terça-feira, 26 de novembro de 2019

Conto Lana, de Victor Leandro

Conto
Lana

Uma imagem de sonho. O tédio. Nada fazer inebriante nas vagas do tempo. As imagens correm em seu ritmo fugidio. De repente, para. Ouve a música. Vê o rosto movendo os lábios na TV. Está iluminado. Encontrou a panaceia humana. Não há mais outro sentido possível.
O som termina. Desliga, corre para o computador. Nunca levou tão a sério Video Games.

Mas de que maneira colocar isso como projeto bem-sucedido de vida? Não poderia apresentar-se como um mero fã estúpido. Era preciso gerar uma apresentação. Só se cria interesse com um talento. Para que ele servia? Para escrever, claro, Tom sabia escrever muito bem. Então seria isso. Um livro, um romance único, e lá estaria ela a sua frente. Claro, precisaria pensar no que dizer. Ou não diria nada, ficava esperando suas palavras e só então reagiria. Como comportar-se diante de um ser sobre-humano?
Concentre-se, Tom, concentre-se. É preciso atingir o primeiro objetivo. Sim, é um projeto muito bom. Dir-se-ia até que infalível, mesmo para os padrões da ficção. Mas óbvio, ele sabia, faltava originalidade em sua premissa.
-Na verdade, estou sendo o Gatsby.
-Gatsby? Que Gatsby?

Reuniu livros, juntou referências, cenários vintage. Poucos meses depois, estava lançada sua narrativa de sucesso. Os editores ficaram impressionados. Chegaram a ignorar o fato de que fosse um desconhecido. Estará nas livrarias em seis meses. Mas, e a tradução? E a tradução?
-É preciso ir com calma.
-Tenho pressa.
Não sabia quantos admiradores mais deveriam ter lhe oferecido poemas, livros, discos, receitas de bolo. Mas acreditava em seu talento. Mais um ano, dois no máximo, e alguma livraria de Nova York iria oferecer-lhe sua pérola. Tempo suficiente para ficar magro e deixar crescer ainda mais o cabelo.

Os dias correram e ele já alçava os primeiros passos para a fama. Graças a sua insistência, conseguira uma pequena tiragem para os leitores americanos, que, segundo relatos, havia sido bem recebida. Como a personagem do seu romance favorito, ele não pôde resistir à angústia de permanecer inerte. Pediu que encaminhassem diretamente a ela o texto, junto com uma carta intimista. Não havia mais por que esperar. Fizera tudo conforme o previsto. Será que ela o ignoraria por completo? Ou detestaria o livro? Difícil saber o que esperar dali por diante.
Do outro lado da sala o telefone toca. É um número desconhecido.


Autor: Victor Leandro

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