quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Bolsonaro não diz nada, por Victor Leandro


Política

Bolsonaro não diz nada
Por Victor Leandro

Há algum tempo, corre um debate interessante sobre se o nome de Bolsonaro, o suposto presidente do país, merece ser pronunciado nas vias opositoras. Os que se negam a falar sua denominação de batismo dizem que tal ato seria uma iniquidade que só ajuda a promove-lo indevidamente. Já os opositores desse argumento acreditam que, para combater o inimigo, é preciso designá-lo com todas as letras.
Contudo, há mais uma hipótese, e que pesa em favor do primeiro grupo de contendores. Inconscientemente, é provável que os que se recusam a dizer o nome de seu malfeitor saibam que este não merece ser falado simplesmente porque não há um objeto nem tampouco um conceito que possam ser relacionados à coisa. Em outras palavras, Bolsonaro não existe, é só um significante vazio, cuja materialidade tosca ludibria nossos sentidos.
Mas, o que seria então essa figura que aparece nos jornais e na televisão, pronunciando impropérios? Como o autômato da máquina da xadrez, ele nada mais é do que uma máscara, a face – nem tão – oculta de nossas classes dominantes, que precisam esconder sua fealdade por meio de um porta-voz ignominioso.
Nenhuma das frases de Bolsonaro é sua. Todas as palavras que profere já foram ditas em outro lugar. Elas passam por ele como que por um megafone. De igual maneira, pouco se pode dizer sobre a realidade do bolsonarismo. Este, em sua irrelevância desassumida, não é também mais do que um falso termo para escamotear o mau e velho caráter fascista das elites do país.
Bolsonaro – aqui, note-se, ele é evocado apenas como problema de análise, não como sujeito -, até agora, nunca disse nada, e é provável que nunca irá dizer. A linguagem é um recurso humano, e não de seus atrofiados replicantes. Que não se fale dele de maneira direta, é uma maneira adequada de fazer saber que ele nunca esteve lá, e que nossos algozes, os verdadeiros oponentes, repousam tranquilos, enquanto a multidão se distrai ingenuamente demolindo os bonecos dos ventríloquos.

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