segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Caminhando nas nuvens - a morte da esquerda e a estranha querela do stalinismo, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via



Caminhando nas nuvens - a morte da esquerda e a estranha querela do stalinismo
por Victor Leandro

Dois debates têm tomado a atenção das alas esquerdistas nacionais nas últimas semanas: a morte da esquerda e o lugar de Stálin na história. O primeiro foi motivado por um artigo de Vladimir Safatle, publicado na versão brasileira do periódico El País. Já o segundo vem de uma disputa antiga, mas que tomou formas mais agudas com a ascensão das leituras de Domenico Losurdo, agora levantadas pelo ativista internético Jones Manoel.

No caso do líder russo, a polêmica foi tão grande que ganhou até as páginas da Folha de São Paulo, que deleitou-se em relatar a polêmica e seus atores, que, providos de suas armas referenciais, desatam a discutir e a defender seu ponto de vista em torno do legado ora obscuro, ora esplendoroso que envolve o período stalinista.

Nos dois casos, o que causa curiosidade é que, diante de ataques frontais e assumidos contra as camadas operárias e os mais pobres, nossos socialistas desperdicem tanto tempo e energia com questões distanciadas de nossa urgência comum. É como se, debaixo das trincheiras, os guerrilheiros resolvessem tocar uma sinfonia de Beethoven. Pode ser belo, importante e grandioso, porém absurdamente impróprio para o momento.

Contra isso, convém lembrar Mao Tsé Tung, que coloca a necessidade de pensar primeiro as contradições principais, e em seguida as secundárias. É uma ideia simples, mas que na prática parece muito fácil de esquecer.

Não, a esquerda não morreu, apenas ficou encantada. Contudo, esse encantamento pode ser pior que a morte, pois os corpos extáticos permanecem ocupando o lugar do novo. Para movê-los novamente, é preciso escutar mais uma vez o povo. Depois disso, é que poderemos então apreciar Beethoven.

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