O divã
Estava na casa, e era uma atração. Todos correram para olhar para ele, tão logo anunciado. Diante de sua presença, sentiram que era mesmo o que imaginavam. Em suas mentes, desde logo circulou o lastro de sua história. A palavra, o sonho, a interpretação. E foi pensando nisso que riram juntos. Era algo tão ontológico que nem parecia verdadeiro.
-Experimentem.
Um a um, todos deitaram-se e ali deixaram suas impressões. Alguns, com disfarçada resistência, troçavam de seu simbolismo, e brincavam de simular conflitos, provavelmente autênticos. Outros, com menos talento, endureciam-se e não eram capazes de estender-se por inteiro, e ficavam colocados apenas a meio-corpo. Somente uma, quando viu chegada a sua vez, optou por não esconder o medo, recolhendo-se a uma sinceridade defensora.
-Não.
Continuaram por ali, conversando. De repente, passaram a tratar de ideias perturbadoras, temas mórbidos que remetiam a uma inquietação. Começaram então a recordar suas perturbações de infância, revelando simultaneamente histórias estranhas e confusas, perversas e tristes, até chegarem ao momento em que, sem se darem por isso, estavam todos sentados lado a lado, dividindo vozes sussurrantes, acomodados no tecido macio e verde do divã.
Nessa hora, foram despertados por um bater de porta. Etel, que recusou o convite para sentar-se, havia saído entrementes.
Assustados, os amigos a acompanharam com pés ligeiros. Mais do que nunca, desejavam apenas o silêncio.
Victor Leandro
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