quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Conto A Atração, de Victor Leandro

Conto

A atração

Disseram que ficaria na cidade por menos de uma semana.

Sim, de início, houve resistência. Não queriam por lá uma figura desse tipo. Alguns mais exaltados chegaram mesmo a dizer que o impediriam. Porém, o dono da casa de espetáculos acalmou-os. Todos seriam alertados previamente dos riscos, e só os verdadeiramente preparados iriam ter com ele. Não podemos privar o povo de ver algo tão único. Os benefícios seriam muito maiores do que os prejuízos.

Nas ruas, os boatos corriam na forma de um frenesi. Era tudo verdade. Um monstro devorador de gente. Não, ele ficava a uma distância segura, porém os visitantes o achavam magnífico e não resistiam a tocar sua beleza. No final, ficavam dilacerados e irreconhecíveis, enquanto do fundo da jaula ouvia-se somente uma frase que, segundo dizem, teria sido retirada de um antigo poema místico.

-Quem é amado por mim, é destruído.

As sessões começaram. Um a um, homens e mulheres foram entrando na sala, para que depois fosse retirado apenas o que restou de seus corpos. As notícias se espalhavam, e os enterros se avolumaram nos cemitérios. No entanto, nada disso afastou os curiosos. Diziam que os mortos eram tolos em não conseguir resistir. Por fim, não houve mais espaços para novas sepulturas. Uma lástima.

-No ano que vem, não teremos esse problema. Estaremos preparados.

Firmado o acordo para seu retorno, o proprietário despediu-se do prefeito com um sorriso. Assegurava ter passado ali alguns de seus melhores dias. Pena não poder ficar mais. Há outros lugares que o mereciam receber também. Dito isso, apontou incontinenti para a estrada,  e a caravana partiu sem tardar mais um instante.

Autor: Victor Leandro

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