terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Ladeira dos Bandeirantes, de Breno Lacerda

poesia



Ladeira dos Bandeirantes.

A voz do silêncio é aguda e abismal.

Diante dos  meus olhos, montes plúmbeos se formam entre as nuvens. Às vezes se assemelham a vulcões, ou a rachaduras apocalípticas. Os ventos, como corcéis, amontoam-se nesses penedos. E, de chofre, a guerra de dias tão sufocados estoura ao som grave de bombas terríveis. A primeira consequência é o assalto dos olhos, que não veem nada ante a nebulosidade líquida dos fios alinhavados. Num átimo, incontáveis paraquedistas  suicidas explodem nos telhados suspensos. Deus parece querer vomitar, pois seu estômago ressoa fortemente. O barulho é de embate ferrenho. Confrontam-se o Dia parado e o Universo em constante devenir. Não há vencedores, não há nada.

E as casas continuam molhadas, a ladeira continua molhada. E eu, pasmo dentro de mim, agrilhoado nesse século, contínuo molhado. Os carros passam pela Bandeirantes, como passam pela minha vida.

Breno Lacerda

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