Populismo (1930-1954) 24 anos.

Vargas Chega ao poder com um discurso de "revolução", aproveita a crise econômica mundial e a crise nacional da política do "Café com Leite", vende a ideia de uma república democrática com participação do povo. Contudo, sua proximidade com as ideias fascistas reverte a democracia a um estado ditatorial. Quando finalmente abriu espaço para a disputa democrática foi fortemente atacado pela oposição e cometeu suicídio em 1954.

O leve sopro democrático (1954-1964) 10 anos.

Antes de morrer Vargas escreve uma carta onde aponta que forças ocultas atacam o seu governo para retirar os direitos do povo que ele ajudou a conquistar. A publicidade desse fato provocou grande comoção nacional o que permitiu um breve sopro de “tranquilidade”. Contudo, em 1961, inicia-se uma nova reação da elite nacional contra as reformas de base que implementariam políticas públicas de redução da pobreza. Vem a acusação de um plano comunista (fake News) e em 1964 acontece o Golpe Militar.

Ditadura Militar (1964-1985) 21 anos.

Esse é o período mais truculento da política recente do país, marcado por atos institucionais (AI-1, AI-2, AI-3, AI-4 e AI-5) que reduziram a democracia a pó e promoveram a perseguição política, censura, tortura e assassinatos. Ela se encerrou com um acordo político em função do aprofundamento da crise política e econômica no país promovida por uma política de gestão irresponsável.

O exercício democrático (1985- 2016) 31 anos.

Esse período é marcado por um amplo processo de disputa de narrativa política por meio de propagandas, organizações sociais, partidos, grupos econômicos e militares. Nesse processo o palco das disputas foram os pleitos eleitorais. Ocorre a criação de vários partidos políticos que iniciam uma correlação de interesses particulares para aprovarem projetos econômicos e políticos. O povo passa a se tornar uma espécie de torcedor do processo político. O país fica divido entre a direita(azul) e a esquerda (vermelha).  Em 2013, com as jornadas de junho, esse período começa a apresentar os primeiros sinais de falência. Em 2016, com o golpe na Presidenta Dilma, ocorre o fechamento do ciclo.

A crise do exercício Democrático (2016 – até os dias atuais). 4 anos

Esse período está marcado pela retirada de direitos, previstos na constituição de 1988, por meio dos poderes constituídos. Um período muito singular, pois se pararmos para analisar as instituições democráticas se tornam o instrumento de corrosão dos valores democráticos e republicanos. Tudo começa quando o congresso aceita realizar o impeachment da Presidente Dilma sem apresentar nenhuma prova criminal, seguido do apoio do STF. No início do governo Temer (MDB), os poderes executivo e legislativo fazem uma dobradinha para aprovar um pacote de reformas para reduzir o papel do Estado junto ao povo brasileiro tais como: E.C do teto dos gastos públicos, reforma trabalhista, reforma previdenciária, reforma do ensino médio e etc. Os movimentos sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda passam a realizar greves gerais com manifestações de rua, mas não conseguem frear a nova ordem política. Chega as eleições de 2018, o candidato da direita é eliminado ainda no primeiro turno, vai ao segundo turno um candidato da esquerda, Haddad, contra um da extrema-direita, Bolsonaro. A extrema direita vence as eleições e no desenvolvimento do seu governo, fica claro que não possui um plano de desenvolvimento para o país, é uma cruel combinação de intolerância, racismo, machismo e subserviência ao mercado internacional. 

Enfim, se olharmos para a cronologia de cada período, o menor tempo durou 10 anos, e acabou servindo como transição entre duas experiências ditatoriais. Portanto, o período que estamos vivenciando é apenas o início de um longo processo.

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