domingo, 21 de junho de 2020

Poema: Varal de domingo, de Jalna Gordiano



Varal de domingo
por Jalna Gordiano

Eu vou me esconder
Aqui, no quentinho das obrigações
Onde os ventos sopram forte
Mas eu sei de onde eles vem
Não há consideração com inimigos.
Olha só esse novo eu,
Que não tinha inimigos há pouco tempo.

Ou você está comigo, ou contra mim.
Chega de opções.

Depois de uma sequência de ganchos de direita
Fui afundada numa piscina de dejetos
Fedorentos de mesquinharia...
Acredite, talvez você até já saiba,
Nada fede mais do que a podridão de gente sonsa. 

Não há evolução da espécie humana
Apenas um emaranhado e redemoinhos
De dor.

Eu não sei bancar a carpideira
E sair gritando o meu choro aos cantos.
Ninguém gosta de ouvir cantos,
Apenas a dor alheia.
Não nasci para agradar os outros.

Eu vou me esconder debaixo da manta do silêncio
E torcer sem muita expectativa
Para que as coisas melhorem.

Eu vou retirar meu caderno empoeirado
Com anotações manchadas de chuvas tristes
E projetos inacabados.
Eu vou incendiar uma das minhas milhares de personas, preparar meu fuzil de frieza. 
Matarei a que mais gosto.

Não existe consideração com o outro
Quando não se consegue ver consideração com você mesmo.
Estava eu confortável
Com um adorno no peito, cheio de bons sentimentos.

Hoje
Eu pego esse bouquet inútil e jogo no lixo
Junto com minha esperança de bons presságios.

Aqui, debaixo do silêncio
Há paz para arquitetar vingança.
Há tempo, para desexistir.
Há força suficiente para tecer uma longa corda
Na qual enforcarei
Um a um
Meus inimigos empalhados
Num lindo varal
Secando sob um sol tímido
De três da tarde de um domingo invernal.

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