sábado, 8 de fevereiro de 2020

Lição de moral, de Matheus Cascaes

Conto

sem título, de Giovanne Reis.

Lição de moral*

Quando viu aquela bunda ossuda, ficou logo de pau duro. Não sabia se o que o excitava era a bunda em si ou o modo como ela se apresentava a ele naquele matagal. Nua e empinada. Desprotegida e vulnerável. Esperando ser comida.

Com movimentos firmes de macho decidido, sacou o pau, puxando-o por cima da cintura da calça, como quem saca um revólver, rasgou o plástico da camisinha do governo e equipou-se com ela. Precisava se proteger. Aquele cu podre devia estar cheio de doenças. Sabe-se lá por onde pode ter passado.

Pouco antes de penetrar, começou a tremer. Por um momento, a possibilidade de pegar uma DST mexeu com ele. Chegou a pensar em arrancar a camisinha e entrar de cabeça. Mas foi só por um momento. Como homem que era, rapidamente, se recompôs e voltou ao trabalho.

Meteu.

Enfiou com tudo e sem avisar a jeba endurecida. O cuzinho, que, momentos antes, estava encolhido de medo, rasgou-se. Não passou nem cuspe. De lubrificante, havia apenas o pouco que vinha na camisinha vagabunda. Mas isso não era problema. À medida que o vaivém se intensificava, o pouco lubrificante misturava-se com o sangue que jorrava do rasgo e com a merda ainda presente no cu, possibilitando um bom deslizamento do instrumento.

Bora, safado! Geme! 

Irritou-se porque o moleque já não lutava mais com ele. Desde que fora pego, deixou ser penetrado sem esboçar qualquer reação. Fora o cuzinho fechado. Devia estar com medo, suportando a dor e implorando pra acabar. Devia estar aprendendo bem. Pensar nisso enrijeceu ainda mais a sua jiromba. Se era desse jeito, ia se demorar o máximo que conseguisse.

Rasgou a camisa do moleque. Como um predador, analisou cada detalhe da costa esquelética do menino, frágil como a de uma bonequinha de plástico. Percebeu que uma cicatriz enorme, quase do tamanho da espinha dorsal, paralela a esta, só que um pouco mais à esquerda, atravessava aquela costa. Facada?

Sentiu vontade de lamber a cicatriz. Lambeu. Deliciou-se com o relevo que passava por sua língua e com o gosto salgado que chegava às suas papilas. Nesse momento, os pelos do menino se eriçaram. 

Tá gostando, é, veadinho? Perguntou com um sorriso de hiena no rosto. 

Colocou-se, então, numa posição ereta, segurou firmemente a cintura de sua presa e começou a meter com mais força. Foi inventar de correr logo pro mato. Otário. O moleque soltou um berro de porco no abate e se cagou todo. 

Filha da puta! Enfiou o pau petrificado cheio de merda com o máximo de força que conseguiu. A camisinha rasgou. Ejaculou dentro do cu cheio de bosta e sangue.

Isso é pra você, seu marginalzinho, aprender a nunca mais roubar a mulher dos outros. Disse, enquanto tirava rapidamente o pau e catava o celular no bolso da bermuda do moleque jogada num canto.

Teso, colocou o pau pra dentro, enquanto o moleque desempinava o rabo e desabava no chão. Caminhou até a saída do matagal, orgulhoso de ter ensinado uma lição àquele garoto. Exatamente como seu pai havia lhe ensinado.

Matheus Cascaes



*Conto publicado no segundo volume da revista Bodozine, lançado no dia 05 de dezembro de 2017, no auditório anexo da Escola Normal Superior (UEA), em Manaus. Na ocasião, o escritor Milton Hatoum, que prestigiava o evento, fez o seguinte comentário a respeito da revista: "Nem tudo é poesia".

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