segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A inquisição Damares na política de Pilatos, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via

A inquisição Damares na política de Pilatos
por Victor Leandro

Chegou a público a proposta da intitulada ministra Damares de inserir a campanha cristã fundamentalista Eu Escolhi Esperar no âmbito das políticas nacionais, sob o argumento de que tais ações poderiam atuar efetivamente no combate à gravidez precoce e à proliferação de DSTs.

De imediato, surgiram questionamentos das alas progressistas em vista do caráter opressivo e reacionário da medida. Em vez de informar a população, o desgoverno prefere simplesmente reprimi-la, num procedimento que parte do mesmo raciocínio que coloca mulheres nas ruas com burcas ou pune com chibatadas o consumo de álcool.

Mas, o que parece só mais uma medida simplista fundada na ignorância e obscurantismo, esconde uma lógica muito mais sutil, e que institui a ordem teocrática nas políticas nacionais do país. Ao afirmar que o incentivo à abstinência será oficializado, o que se diz ao mesmo tempo é que as instituições públicas se eximirão de oferecer toda e qualquer assistência àqueles que porventura venham a ser afetados por resultados danosos em vista de sua conduta, considerada pecaminosa e inaceitável pelos seus dirigentes. É como se estes lhes dissessem: “veja bem, fazer sexo sem a consagração do casamento é uma prática ignominiosa, assim, você deve arcar com as consequências de seu gesto, sem prejuízo para a gestão pública”. Logo, o Estado provedor do direito à saúde passa a ser o Estado punitivo e da expiação, tudo isso sob a égide da ordem religiosa. E dessa maneira morrem a cada dia mais pessoas na fila de espera dos hospitais públicos, maculadas e destruídas por seu crime e castigo.

E quem diria que a cristandade iria aliar-se no Brasil à política de Pilatos? Contudo, não é o caso de nos apressarmos em lançar pedras nos corpos dos que caminham com a cruz, pois, entre as frestas dos vitrais, entrevê-se a sombra irascível de Paulo Guedes, com seu culto sacrificial dos pobres ao Deus-Dinheiro. Contra este, é que devemos voltarmo-nos com todas as nossas forças, e, se tivermos que lavar as mãos, que seja então do sangue dos injustos. Amém. Ou que assim seja feito.

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