Coluna Segunda Via
A Marvel, o bispo e a via revolucionária
Por Victor Leandro
Pânico previsível na antiga capital brasileira. O prefeito-bispo, que adora encontrar subterfúgios para não ter de trabalhar, descobriu que a Bienal do Livro de seu município não tinha nada contra a diversidade. Revoltado com esse crime de lesa-estupidez, enviou seus subordinados e asseclas. Conseguiu mais uma semana de ócio não-criativo e reanimou seu séquito de fundamentalistas delirantes.
A capitã Marvel imediatamente entrou na história, por meio dos criadores da revista, e hasteou sua bandeira colorida. Defendeu veementemente a pluralidade de pensamento e a liberdade inventiva de seus autores. Só se esqueceu de dizer que essa liberdade é uma companhia limitada. Recebeu aplausos e milhares de títulos vendidos.
Como num filme de mistério, nessa narrativa, o que importa é o que não se viu, embora estivesse o tempo todo a nossa frente. Marvel e pastores integram o mesmo espectro de dominação. Se de um lado temos arautos da hipocrisia e de uma moralidade anacrônica em nome do aumento progressivo das finanças do templo, do outro, há uma campanha privada imperialista violenta que, por meio da indústria cultural, reprime todas as formas de cultura que não estejam sob seu controle produtivo. Para tanto, esta incorpora de forma oportunista e irrestrita as pautas sociais, contanto que não envolvam o fim da exploração pelo capital. Um herói farsesco de nossos tempos.
O que se pode concluir desse falso conflito? Que não haverá mudança nenhuma, que os reacionários continuarão reacionários, que a Marvel continuará a ganhar rios de dinheiro, e que nenhuma transformação verdadeira advirá daí. Somente mais uma polêmica proveitosa para youtuberes.
Enquanto isso, os textos revolucionários continuam um perigo dormente. Brecht, Pasolini, Maiakovski e Boal não se queimam e não aparecem no jornal. Não há quem os leia nem quem os tome como ameaça. Assim, os grandes exploradores dormem sossegados. Tudo está tranquilo no turno do Capitão América.
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