Educar em tempos de coach
Por Luana Aguiar
Atualmente, a expansão avassaladora do “coach” – a definição de tal ocupação ainda é uma incógnita - não é mais uma novidade. Vê-se na internet e na mídia, de modo geral, uma série de discursos motivadores (diga-se falaciosos) afim de encontrarem uma vítima desanimada, frágil, que irá comprar não só o discurso, mas um estilo de vida centrado na ideia de “eu quero, eu posso”, intrinsecamente meritocrático, além de interferirem de modo substancial na vida e saúde mental do indivíduo.
Além dos problemas relacionados à psicologia, é possível identificarmos o adentramento do “coach” – ou pelo menos o seu ideal – na área educacional: incontáveis reforços escolares e cursinhos pré-vestibulares. Esses ambientes de ensino estão ligados a uma concepção estritamente capitalista de educação e, novamente, meritocrática. Vamos à escola para fazer o aluno “aprender um conteúdo” que só o professor sabe; nós o treinamos para passar no vestibular – que parece ser o fim do aprendizado. Se a escola fez o aluno passar no vestibular, pronto, esta cumpriu o seu papel! Caso a escola não seja tão boa assim, os pais pagam um reforço ou cursinho para suprir a falha.
Para muitos, ser um professor de língua portuguesa bom é corrigir um aluno que “fala errado”, é manter uma postura de “respeito” (lê-se autoritária) em sala de aula, que sabe a gramática “de cabeça”. E quando um professor realmente formado e consciente de sua profissão procura explicar que não é bem assim, pois a língua é um fenômeno mutável e variável, onde não existe certo ou errado, mas variações; e que, principalmente, estudar língua portuguesa não se resume à gramática (mas tudo o que envolve a língua, como a literatura, os discursos e processos comunicativos), nunca são ouvidos. Parece que de nada valem as inúmeras leituras, planejamentos e
Assim, entende-se a escola como um espaço de alcance de médias e cumprimento de obrigações. Quando voltamos os olhares para os reforços, percebemos que, muitas vezes, o(a) professor(a) do local nunca pisou em um curso de licenciatura, mas embarca, sem experiência alguma, na área da educação – assim como o famigerado “coach”, ao fazer um curso de 20 horas, pensando estar capacitado, decide aplicar o seu método-coaching-ultra-quântico em alguém, sem ter qualquer qualificação, ou sequer sem saber a magnitude de suas ações. É terra de ninguém.
No entanto, ainda restam esperanças. Sempre há uma nova terra a ocupar.
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