Imperialismo futebolístico ou os ópios não óbvios da alegria do povo
Por Victor Leandro
Há algo de podre no país do futebol. Depois de décadas de desacertos e peripécias retrógradas, finalmente os clubes - nomeadamente, Palmeiras e, com maior competência, o Flamengo - chegaram ao tão sonhado estágio da excelência administrativa. Contudo, como tudo o que ocorre no capitalismo, esse avanço está longe de ser tão só uma boa notícia. Antes, é uma imensurável fonte de preocupação.
Evidentemente, nada disso aparece de maneira imediata para o grande público. Encantados, os torcedores, especialmente agora os rubro-negros, comemoram os grandes feitos futebolísticos de seu time, sem perceberem que estes em nada têm relação com o que ocorre dentro de campo. A ascensão flamenguista, ao contrário da dos anos 1980, não é um triunfo de jogadores e comissão técnica, e sim de uma gestão. Mais do que qualquer coisa, o que está sendo provado é que o futebol hoje não é decidido nas quatro linhas, mas nas mesas onde são traçadas as estratégias de negócios.
Em termos de teoria marxista, tais processos correspondem exatamente à conhecida fase imperialista do capital, em que apenas um conjunto delimitado de empresas controla todo um setor produtivo. No torneio da CBF, a consequência inevitável é que este se torne um objeto para a disputa de poucos, tal como já ocorre nas sociedades econômica e futebolisticamente avançadas da Europa.
Claro, muitos, tomados por suas paixões, dirão que isso pode ser facilmente revertido com uma melhoria nos modelos de governança do esporte, e que, no final, as mudanças em curso são benéficas para tal objetivo. Mas não é essa justamente a ilusão própria do meritocratismo liberal? Nada como uma falsa caixinha de surpresas para perpetuar nosso vão engano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário