terça-feira, 16 de junho de 2020

A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE COVID-19, por Bárbara Batista




A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE COVID-19
por Bárbara Batista

Não é uma tarefa fácil falar sobre a violência contra a mulher, afinal, é um tema muito delicado e muitas de nós ao longo de nossas histórias, ao menos uma vez sofremos com esse mal que assola a nossa sociedade. O fato que ganhou repercussão recentemente foi o caso da jovem Kimberly Karen Mota, mais conhecida com a Miss Manicoré, que teve a sua vida ceifada por um homem que acreditava ser o dono de sua vida.

A violência doméstica existe desde os primórdios da humanidade, porém, buscarei abordar esse fato nos tempos da Modernidade Líquida, onde as relações humanas são efêmeras, onde emerge o individualismo, a incessante necessidade de dominar o mundo e todo mundo.

Iniciando um breve histórico sobre a violência contra a mulher, com as mudanças da Sociedade Feudal para a Sociedade Capitalista,  partindo da ideia de Marx, é compreendido que o trabalho é a relação entre o homem e a natureza, onde o trabalho se constitui como âmago do ser social. É a partir dessas mudanças que surgiram as condições para os homens se dividirem em classes sociais, deste modo, a repressão contra a mulher surgiu como uma forma de perpetuar a dominação, fundamentada na propriedade privada resultante dessa reconfiguração de sistema. A família se reestruturou, havendo as divisões de papéis e por sua vez, as relações humanas foram condicionadas pela produção. 

Seguindo essa premissa, esses comportamentos advêm da gênese da propriedade privada, onde o homem sente a necessidade de dominar tudo, incluindo as suas parceiras.

A violência contra a mulher não se restringe a raça, idade, classe social ou credo, ela se expressa nos mais variados ambientes e se materializa em diversos tipos de violência: a violência física, psicológica, sexual e moral. Fica o questionamento: Quantas de nós já passamos por esses tipos de violências e nem sequer percebemos?

Em tempos de COVID-19, várias mulheres estão subordinadas a esse cotidiano de violência, tendo suas vozes silenciadas diariamente em função do confinamento, pois seus parceiros sentem-se sobre o controle e com isso, sentem-se livres para agredi-las. Quantas mulheres estão apanhando, sendo estupradas e caluniadas nesse momento?

O lar, onde deveria ser um lugar seguro, se transforma no ambiente ideal para que a mulher (vítima) seja agredida, até o ponto de ter a sua vida ceifada por um homem que julga ser o dono de sua vida. 

Mesmo tendo legislações que buscam combater esse tipo de violência, infelizmente, não deixam de ser cometidas. Enquanto homens e mulheres estiverem inseridos em uma sociedade desigual, ocorrerá as formas de violências mais cruéis dentro de diversos lares. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), foram registrados 6.716 casos de janeiro a abril, as principais denúncias foram de injúria, lesão corporal e ameaças. 

A violência doméstica é uma crise mundial, segundo a ONU Mulheres, à medida que os países fazem os seus bloqueios, em todo o mundo houve um aumento em pedidos de ajuda e acolhimento em abrigos. Antes mesmo da existência do COVID-19, a violência doméstica já era uma das maiores violações dos direitos humanos, desse modo, o isolamento está submetendo várias mulheres espalhadas pelo mundo à violência sexual, violência física e a violência psicológica. Sem um lugar seguro, a quarentena expõe essa crise de violência doméstica.

A COVID-19 está expondo os inúmeros problemas existentes em nossa sociedade, está nos dando um choque de realidade e está nos testando de uma maneira nunca experimentada. Está sendo exposto que a nossa sociedade está doente, a violência que está surgindo agora é a característica sombria, porém, está surgindo um desafio aos nossos valores.

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