segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O que interessa, Por Victor Leandro

Coluna Segunda Via

O que interessa
Por Victor Leandro

Há um didatismo interessante para se acompanhar no lamentável evento Bolsonaro. Nunca como antes se viu o quão importante é separar o necessário daquilo que não tem a menor importância. No emaranhado de bobagens e estultices geradas diariamente, discernir entre o que merece ou não ser debatido converteu-se num verdadeiro trabalho de arte, e que, como tal, precisa de um grande esforço para seu empreendimento.

A tentação em cair no prosaísmo bolsonariano é imensa. Quem não se sente instado a debater a hipótese absurda de que o desmatamento no Brasil tem causas meramente culturais? Ou a replicar o quão ridículo é dizer que os pobres não têm dinheiro porque não o guardam? Ou ainda a contestar a afirmação da ministra Damares de que as mulheres devem ser submissas por força da fé? Definitivamente, não é fácil não se sentir afetado por ameaças tão diretas à inteligência humana e a suas convicções mais razoáveis. No entanto, para que se possa realmente ultrapassar esse festival de horrores, é preciso resistir.

Mais uma vez, é preciso fazer um retorno ao real. É nele que se encontram as pautas a serem realmente enfrentadas. Somente produzindo frentes contra as ações materiais deletérias das políticas em vigor, é que será possível realmente caminhar para sua reversão, no que todo o resto não passa de um ruído incômodo a ser ignorado e subtraído de nossas problematizações.

Há quem diga que tais frases cheias de delírios são produtos de estratégias muito bem urdidas para distrair os opositores. Porém isso parece pouco provável. Por dentro desse desgoverno, não existe nenhuma face oculta. A ignorância é a sua grande virtude, e foi assim que ela marchou para o Planalto. De todo modo, ninguém pergunta aos loucos se pretendem dominar o mundo assumindo a figura de Napoleão. Se o fazem ou não, eis o que realmente interessa. Assim, basta que olhemos para o mundo e suas ações, e saberemos o que de fato realizam. Este é o nosso ponto de intervenção efetiva.

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