quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Dionísio, meu camarada; de Ângela Cláudia

Poesia

Dionísio, meu camarada

Dionísio uma vez contou pra mim que já guardavam gordura pra fazer sabão, antes mesmo deu sonhar em ser criatura. Ele tinha a voz doce, um doce visceral, escaldante, suculento. Inflamável como o caos. Dava sede ouvi-lo. Muita. Dessas que se mata com um pulo de cabeça, sexo, ou - alguns copos de vinho. As coisas viscerais sempre dão sede, será? Tantas milhões de pessoas morrem de sede à deriva no mar. Uns corroídos pelo sal em excesso da água, outros por não terem bebido dela. Do caos explode a vida, assim como a vacina do veneno, como o sabão do óleo. Dionísio, meu camarada, foi quem botou o primeiro cálice em uma comemoração dos meus antepassados. Foi também quem matou de overdose alguns ídolos. Mas hoje em dia, meio mal interpretado, se esconde discreto nas outras coisas inflamáveis. Como a arte, as drogas, e a mente. Dentre outras que alastram rápido o fogo caso risquemos apenas a faísca, do nosso tão pequenino-humano-pavio.

Autora: Ângela Cláudia

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