O povo e seus tribunos
por Victor Leandro
Muito se falou, e tem-se ainda falado, sobre o abismo entre as lideranças políticas de esquerda e o povo a quem pretendem representar. Já nos meios acadêmicos, são frequentes as reclamações de que os intelectuais vivem agora encastelados pelos muros das universidades, distantes das mais densas camadas da população, e que suas realizações pouco ou nada se relacionam com a linguagem e os problemas que circulam entre os mais pobres.
Num automatismo previsível, as soluções brotam gritantemente. É preciso retomar o trabalho de base, dizem aos políticos. Já aos teóricos, é necessário que comecem a trafegar pelas periferias e que façam seus conhecimentos transitarem de maneira mais acessível. Assim, restauraremos os elos perdidos com as massas incrédulas.
Mas, será essa mesma a questão, ou estamos falando somente de parte dela? Se olharmos atentamente para o que está sendo feito, veremos que este trabalho de corpo a corpo é sim realizado, tanto por parte da ala política, quanto da universitária e afins. Não são nada raros os projetos que dialogam com as comunidades, inclusive as mais distantes, de modo que os vínculos seguem mantidos, e, em muitos casos, chegam a ser mais intensos que em épocas anteriores.
O problema, parece, é muito mais sutil. Não falta proximidade, mas comunicação, ou melhor, troca. Quando os representantes vão ao povo, chegam a ele com as respostas hierarquicamente constituídas; querem lhe falar disso e daquilo, ensinar-lhe uma porção de coisas, quando o verdadeiro trabalho consiste justamente em ter e aprender com ele, para, a partir de seus dizeres, compreender seus reais anseios, no que em seguida, juntamente com suas considerações, devem propor soluções factíveis e conexas com o mundo que o cerca.
Intelectuais e políticos não ensinam o povo. Antes, são seus aprendizes e ouvintes.
Não falar pelos homens e mulheres, mas com eles. Não determinar o que querem, e sim vocalizar seus mais profundos anseios. Esta é a tarefa de um autêntico tribuno do povo, para o que sua atividade pública e teórica servem de esteio, porém nunca de fundamento. Tal é o caminho a que apontam todas as pedras da revolução. Nele, sigamos firmes.
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