segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Precisamos mesmo de governantes?, Por Victor Leandro

Coluna Segunda Via

Precisamos mesmo de governantes?
Por Victor Leandro

A ideia do governante é diferente da ideia do líder. Este não necessariamente executa funções de governo. Seu papel é sobretudo servir de guia, de voz de comando, mas sem tomar sempre parte nas decisões mais pragmáticas. Numa sociedade verdadeiramente livre, tais deliberações cabem aos principais interessados, ou seja, o próprio povo.

Em nossas democracias representativas, as coisas não se dão dessa maneira. As noções de divisão do trabalho e de competência técnica encontram-se fortemente introjetadas em nossa cultura, a ponto de se considerar que somente os fortemente preparados estão aptos a atuar como dirigentes, cabendo aos demais apenas o direito de escolhê-los. Com isso, permanece em voga uma cisão que põe de um lado os que mandam e, do outro, aqueles que devem tão só esperar que as ordens atendam aos seus anseios.

Na esdrúxula política brasileira, ocorre um fenômeno digno de atenção. Desde a deposição de Dilma - que, independente dos juízos possíveis acerca de seu governo, inegavelmente cumpria as funções próprias de seu posto - o cargo presidencial segue sem ser ocupado verdadeiramente. Temer nada mais foi do que refém de sua sanha golpista. Já Bolsonaro, ele próprio admite que não governa. Guedes, ou melhor, a elite econômica internacional, é quem dá as cartas. Porém, isso não tem nenhuma implicação no trabalho cotidiano dentro da máquina pública. Esta segue por sua dinâmica própria.

Mas o que merece atenção mesmo não é a inépcia dos que deveriam governar, e sim a completa indiferença quanto a sua não participação. Na verdade, o caos só aparece quando estes resolvem sair de sua passividade e começam a querer dar ordens. Nessa hora, tudo se desarranja. No mais, não existe qualquer risco maior para as instituições.

Daí que vale fazermos a pergunta. Precisamos mesmo de governantes? O Marx politicamente mais radical foi partidário da autogestão. Está mais do que na hora das massas prepararem-se para dirigirem a si mesmas. Não é tarde ainda para arriscarmos esse novo rumo.

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