Silêncio
Foi há dez anos que tomara a decisão de calar, mas não de não ser visto. Assim, todos os dias, sentava-se no banco da praça, e ali permanecia. Com o tempo, passou a chamar a atenção dos passantes, que lhe perguntavam a partir de preocupações.
-Precisa de ajuda?
-Quer falar sobre o que aconteceu?
Mas ele não dizia. Apenas olhava, e se mantinha pensante. Sim, porque os pensamentos corriam dentro dele com todo o vigor, sendo que com frequência estavam manifestos no olhar, no gesto insinuante das feições. Animados, os interlocutores apressavam-se em inquirir mais e mais. Porém, apesar das expressões efusivas, não havia respostas sonoras.
De repente, notou que descumpria com seu rosto o pacto secreto. Resolveu nessa hora que deveria fazer desaparecer o semblante. Sim, não poderia dizer nada com nenhuma parte do corpo. Do contrário, trairia a si próprio. E foi como fez. Dias e noites com movimentos apenas involuntários, numa plena renúncia, que atraia o público com forte admiração. Por que faz isso? Será por causa de uma tristeza, uma decepção aguda?
Ao ouvir a pergunta, empertigou-se internamente. Não, não era o bastante. Sua simples presença ali já comunicava algo. Encarcerou-se em casa desde então.
Houve quem percebesse que ele ali mais não estava; porém, com o tempo, foram-no esquecendo. Estava totalmente fora e dentro do mundo.
-Entretanto, lamento dizer, pensa ainda nas palavras já ditas, nas palavras ausentes, na coisa inoculta. No estar aqui e no permanecer lá, onde o instante é premente e a alegria perdida. O nada, ele é mesmo impossível.
Victor Leandro
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