quinta-feira, 21 de novembro de 2019

O trabalho como centro, Por Victor Leandro

coluna Segunda Via

O trabalho como centro
Por Victor Leandro

Na sociedade da superprodução, o trabalho parece ter uma função cada vez mais secundarizada, o que se reflete na conduta dos jovens perante ele. Uma cada vez mais numerosa camada de pessoas têm procurado postergar ao máximo sua entrada no mundo produtivo, substituindo-a por outras atividades ou, até mesmo, optando pelo nada fazer. Obviamente, há que se considerar que a escassez de oferta de emprego dificulta em muito a inserção. No entanto, independentemente dessa realidade, fato é que ingressar no trabalho tem se tornado algo bem menos interessante para as gerações presentes.

Porém, antes que mentalidades fascistoides se animem, é melhor que guardem suas pedras. Argumentos pobres, que relacionam esse fenômeno à ausência de atributos morais, não possuem a menor relevância. Se o trabalho deixou de ser atrativo, isso em grande parte se deve sobretudo ao ideário direitista, que retira dele seu caráter de práxis - ou seja, de ação transformadora - e converte-o em puro meio para uma finalidade artificial, o lucro, do qual muitas vezes os trabalhadores reais não participam, ou a ascensão social, que nada mais é do que o direito de transitar obedientemente pelos opressores. Diante desse cenário, nada mais razoável do que repudiar o trabalho como um sacrifício desnecessário.

Mas isso não quer dizer que devamos desistir. O trabalho ainda é um dos meios centrais pelo qual podemos nos afirmar no mundo, bem como tornarmo-nos ativos e participantes do real que nos cerca. Também é o caminho principal de constituição de uma classe consciente e politizada. Logo, por mais que se tente torná-lo tão só um veículo de sobrevivência ou de ascensão burguesa, sua relevância jamais será reduzida a esses pobres desígnios.

Quando as forças opressoras retiram direitos e garantias trabalhistas, elas sabem muito bem ao que tencionam. somente mantendo o sujeitos precarizados é que se pode mantê-los em seu estado de ignorância e inércia submissa. Mas é contra isso que devemos nos insurgir, no que a retomada do significado do trabalho é fundamental. Essa é a única forma de termos jovens trabalhadores em luta. Esse é o único modo de podermos retomar o antigo e valioso projeto da Quinta Internacional.

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