terça-feira, 12 de novembro de 2019

O exemplo boliviano, por Mauricio Braga

América Latina

O exemplo boliviano
Por Mauricio Braga

Mais um golpe de Estado na América Latina! A vítima da vez é a Bolívia, onde Evo Morales era o presidente desde 2006. Durante seu governo, Morales fez mudanças significativas no país, como a reforma agrária e a nacionalização de setores estratégicos, o que ocasionou estabilidade na economia e redução da extrema pobreza. Ademais, também houve uma mudança simbólica. De etnia uru-aimará, Morales foi o primeiro indígena a chegar à presidência da Bolívia.

Tendo em vista os dados positivos que o país apresentava, muitos acreditaram que a Bolívia era um exemplo bem-sucedido de revolução popular por vias democráticas. É o que defendia, por sinal, o vice-presidente Álvaro García Linera. Segundo este, no livro O que é uma revolução? (2018), uma revolução é um movimento pacífico, que só recorre à violência em circunstâncias excepcionais, isto é, quando forças contrarrevolucionárias bloqueiam o seu fluxo. Linera acreditava ainda, em  As Tensões Criativas da Revolução (2019), que havia derrotado definitivamente os opositores após sua chapa sair vitoriosa de um referendo em 2008 – momento que ele define como um ponto de bifurcação, em que doravante as tensões passaram a ser não mais entre dois projetos distintos, mas sim internas dentro de um mesmo.

No entanto, não vai haver poesia e nem vitória definitiva enquanto houver burguesia. Esta apenas muda de estratégia a cada derrota. No caso da Bolívia, a burguesia local, amargando sucessivas derrotas, se articulou com a burguesia internacional para romper com os processos institucionais. Não obstante, se o nosso lado associou democracia a pacifismo, e muitas vezes sequer discute formas de se defender, o outro lado não tem pudor em usar todos os mecanismos de violência quando não atinge seus objetivos.

É ingenuidade, portanto, acreditar que a burguesia respeitará as regras democráticas. A Bolívia entra, infelizmente, para a lista de exemplos que provam que a democracia liberal é uma farsa.  Sendo assim, a solução não é destruir as elites apenas nas urnas. Nem tampouco confiarmos nas instituições burguesas que, como tais, só servem à classe dominante. A luta pela emancipação não é uma festa, e a ruptura com a burguesia não se dá por pleito ou referendo. Voltemos então a Marx para reaprender o que esquecemos pelo caminho.

REFERÊNCIAS
LINERA, Álvaro García. O que é uma revolução? São Paulo: Expressão Popular, 2018.

LINERA, Álvaro García. As Tensões Criativas da Revolução: a quinta fase do processo de transformação. São Paulo: Expressão Popular, 2019.

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