sábado, 6 de junho de 2020

A esquerda brasileira, a ilusão e o oportunismo social-liberal, por Gabriel Henrique

Coluna Conjuntura Marxista

A esquerda brasileira, a ilusão e o oportunismo social-liberal.
por Gabriel Henrique

“A luta contra tais tendências é obrigatória para o partido do proletariado, que deve arrancar da burguesia os pequenos proprietários que ela engana e os milhões de trabalhadores cujas condições de vida são mais ou menos pequeno-burguesas”. (Lênin, Imperialismo, estágio superior do capitalismo, 2012, pag.30) 

A enorme crise do capitalismo no Brasil tem ressuscitado velhos defuntos, dentre eles um que, a bem da verdade, não chegou a ser, de fato, enterrado: o social-liberalismo. Estamos diante de um gravíssimo quadro de crise, onde é flagrante que a coalização burguesa no poder se movimenta em volta da agenda ultraliberal de Guedes para retomar suas taxas de lucro e garantir o êxito financeiro dos monopólios privados do imperialismo no Brasil sobre a base de uma crescente pauperização da força de trabalho e de uma massa cada vez maior de desempregados e miseráveis; mesmo diante desse quadro o social-liberalismo acredita ser possível um rearranjo na correlação de forças para retornar ao poder. 

Na verdade, diante da possibilidade, aberta pela crise capitalista, de um acirramento da luta de classes no Brasil, o social-liberalismo se configura como um excelente expediente para domesticar a luta de massas e a possibilidade de radicalização à esquerda, em direção ao socialismo. Não à toa, a Rede Globo- esse partido organizado da classe dominante em nosso país - tem atuado fortemente junto a outros setores da burguesia brasileira para defender a ordem democrática, a Constituição e o ordenamento jurídico vigente; ora, podemos dizer, sem sombra de dúvidas, que essa não é uma defesa inocente, ela é a defesa consciente da manutenção de um padrão de dominação de classe baseada na ilusão jurídica (proporcionada pelo direito burguês) e republicana de igualdade formal entre os homens – mesmo que, no terreno da luta de classes no Brasil, o Estado brasileiro esteja cada vez mais assumindo a forma autocrática de um “ultra” bonapartismo. 

Sendo assim, o tratamento dado pelos monopólios de mídia aos atos “antifa” como atos “em prol da democracia” tem o único objetivo de manipulá-los para mantê-los nos limites estreitos de defesa das carcomidas estruturas da velha República burguesa, como esses atos estão em visível disputa (e a adoção de um ar “professoral” diante deles não passa de esquerdismo tolo) setores da burguesia Brasileira já se movem com o objetivo de esvaziá-los de conteúdo concreto e de torna-los úteis à sua agenda de luta contra o Bolsonarismo e de pró-lavajatismo, cuja figura central é Sérgio Moro. 

É evidente, no entanto, que esse trabalho não seria exequível sem a presença e o trabalho de amplos setores sociais-liberais presentes na esquerda brasileira, cuja defesa abstrata da “democracia” no Brasil não se diferencia muito dos analistas da Globo News. Esses setores sociais-liberais atuam como verdadeiros bombeiros da nossa classe dominante, crentes da possibilidade de retornar ao poder – ou de pelo menos manter sua hegemonia no setores universitários e da pequena burguesia intelectual –  os sociais-liberais saem às ruas gritando por “democracia” – que não passa de uma defesa abstrata que significa a manutenção da miséria social brasileira-; contra o racismo – que para eles não aparece como um padrão de dominação de classe e que pode, simplesmente, ser remediado com políticas sociais compensatórias, com o “rigor” da lei e com “representatividade” em propagandas do Itaú e da Rede Globo; e contra o “fascismo” – no qual eles atuam para esvaziar o sentido e, ao mesmo tempo que fazem a defesa da democracia liberal como forma última e inexorável da humanidade, criminalizam o marxismo  o socialismo.  

O social-liberalismo atua para rebaixar a consciência das massas trabalhadoras e assim mantê-las domesticadas, atua para esvaziar a possibilidade de tornar os atos “antifa” um veículo concreto contra a agenda de Paulo Guedes, de torna-los mais abrangente com o diálogo com sindicatos, movimento sociais em geral, movimento de trabalhadores do campo, etc. A luta em torno da revogação da EC 95, pela revogação das reforma trabalhista e previdenciária, pela manutenção de um salário mínimo para todos os trabalhadores neste momento de grave crise sanitária, pela Revogação imediata da MP 927/2020, contra as vindouras Reformas Tributárias e Administrativas, contra a subserviência ao imperialismo e aos interesses nacionais etc., se perdem na abstrata luta por “democracia”. É claro que em um quadro de profunda regressão de consciência da ampla massa dos trabalhadores brasileiros – promovidas inclusive por esses setores social-liberais que chefiaram o executivo de 2003 a 2016 – a mera defesa abstrata da “democracia” e contra o “fascismo”, também de forma abstrata, só servirá para promover os atos como veículo dos interesses burgueses em luta contra o bolsonarismo; é preciso partir das necessidades mais imediatas dos trabalhadores a fim de lhes apontar qual o inimigo a ser confrontado, a fim de fazer os atos ganharem capilaridade e apoio público entre as massas trabalhadoras, é preciso impedir e confrontar a agenda neoliberal e anti-nacional de Guedes ao mesmo tempo que propomos soluções imediatas à classe trabalhadora brasileira, que vive uma situação de terra arrasada causada pela crise sanitária do Coronavírus (um verdadeiro genocídio promovido pela burguesia nacional) e pela crise capitalista. 

Evidentemente é impossível recusar a participação e o contato com estes setores sociais-liberais, visto que ainda detêm grande inserção nos sindicatos e organizações de trabalhadores em geral, uma atitude como essa seria uma grande irresponsabilidade e, como já dissemos, esquerdismo tolo. No entanto, no seio da luta política é inexorável que os comunistas não se furtem ao combate dessas concepções social-liberais e à influência que exercem no seio do movimento dos trabalhadores. Os social-liberais são verdadeiros versaillais que atuam contra o renascimento da luta dos trabalhadores no Brasil.

Em Manaus essa situação ganha interessante particularidade, diante da proximidade das eleições municipais eminentes figuras públicas se lançam em busca do almejado pote de ouro que é o legislativo municipal. Trabalham, então, para garantir sua base de eleitores e a possibilidade de vencer o pleito que se aproxima, são verdadeiros oportunistas guiados tão somente pelo cretinismo da vida eleitoral. Dado a conjuntura que circunscreve o município de Manaus e as correlações de forças dadas, nos parece que o mais correto – e necessário – seria uma frente ou bloco popular unificado de movimentos e sindicatos contra o Covid-19; tirar grupos pra arrecadar alimentos, dinheiro, máscaras, etc., para amenizar o sofrimento e a carestia na periferia manauara – o que também se mostraria um excelente expediente para se reaproximar da classe trabalhadora local, que vê os atos de rua que aqui ocorrem como procissões estranhas à sua vida cotidiana. 

O furacão que se aproxima e as formas mais autocráticas de dominação da burguesia no Brasil que vão tomando forma sob o “ultra” Bonapartismo de Bolsonaro irão pôr por terra todas essas ilusões; o acirramento da luta de classes e a crise capitalista tornaram o social-liberalismo um morto-vivo, que sonha com um passado que não pode mais retornar, sua única função atualmente é enganar e iludir os trabalhadores brasileiros, sua subsistência é, mormente, meramente conveniente à Burguesia brasileira.

Na atual conjuntura, enquanto não lutarmos contra esse oportunismo socia-liberal e a sua visão de mundo estaremos todos a ser guiados pelos interesses da burguesia brasileira em luta contra o Bolsonarismo; é indispensável se reaproximar dos trabalhadores por meio de ações e pautas mais concretas a fim de construir um verdadeiro bloco popular contra a agenda mortífera promovida pela burguesa brasileira contra a classe trabalhadora. 

A radicalização à esquerda com caráter marxista e socialista é o único caminho possível para os trabalhadores, o social-liberalismo tenta vetar essa possibilidade com a ilusão de que pode retornar a um passado quase que antedilivuano, os sujeitos que atuam por meio dessa ilusão, por fim, revestem-se de profundo oportunismo em suas ações, baseadas, como já dissemos, no mais profundo cretinismo eleitoreiro. Não haverá vitória para os trabalhadores brasileiros sem que o insepulto social-liberalismo seja liquidado e enterrado.

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