Bloqueio
Se você acha que
qualquer coisa pode virar um conto, então continue a ler isso aqui. A diferença
é que quem narra é uma mulher e não um homem.
Em um dia comum de trabalho e correria pra
Clarisse, ela levantou caindo de sono, pegou o celular como de costume e
verificou as notificações antes das seis da manhã. Meio acordada, meio dormindo
ela sentou no trono sanitário e checou o Whatsapp,
o Messenger, o Instagram, e as outras tralhas todas que tem nas redes. Como
uma pessoa ansiosa, dá conta desse monte de porcaria que atrasa a vida dela e
de todo mundo. Quando abriu a conversa do Messenger, estava lá aquela foto de
uma cara falando com ela.
Ela esfregou os olhos pra olhar quem era e não
reconheceu, esfregou novamente e não fez a mínima ideia de quem seria aquele
cara na foto com o rosto de macho bom de cama, inteligente e que poderia foder
a vida de alguém que estivesse feliz em um casamento duradouro.
Abriu a conversa e já foi lendo aquela
enxurrada de mensagens de machista escroto quando quer “pegar alguém “ “Tudo
bem linda? ” “ Como você está? ” “ Você
lembra de mim?” “Vi que nós temos 94
amigos em comum no Facebook”. “Eu sou o
Paulo, filho do seu Miguel”.
Aí Clarisse pensou: “
de onde esse psicopata me conhece? Afinal, 94 amigos em comum é muita gente. Eu
vou stalkear a criatura e tentar entender isso. Tomara que não seja nenhum
bolsominion do MBL”.
Ela começou a jornada em busca de lembrar
quem era aquela belezura que do nada, do nadinha mesmo, apareceu “todo todo”
puxando papo quase amanhecendo o dia. Olhou fotos antigas, leu postagens e não conseguiu
descobrir quem era aquela coisa linda.
Pelas fotos e postagens já percebeu logo
que ele era comprometido assim como ela, percebeu que o dito cujo estava em viajem
pela Europa e que morava em uma cidade distante. Descobriu a profissão ,
analisou os locais que ele frequentava, analisou as roupas e sapatos que ele
usava e até o tipo de comida que ele gostava. Nas redes sociais para uma boa
stalkeadora, cinco minutos fuçando são suficientes para desvendar até os mais
íntimos dos segredos. Então voltou na
conversa e respondeu: “ Infelizmente não te conheço, desculpa, nem lendo seu
nome, nem vendo suas fotos eu consigo lembrar e nem ter uma vaga lembrança de
quem você seja. Vou precisar sair do papo porque vou trabalhar e não tenho
tempo, minha vida é de tripla jornada.” Clarisse no fundo no fundo não queria
sair daquela conversa, mas precisaria dar um basta.
Paulo respondeu: “ você prometeu casar comigo quando éramos
criança e não lembra? ”, “eu te procurei durante 20 anos e agora te
achei”.
Clarisse não conseguia lembrar
mesmo e estava ficando com medo. Depois de muitas coisas que ele contou da
infância, ela lembrou da família dele, de tudo, mas não lembrava dele, parecia
que tudo aquilo era mentira, história inventada e só. Ela não lembrou de nada
do que ele contou, mas ele contou muitos detalhes , detalhes que só sabia quem
tinha vivido uma história que marcou o passado distante. Mesmo assustada, leu
toda a conversa e o tratou com educação. Depois de muitas histórias, ela disse
que ainda bem que ele estava bem e casado e que ambos tinham as suas vidas
amorosas bem resolvidas. Ela casada há mais de 17 anos e Ele casado pela
segunda vez, mas essa última, casado bem recente e naquele exato momento da
conversa, Ele estava em lua de mel.
Clarisse imaginou que Paulo estivesse realizado
e ficou feliz por isso. Ela só queria se despedir e pensar nessa confusão em
outro dia, não queria mais continuar aquele papo no qual ela não sabia
exatamente o objetivo e nem onde iria parar. Ele pediu o número de telefone e
Ela deu um número errado, despediu-se dele e depois o bloqueou. Preferiu pensar que aquilo tudo era
imaginação, não porque um cara bonitão a cantou ou coisa do tipo, mas por não
se sentir segura e ter sido pega de surpresa.
Escolheu continuar a vida sem sustos, sem falsas expectativas, com
segurança e controle de tudo, apesar de carregar dúvidas sobre o que poderia
ter acontecido se tivesse continuado aquela conversa de novela mexicana.
Autora: Ângela Cláudia
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