Coluna Segunda Via
Escrever
Por Victor Leandro
Poucos gestos são tão fundamentalmente socialistas quanto o ato de escrever. Ainda que o texto esteja destinado à gaveta - o que certamente diminui em muito sua potência, mas não a extingue - ele permanece como um forma de coletivização de nossos mais profundos pensamentos, de um turbilhão de inquietações que nos tocam e nos convidam a transformá-lo numa matéria compartilhável. Escondido onde esteja, o texto estará lá, pronto para ser lido por aqueles que o encontrem.
E é somente quando encontra leitores que seu ciclo se completa. Sim, a escrita é uma singularidade, mas uma singularidade que se objetiva e se deve lançar no mundo, no qual passa a correr como uma maneira subjetiva de lidar com a concreticidade que nos cerca, e que depois será também parte da maneira de lidar de muitos outros. Assim, é no diálogo com o leitor que a obra se amplia e se oferece a infinitas compreensões.
No entanto, tal possibilidade aparece igualmente como um risco. Ao escrevermos, damos a público o nosso mais profundo segredo. O que farão os outros quando tiverem em mãos a nossa essência? Escrever é também estar em perigo.
Porém, ao contrário de nos afastar de expor o que produzimos isoladamente, essa questão deve se impor a nós como um desafio revolucionário. É só na ordem burguesa que a mesquinharia dos que julgam adquire ares inquisitórios. Logo, propagar um texto sem se importar com os censores é a maneira mais transgressora de romper com o patronato da produção estética e reflexiva. No mais, a arte e o pensamento só existem quando se convertem em um exercício de liberdade e comunalidade criadora.
Proletários de todo o mundo, escrevei!
Nenhum comentário:
Postar um comentário