Passo ao vácuo
Por Victor Leandro
Há mais Disneilândias entre o céu e a terra do que julgam os nossos vãos progressistas.
Não há gratuidade no capitalismo. Tudo é mais-valia. Nosso tempo livre não é nosso, ele pertence à ordem do consumo. Quando os comerciais de televisão dizem para que vivamos, eles designam exatamente o que querem dizer com essa mensagem, e o proveito econômico a ser tirado disso. Faça turismo, beba Coca-cola, compre a camisa do seu time de futebol, assista a filmes estúpidos.
Manaus, como não poderia deixar de ser numa pretensa cultura globalizada, não foge a esse desenho. Para suprimir o estado cultural em que ela mesma se envolta, tendo obliteradas as suas formas próprias de força criativa, a administração da cidade apropria-se da fórmula conhecida de festivais que visam promover o anestésico necessário para suportar a obscura realidade da capital, no que os governantes aproveitam ainda para fazer propaganda de si mesmos e obnubilar seu eleitorado crédulo e ávido pelo esquecimento.
No mais recente episódio desse circo oportunista, o ápice da alienação ficou por conta da apresentação de Fagner. Não se pode negar que houve coerência. A cidade dirigida por um partido golpista que recebe outro golpista para um público majoritariamente golpista. Menos adequada, é a posição dos ditos progressistas que, sem ter a menor consciência do seu gesto, festejam e corroboram essa verdadeira festa reacionária.
O socialismo não é um exercício teórico, mas um compromisso e uma atividade, cuja prática é o critério primeiro. Quem quer combater o fascismo não pode celebrar com ele, muito menos por migalhas de distração. Do contrário, tudo que resta é a risada dos opressores. Mas quem se importa com isso, quando se pode brincar com o Pato Donald e ouvir Canteiros? A diversão é mesmo o mais fácil dos caminhos para os enganadores.
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