segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Imperialismo futebolístico ou os ópios não óbvios da alegria do povo, Por Victor Leandro

Coluna Segunda Via

Imperialismo futebolístico ou os ópios não óbvios da alegria do povo
Por Victor Leandro


Há algo de podre no país do futebol. Depois de décadas de desacertos e peripécias retrógradas, finalmente os clubes - nomeadamente, Palmeiras e, com maior competência, o Flamengo - chegaram ao tão sonhado estágio da excelência administrativa. Contudo, como tudo o que ocorre no capitalismo, esse avanço está longe de ser tão só uma boa notícia. Antes, é uma imensurável fonte de preocupação.

Evidentemente, nada disso aparece de maneira imediata para o grande público. Encantados, os torcedores, especialmente agora os rubro-negros, comemoram os grandes feitos futebolísticos de seu time, sem perceberem que estes em nada têm relação com o que ocorre dentro de campo. A ascensão flamenguista, ao contrário da dos anos 1980, não é um triunfo de jogadores e comissão técnica, e sim de uma gestão. Mais do que qualquer coisa, o que está sendo provado é que o futebol hoje não é decidido nas quatro linhas, mas nas mesas onde são traçadas as estratégias de negócios.

Em termos de teoria marxista, tais processos correspondem exatamente à conhecida fase imperialista do capital, em que apenas um conjunto delimitado de empresas controla todo um setor produtivo. No torneio da CBF, a consequência inevitável é que este se torne um objeto para a disputa de poucos, tal como já ocorre nas sociedades econômica e futebolisticamente avançadas da Europa.

Claro, muitos, tomados por suas paixões, dirão que isso pode ser facilmente revertido com uma melhoria nos modelos de governança do esporte, e que, no final, as mudanças em curso são benéficas para tal objetivo. Mas não é essa justamente a ilusão própria do meritocratismo liberal? Nada como uma falsa caixinha de surpresas para perpetuar nosso vão engano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário