quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Literatura Engajada, Por Ângela Cláudia

Literatura

Literatura Engajada
Por Ângela Cláudia 

             A Literatura Engajada já existia e se manifestava antes mesmo de ser alvo de muitas discussões e debates acirrados no meio acadêmico, porém não com essa denominação específica. Digamos que esse termo surgiu bem definido no período conturbado do pós-guerra. Autores como Jean Paul Sartre e Lukcás teorizaram sobre um certo tipo de engajamento que buscamos abordar aqui. Desde a modernidade muitos escritores têm produzido Literatura Compromissada não somente com o estético ou com a Arte, mas também com os problemas sociais, com a exploração exacerbada do capitalismo, com a humanidade que está cada dia mais individualista e com situações de barbárie nas quais vivemos. O que os livros de História não mostram, a Literatura às vezes expõe e tira o leitor do estado de alienação ou no mínimo o leva  a reflexões. Mas a Literatura não ocupa o lugar da História nem pretende fazer isso, ela  não tem compromisso em narrar  e nem estudar os fatos históricos.
      A  Literatura Social, Literatura de Denúncia, Literatura Comprometida faz parte do Engajamento e é a muito praticada tanto em séculos passados quanto atualmente. Abordo aqui o conceito de Engajamento Literário como entende Denis: “literatura engajada seria a escrita de um autor que ‘faz política nos seus livros’” (2002, p. 09); e do filósofo  Jean-Paul Sartre (2004, p. 20 e 29) : “Falar é agir [...] a cada palavra que digo, engajo-me um pouco mais no mundo e, ao mesmo tempo, passo a emergir dele um pouco mais, já que o ultrapasso na direção do porvir [...] O escritor deve engajar-se inteiramente nas suas obras”.
       Vale lembrar, que os acontecimentos históricos e socias de cada época é que motivam alguns autores ao Engajamento e que nem todo tipo de Literatura que dê relevância aos problemas sociais seja, realmente, uma Literatura Engajada, pois, dessa maneira, a Literatura Engajada seria onipresente, mas diluída em todo e qualquer tipo de obra literária.      Existem autores que falam sobre o conflito entre a Arte e o realismo político. Eles expressam que o universo estético literário pode se tornar um veículo que convida o leitor a se envolver em um mundo de pensamentos sobre os problemas da sociedade: as guerras, as lutas das minorias, as desigualdades sociais etc. Esses escritores firmam esse compromisso com a vida deles e com os leitores.
        Um autor importante para o tipo de engajamento aqui apontado , é Lukács. Ele diz que a Literatura é Engajada quando está relacionada com o povo, com a luta de classes, com a vida coletiva na cidade, ou seja, com a política, defendendo assim um caráter popular de arte que se relaciona com a história dessa sociedade e também com uma teoria marxista da literatura.      Jean- Paul Sartre, em seu livro “Que é Literatura?” questionou o que a Literatura seria, para quem e porque ela se coloca na sociedade humana. Ele sentiu a necessidade de escrever esse livro, certamente devido às perspectivas e aos conteúdos  pelos quais se apresentava o mundo em 1947, ano de publicação , e pós-guerra.
        Foi nessa época, em que o comunismo foi falado pelo mundo afora, época de muitas discussões políticas e acirramentos ideológicos, de reconstrução de valores, do destaque dos EUA como potência mundial, da derrocada dos alemães, da incerteza sobre o futuro, que Sartre, como escritor e filósofo, refletiu sobre como a Literatura deveria ligar-se a sua realidade, e àquela situação histórica, e, também, como o texto literário poderia transformá-la e como o escritor deveria agir consigo mesmo e principalmente com o seu público.
       Conforme Sartre um escritor “conduz o leitor”. Quando ele descreve uma cena, qualquer que seja, pode mostrar nela o símbolo das injustiças sociais, da miséria, provocar nossas emoções, nossa indignação, cólera, ódio. “O escritor é um falador, designa, demonstra, ordena, recusa, interpela, suplica, insulta, persuade, insinua” (SARTRE, 2004, p. 18). Assim dizemos então que Sartre tinha a intensão de conduzir o leitor à reflexão sobre seu tempo.
         Quando Sartre afirma que o autor deve comprometer-se com os dilemas históricos de sua época , temos como exemplo o próprio romance sartreano  que não se preocupa apenas com a estética, mas os homens à sua volta: pretende ir na direção da realidade concreta (a história em seu movimento, em suas tramas). “Sartre, então, não é somente uma testemunha da história, mas, um sujeito histórico no sentido estrito da palavra, ou seja, não apenas vivencia sua historicidade, mas tenta nela intervir pela literatura” (TEODOSEO, 2011, p. 79).  
        O Brasil também passou por muitos períodos conturbados politicamente e socialmente e nesse sentido podemos citar alguns autores que escreveram como sujeitos históricos engajados por meio da Literatura. A exemplo temos Jorge Amado na  quando escreveu no autoexílio a biografia romanceada contando a vida do líder comunista Luiz Carlos Prestes em plena ditadura varguista do ESTADO NOVO. Temos Antonio Callado que publicou Assunção de Salviano, em 1954, um livro  escrito com um objetivo de colocar em destaque as injustiças sociais e o papel da Igreja Católica e do Partido Comunista. Lembramos também das publicações da Tetralogia da segunda decadência, do pernambucano Hermilo Borba Filho, com os romance Margem da lembrança, Porteira do mundo, Cavalo da noite e Deus no pasto, além dos livros de contos, entre eles O general está pintando. 
        Nessas obras, o autor, conta a história de Pernambuco e do Brasil do ponto de vista materialista, expondo a questão social por meio da formação das famílias. Aí, ele coloca-se como o narrador, chamando para si todas as consequências da narrativa.
         No romance Deus no pasto está em debate, mais ainda, a ditadura que comandou o país com mão de ferro entre 1964 e 1986, desde Castello Branco até João Batista Figueiredo. Lembrando que não se trata de uma reportagem ou de um documentário, mas de romances com todas as técnicas ficcionais.
         Poderíamos listar muitas outras prosas sob essa perspectiva sartreana mas precisamos estudar mais afundo até porque após Sartre muitos outros autores , literatos e filósofos analisaram obras e deixaram ainda mais acirrada a discussão sobre o papel da Literatura no Brasil e no mundo.

Referências Bibliográficas
Que é literatura? 3. ed. São Paulo: Ática, 2004

TEODOSEO, Danilo Linard. Engajamento literário e sentidos históricos na literatura existencialista de Jean-Paul Sartre 1938-1960. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Campina Grande. Campina Grande-PB, 2011.

http://rascunho.com.br/literatura-engajada-no-brasil/

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