Balé de almas avulsas
Vi tecer no céu, como um balé de almas
Avulsas, milhões de pipas em chamas,
Lembrança encandecida de desejo.
Era a recordação mais viva em mim.
Daquele céu só restam as fumaças
Químicas, brancas, cinzas como o nada.
Cada linha hasteada era uma vida,
Cujo conjunto formava uma lira,
Melodia indefinida de destinos cegos.
Neste domingo, as ruas estão vazias,
Os tetos curados, e as ruas inférteis de esperança. E aqueles meninos descalços
Alguns estão mortos, enterrados em túmulos emprestados do cemitério Santa Helena. Outros tornaram-se máquinas exageradas de tédio. Ana, nua em qualquer motel. Carlos, morreu hoje, três tiros na cabeça. Eu? Sobrevivo a mais um dia imóvel.
Autor: Breno Lacerda
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