sexta-feira, 13 de setembro de 2019

No passo a paço tudo é tão bonito. Por: Bruno Oliveira

Conto

No passo a paço tudo é tão bonito
por: Bruno Oliveira

EI BOLSONARO VAI TOMAR NO CÚ gritava em coro de felicidade bêbada o Jorge no meio da multidão, antes de sentir uma mão forte segurando o seu pescoço. Tu quer apanhar, seu arrombado? Se tu quiser é só continuar a falar essas bobagens aqui. Tu não tá vendo que isso é um evento de família. Aqui só tem gente boa, gente de bem. Queremos ouvir música e ir embora, mas fica difícil com um magrelas como tu gritando essas asneiras desse jeito, falou o dono da mão forte ao pobre rapaz, que pedia através dos olhos amedrontados que o soltasse e deixasse em paz pelo amor de Deus. E com Deus, o dono da mão forte, não brincava. E assim Jorge foi sentido aos poucos que o aperto se afrouxava. Mas Jorge estava cansado de ser capacho, ele tinha tomado algumas e se sentia corajoso. Lá do fundo do seu peito veio surgindo uma voz, que ele não conseguia segurar, uma necessidade, que ele não conseguia segurar, uma liberdade, que ele não conseguia segurar, uma vontade de mostrar o ser viril que sempre escondeu ser, e as palavras foram saindo num berro bem mais alto do que antes: EI BOLSO... foi quando Jorge sentiu um murrão na boca e lembrou que vida é uma merda e depois tomou outro murrão dessa vez pra lembrar que tinha cú e tinha medo e tomou o terceiro murrão de graça por pura maldade em nome do pai do filho e do espirito santo amém pra lembrar de nunca mais fazer coisa pra impressionar mulher. Jorge caiu como bosta no chão, devaneando coisas, e até imaginou um gato falante que ouvia música clássica no Teatro Amazonas, enquanto enchia um copo de Antártica gelada.
Jorge jamais esqueceu o que gato repetia incessantemente dentro do seu ouvido: tu quer festejar com fascista? Fascista festeja dando porrada!

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