Autoplágio
Por Victor Leandro
Escrevo sobre mim, sobre minhas ideias, o que é meu mundo. Porém não é só isso.
Houve ainda quem se surpreendeu. Leu e assustou-se por já ter me ouvido falar aquela história. Ou então confundiu-se. Você relata a si mesmo? É um autoficcionista? Eu não sei nada dessas coisas. Apenas conto e depois escrevo. Quem quiser que tente encontrar um caminho.
-Você não escreve, só se imita.
-Isso é algo para dizer a um escritor?
Certa vez, foi bastante curioso. Diria que o episódio mais estranho. Pensei em fazer a narrativa de um suicida. Enredo simples. Breve exposição de motivos, e o momento derradeiro. Confesso, ficou um tanto inverossímil. Quem pensa em matar-se com veneno para formigas? Eu errei. Quem escreve erra. Esse é o risco. Temos de estar prontos para o assumir.
Mas aí as pessoas foram aparecendo. Todos diziam “não faça”. Nessa hora, eu retrucava, afirmando ser apenas ficção. “Mas é você! É um narcisista! Só escreve para falar de si” Críticos perversos, os meus amigos. Pensando bem, não vale a pena passar por isso por um conto ruim. Mas vou escrevendo. É como não pode deixar de ser.
Então, eu me defendo. Nem parece tanto comigo. Que tenho eu a ver com assuntos de morte voluntária? Acaso já me viram tratar disso? Mas não adianta. Mesmo em casa, tive de enfrentar olhares invasivos, ansiando intensamente perguntar-me se estava tudo bem. Sim, está tudo bem, ou tudo mal como sempre, que é a forma em que me equilibro. Seria possível mudarmos de assunto?
Mas a verdade é que, de tanto falarem, estão próximos de convencer-me. Logo, aqui vai minha teoria. Eu me plagio. Copio de mim o que aqui está. Tenho um eu, que pensa primeiro, e um outro, uma máquina, que constrói a intriga. Mas não é sempre assim com todos? Não é dessa forma que foi edificado o mundo do texto?
-Desculpe, mas já não o compreendo.
-Certo, eu aceito. Passemos à próxima linha.
Belíssimo conto, parabéns!
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