domingo, 5 de janeiro de 2020

Balé de Almas Avulsas, de Breno Lacerda

Domingueiras

Balé de almas avulsas

Vi tecer no céu, como um balé de almas 
Avulsas, milhões de pipas em chamas,
Lembrança encandecida de desejo.
Era a recordação mais viva em mim. 
Daquele céu só restam as fumaças 
Químicas, brancas, cinzas como o nada.
Cada linha hasteada era uma vida, 
Cujo conjunto formava uma lira, 
Melodia indefinida de destinos cegos.
Neste domingo, as ruas estão vazias, 
Os tetos curados, e as ruas inférteis de esperança. E aqueles meninos descalços
Alguns estão mortos, enterrados em túmulos emprestados do cemitério Santa Helena. Outros tornaram-se máquinas exageradas de tédio. Ana, nua em qualquer motel. Carlos, morreu hoje, três tiros na cabeça. Eu? Sobrevivo a mais um dia imóvel.

Autor: Breno Lacerda

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