Conto
Estética da conversação
Vantagem do silêncio: economiza os delírios.
Não se pode ser nada sem eles.
Todos os dias, senta-se. ouve. As palavras correm. nunca é a sua voz. Não faz muita outra coisa. Observa. Por vezes, indica a direção de um pedido. São muitos os herméticos, os inquietos fechados, os que não dizem sendo os que mais querem dizer. Ele sabe, tem olhos para isso. Está atento ao caos do mundo.
-Eu não sei como podemos guardar tanta tristeza.
-Amanhã suicido-me.
Naquele fim de tarde, o barulho atrapalhava. Pouca escuta. os Falantes eram obrigados a gritar. Concerto de natal, que ideia horrível. Não sabem que estamos no meio de um colóquio importante? Não é a mesma coisa quando não estão aos sussurros.
Porque a voz baixa é sedutora, hipnótica, uma luz tranquila.
-Temos mesmo que ficar aqui?
Uma ideia é algo que se arremessa ao longe. Não vale para curtas distâncias. Nós temos a voz e o conceito. A Alegria só dura o tempo de uma manhã. Alguém pode dizer se no lugar que estamos, no miserável e bruto lugar que estamos, aqui, no lugar que estamos, este lugar pútrido onde a desgraça encontra repouso, se aqui, se aqui há quem nos ofereça um copo com água, uma única só ponta de brilho?
Olha o cardápio, não tem cogumelos.
Não é época para pardais indecisos.
A passada é bronca, gesto de garatuja.
O que temos, temos. Somente um amor a despontar-nos como o dia. Se iremos, se vagamos perdidos, isso são assuntos para as sessões metafísicas. Nós nos ergamo-nos e voltemo-nos contra as trevas cor de chuva.
Então é isso, uma passagem para um tal Obscuro.
-Eu ouvi, atentamente. Aqui vai sua resposta.
Autor: Victor Leandro
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