segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Os prêmios, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via

Os prêmios
por Victor Leandro

Para que serve um prêmio? Os seus maiores defensores dizem que vale como referência. Decidimos o que ver ou ler ou do que participar mediante uma opção laureada. A confirmar isso, este seria uma declaração de nossa menoridade. Como não sabemos escolher, esperamos quem o faça por nós. Isso vale também para os que concorrem. Como não estão certos de que o que produziram é bom, precisam que alguém venha ratificar isso a eles, numa declaração assumida de baixa estima.

Mas isso são idealismos. No mundo real, movido pelo componente econômico, todos estão certos de que os prêmios servem como vitrines dos produtos, para fins de comércio. Quanto mais premiado, mais pode vender. E assim se marcha na roda cada vez mais onipresente da indústria.

Contudo, não se pode ignorar os efeitos subjetivos destes, tanto para laureadores quanto para laureados. Do lado das figuras institucionais, como bem observou Thomas Bernhard, as distinções não se interessam nem um pouco por aqueles que são distinguidos. Quando uma academia premia, ela tenciona reverenciar sobretudo a si mesma, sendo o ganhador apenas um pretexto patético para esse exercício de autoexaltação.

E os premiados? Ah, são muitos os que acreditam que estes o tornam realmente querido, uma figura especial. Obnubilados com o próprio narcisismo, sequer desconfiam do papel quase iníquo que desempenham nessa comédia sarcástica. Claro, há os que os recusam, mas esses são ainda mais ridículos, pois acreditam que seu gesto possui mesmo algum sentido efetivo. Qualquer que seja a resposta, ela será sempre uma reação a algo que lhes está sendo imposto, a qual apenas potencializa o gesto que ao vencedor foi dirigido.

Para que um prêmio realmente exista, que faça algum sentido, o vencedor precisa ser muito maior que a honraria. Desse modo, ela estará apenas como um ornamento agradável, sem maiores desígnios. Mas quem pode resistir à sanha perversa dos aduladores? É muito difícil acreditar que não o tenhamos merecido mais do que todo mundo.

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