Coluna Segunda Via
O filme da Arlequina vem aí. Daqui a pouco não vai sobrar nenhum vilão
Por Victor Leandro
Que emoção! Que emoção! Depois do Joker, está chegando a vez da Arlequina ganhar as telas. Promessa de mais um primor de performance de Margot Robbie, dessa vez como dona de seu próprio filme. O enredo? Ao que parece, este se encontra plenamente a seu favor. Uma verdadeira história de anti-heroína, disso não resta dúvida.
Certo, é uma narrativa necessária. Por muito tempo, os vilões das telas não passavam de pobres caricaturas, sem nenhuma riqueza ou complexidade. Mostrá-los em suas variações é algo que lhes acrescenta muito. Também é importante para os movimentos em voga que mulheres assumam cada vez mais o protagonismo em todos os âmbitos, principalmente em histórias escritas a partir de sua própria estética e visão de mundo. Por ora, não sei vai discutir por esse motivo.
O que é problemático aqui é o processo de assepsia moral por que têm passado as elaborações da indústria. Cada vez mais, elas avançam sobre as personagens visando construir um mundo de fantasia onde até mesmo os perversos precisam estar adequados ao ethos da moda, o que revela uma face assustada de nosso momento, marcada pelo medo do obscuro. Não temos sido mais capazes de olhar para o mal em toda sua força ou mesmo em sua capacidade atrativa, empenhando-nos em visualizá-lo apenas em nuances amenizadas e menos perigosas, como se este não fizesse mais parte da realidade e pudesse ser desviado pela tangente. Em termos de ficção, isso repercute na maneira como os vilões são tratados e expostos: ou eles são medíocres e desinteressantes, ou devem ser bons de alguma forma, de modo que o que se evita é justamente o fato, cada vez mais embaraçoso aos nossos olhos, de que uma perversidade grandiosa nos atrai como a vertigem para o fundo do abismo.
Em tempos antigos, os mitos cumpriam a função de mostrar a maldade que nos habita, e ninguém questionava que fossem estereotipados. Simplesmente, eles nos diziam aquilo que era acertado dizer sobre o que somos. Hoje, ou eles falam o que queremos, ou não encontrarão ouvidos. Eis o lema da indústria, para o qual os filmes de ex-vilões servem muito bem. Mas não importa isso. O que se deve é apenas refestelar-se com o esplendoroso espelho a brilhar na sala escura. Tudo é menos diante desses eflúvios grandiosos e sedutores. Que emoção! Que vazio.
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