sexta-feira, 16 de agosto de 2019

De Marx a Schopenhauer, por Victor Leandro


FILOSOFIA
De Marx a Schopenhauer
Por Victor Leandro

A humanidade é uma causa perdida. A existência é uma oscilação entre a angústia moderada e o desespero. Todo projeto está fadado a naufragar. Ser feliz é ser o menos infeliz possível. A ausência de dor e a nulidade são a única alegria possível. Somente eliminando o desejo pode-se alcançar alguma satisfação.
Todas essas proposições são provavelmente verdadeiras, mas não têm significado para os socialmente oprimidos. Como pode quem tem fome ocupar-se de uma perturbação metafísica, quando está acossado pela premente necessidade de sobreviver? Sem dúvida, não há pensamento acessível sobre o estar no mundo para os explorados. O existencialismo é uma filosofia burguesa.
O marxismo costumeiramente é associado a uma ideia utópica de sumo bem, mas esse raciocínio parece equivocado. O mais provável é que ele seja a mais perversa das doutrinas, pois visa colocar o indivíduo diante da realidade de que, para além da resolução de seus problemas materiais, não há qualquer sentido na vida humana. Uma teoria violenta da aniquilação.
Nesse sentido, Marx talvez seja mesmo o mais perigoso dos homens, pois é por meio dele que nos tornaremos todos aptos a imergir em Schopenhauer.
Mas, por enquanto, este é ainda um horizonte distante. Estamos seguros em nossas privações capitalistas. O desalento é privilégio dos ricos. A pobreza e a miséria permanecem ainda como o inimigo a ser combatido. Derrotemo-nas, e então tudo será visto com clareza. Somente nessa hora, é que poderemos marchar decididos para a nadificação. O último precipício ainda é um lugar distante.


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