segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Não é apenas sobre amor aos animais. É sobre a luta contra uma indústria exploratória, Por Anne Caroline

Ecossocialismo

Não é apenas sobre amor aos animais. É sobre a luta contra uma indústria exploratória 
Por Anne Caroline

Ante a reverberação dos debates acerca do consumo de carne e exploração animal, encontra-se sempre o questionamento do “por que?”. Por que deixar de consumir? Por que abdicar de algo que já está morto e se não for servido a você, servira a outra pessoa?  Ou mesmo irá parar no lixo, o que a frente carnista buscar dispor constantemente como argumento, acreditando, numa ingenuidade constrita, que a renuncia pela carne é apenas em favor da vida, e que a resistência se ergue apenas sob um hino de amor aos animais. Sem dúvida, essa é uma das premissas: ir além do especismo o qual somos induzidos desde tenra idade, como vem sendo há séculos. Talvez o primeiro passo para o “despertar” da causa esteja justamente em como enxergamos o outro, aquele outro que não tem voz, mas sente, e que a partir do momento em que buscamos ver a verdade, passamos a enxergar não apenas como um igual, mas como um diferente que não merece estar a mercê de uma exploração só por ser diferente. 
Como exemplo, muitos dos veganos com quem tive contato ao longo do tempo afirmam que o primeiro passo, e o que bastou para adentrar na causa, foi a pesquisa e consumo de documentários, tal como o famoso “Earthlings”, produzido por Shaun Monson, que mostra de maneira crua e direta a indústria da carne tal como ela: cruel e sem integridade alguma quando se trata dos animais (e mesmo de vida humanas, que para ela nada mais é do que mão de obra). O choque inicial desperta um dos sentimentos mais atinentes do ser humano (da qual deveríamos nos orgulhar mais do que a nossa “racionalidade”): a compaixão, seguida pelo talvez segundo mais atinente dos sentimentos humanos, a revolta. Mas o veganismo não se resume a uma luta com seus alicerces em uma base passional. Se a descoberta de um sentimento pelo outro é o ponto de partida, nisso não deve se encontrar todo o firmamento da causa, e quando questionados sobre o “por que”, a resposta não deve seguir apenas um simples “porque eu amo os animais.”. Não é uma luta sobre o amor, é uma luta contra a indústria, contra o capitalismo, pois lutar por uma causa sem reconhecer seu pior inimigo, é no mínimo, ingenuidade. 
Frente a tais reflexões, reconhecendo quem está do outro lado no campo de batalha, torna-se necessário alinhar ideias com quem está ao nosso lado nas trincheiras. Aquela mesma ingenuidade que põe em pauta a luta pela causa animal como uma luta sentimental é a que faz o mesmo ingênuo repetir que “veganismo não é politico.” Afirmação com viés de isenção e desonestidade.  Veganismo também é luta social, e o coletivo é politico. Visando então, uma resposta ao progresso destrutivo do capitalismo, como dito por Marx, ergue-se o socialismo aliado a uma alternativa socioeconômica que prioriza a necessidade do equilíbrio ecológico: o ecossocialismo. 
Em ciência de que a mesma mão invisível que está levando a humanidade a uma crise também está levando consigo todo o sistema ecológico a um colapso iminente, aliar ideais que corroboram para um bem comum de viés não-monetário e que não dê voz ao mercado (o mesmo mercado que mata aqueles por quem lutamos), é o que dispomos como estratégia. É a luz sobre a resposta que aqueles que ainda não entendem a causa devem ouvir, não apenas uma mensagem esperançosa sobre o amor animal, que também é contundente em nossa causa, mas, para além, uma resposta concisa e sem espaço para a ingenuidade: porque lutamos contra uma indústria assassina e exploratória, que não levará apenas a humanidade para o seu fim, em busca de um progresso insustentável, mas também levará aqueles que nem sequer puderam lutar por si.  Lutamos contra uma indústria moldada a sangue, escravidão, especismo e individualismo.

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