domingo, 21 de junho de 2020

Poema: Vozes silenciadas, de Breno Lacerda



Vozes silenciadas
por Breno Lacerda
A todos os brasileiros vítimas da covid-19.

Voltei a olhar para estas ruas hoje tão abatidas.
Observei-as de minha varanda, é o meu bairro. 
Agora repleto de casas fechadas pela ausência
Das vozes alegres. Hasteiam-se no ar, como em 
Tempos felizes, os pássaros de cetim, 
Que se inflamam com os raios de um sol cansado.
Não é o céu a marcar as horas, nem as nuvens fátuas
São areias da ampulheta temporal de nossa fragilidade.
Vive-se ao grito angustiante das ambulâncias,
Que cruzam essas ruas como sicários invencíveis. 
As casas estão caladas, mas também cinquenta 
mil vozes foram silenciadas. Só os gemidos concertam,
Ao som surdo do barro tocando o peito do caixão. 
Estamos a sucumbir, envoltos nos espinhos de nossas perdas.
Maltrapilhos na carne e nos panos dessa existência pobre, 
Enquanto os funestos nos assassinam sem os estrondos dos tiros.
Onde está a esperança?
Encontra-se aqui nos fios de minha garganta, guardados como lança,
Para fincar no peito do meu algoz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário