segunda-feira, 15 de junho de 2020

O tempo das dúvidas, por Fernando Monteiro

Crônica



O tempo das dúvidas
 por Fernando Monteiro

Há quem ouse negar, mas estamos em crise. Não é nada fácil aceitar essa premissa quando seus ideais que, talvez, nunca antes tivessem sido postos à prova, agora parecem não responder mais a nada. Há quem diga que é apenas uma tempestade. Esses, ainda convencidos de seus dogmas proto-religiosos, preferem negar o assalto da razão do que pôr à prova suas ideológicas fraseologias.

Quero deixar claro que não estou a recusar tudo que impera sob nossas cabeças, ainda tenho a crença de que estamos a vivenciar o tempo das dúvidas e que, mais cedo ou mais tarde, sairemos fortalecidos desse estrondoso temporal. Mas é que, não é nada fácil passarmos por um momento de reconstrução de nossas ideias, ainda mais quando patotas falaciosas de alguns ao nosso redor insistem em nos perseguir pelo simples motivo de nos colocarmos ao direito da dúvida.

Falo de ideias, claro. Mas também falo do real-vivido, das questões concretas que condicionam a nossa realidade. Antes de todo o alvoroço, milhares e milhares de sujeitados às problemáticas sociais já vivenciavam seus infernos pessoais, alguns desses sem ideais e que apenas buscavam e buscam uma maneira de reproduzir o seu precário modo de vida. Para esses, a crise é no cotidiano, dura e cruel, sem muitas opções para buscarem alento. 

Estamos em crise, não há como negar. A crise, como um fenômeno que se manifesta na totalidade dos processos estruturais da sociedade, é parte de nós. O tempo das dúvidas nos assalta, mas também nos reconstrói ao nos dar novos questionamentos e novas possibilidades aos impasses do cotidiano.

Talvez o que nos resta é apenas esperarmos a chegada do tempo das novas certezas, aquelas que nos farão confiante novamente diante de nossas vidas e que, logo após a sua estadia, o tempo das novas crises se farão presentes nos reconstruindo cotidianamente.

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